Vistantes

sábado, 17 de janeiro de 2015

Igreja – Muitos membros num só corpo Por: C.S. Lewis























Nenhum cristão e, mesmo, nenhum historiador podem aceitar o epigrama que define a religião como “aquilo que o homem faz com sua solidão”. Creio ter sido um dos irmãos Wesleys que disse não haver no Novo Testamento o menor indício de religião solitária. Somos proibidos de negligenciar nossas reuniões. O cristianismo já é institucional desde o mais antigo dos seus documentos. A igreja é a noiva de Cristo. Somos membros uns dos outros.

Em nossos dias, a noção de que a religião é assunto de caráter privado — ocupação particular dos momentos de lazer — é simultaneamente paradoxal, perigosa e natural. É paradoxal porque a exaltação do indivíduo no campo religioso surge numa era em que, em todos os outros campos, o coletivismo derrota impiedosamente o individualismo. Observo isso até numa universidade. Quando fui a Oxford pela primeira vez, a sociedade de estudantes era tipicamente formada por um grupo reduzido de homens que se conheciam intimamente e ouviam, reunidos numa pequena sala, a dissertação de um dos companheiros, debatendo seus problemas até uma ou duas da transformado numa platéia heterogênea de uma ou duas centenas de estudantes reunidos num amplo auditório, para ouvir uma palestra de algum visitante ilustre. Mesmo nos raros momentos em que o estudante moderno não participa das atividades gerais de seu grupo, poucas vezes o vemos num daqueles passeios solitários, ou em companhia de um único colega, os quais formaram a mente das gerações anteriores. Ele vive na multidão. Os comitês substituíram a amizade. E essa tendência não só existe dentro e fora da universidade, mas é, muitas vezes, aprovada. Há enxames de mestres-de-cerimônia, auto designados e intrometidos, que devotam a vida à destruição da solidão onde esta ainda exista. E a chamam “tirar os jovens da casca”, “despertá-los” ou “vencer a apatia deles”. Um Agostinho, um Vaughan, um Traherne ou um Wordsworth que viesse hoje ao mundo logo seria curado pelos dirigentes de alguma organização de jovens. E se existisse um bom lar, tal como o de Alcino e Arete na Odisséia, ou o dos Rostovs em Guerra e Paz, ou o de qualquer das famílias de Charlotte M. Yonge, ele seria acusado de burguês e contra ele se levantariam todos os engenhos destruidores. Mas, mesmo quando os planos falham e alguém é deixado numa solidão física, o rádio encarrega-se de tornar verdadeiras — ainda que num sentido diferente — as velhas palavras de Cipião: “nunca tão pouco só do que quando só”. Vivemos, de fato, num mundo sedento de solidão, silêncio, privacidade e, portanto, sedento de meditação e amizade verdadeira.

O fato de a religião ser relegada à solidão é, pois, na nossa época, um paradoxo. Mas é também perigoso por duas razões. Em primeiro lugar, quando o mundo moderno nos grita: “você pode ser religioso quando estiver só”, acrescenta num murmúrio: “mas eu me encarregarei de impedir que você fique só”. Fazer do cristianismo um assunto de caráter privado, ao mesmo tempo que se acaba com toda a intimidade, é o mesmo que relegá-lo ao fim do arco-íris ou do dia de São Nunca. Esse é um dos estratagemas do inimigo. Em segundo lugar, existe o perigo de que os verdadeiros cristãos, que sabem que o cristianismo não é um assunto meramente particular, reajam contra o erro, transpondo para a nossa vida espiritual o mesmo coletivismo que já conquistou nossa vida secular. Essa é a outra cilada do inimigo. Qual bom jogador de xadrez, está sempre procurando colocar-nos numa posição tal que só salvemos a torre com a perda do bispo. Para que não caiamos na armadilha, precisamos insistir que, embora a concepção de um cristianismo individual seja errada, trata-se de um erro profundamente natural e, de forma canhestra, tenta salvaguardar uma grande verdade. Por trás disso está a noção de que o coletivismo moderno é um insulto à natureza humana e de que Deus será nosso escudo e proteção contra esse mal, assim como dos outros males.

É um sentimento justo. Assim como a vida pessoal e privada situa-se num plano inferior ao da participação no corpo de Cristo, a vida coletiva também se situa num plano inferior ao da vida pessoal e privada e não possui valor, a não ser pelo serviço que presta. A comunidade secular, uma vez que existe para o nosso bem natural e não sobrenatural, não tem finalidades maiores do que auxiliar e proteger a família, a amizade e a solidão. Estar feliz em casa, disse Johnson, é o objetivo de todo o esforço humano. Se considerarmos apenas os valores naturais, podemos dizer que nada há melhor debaixo do sol do que uma família que ri à volta da mesa, dois amigos que conversam bebendo café ou um homem só, lendo um livro que lhe interesse; e que toda a economia, a política, o direito, o exército e as instituições, salvo à medida que contribuem para prolongar e multiplicar tais cenas, são como um arado na areia ou uma sementeira no oceano, uma vaidade sem sentido e uma afronta para o espírito. As atividades coletivas são, evidentemente, necessárias; mas é aquele o seu objetivo. Aqueles que possuem essa felicidade particular talvez sejam obrigados a sacrificar grande parte dela, para que possa ser distribuída mais amplamente. É possível que todos tenham de comer menos para que ninguém morra de fome. Mas não confundamos males necessários com bem. É fácil cometer esse erro. Para ser transportada, a fruta deve ser enlatada, perdendo, por conseqüência, parte das suas propriedades. Mas há gente que acaba por preferir a fruta enlatada à fruta fresca. Uma sociedade doente precisa pensar muito em política, como um enfermo é obrigado a preocupar-se com a digestão; desprezar o assunto pode ser uma covardia fatal para ambos. Mas se ambos passarem a considerar que esses são o alimento natural da mente — se esquecerem que essas preocupações só se justificam porque lhes permitem pensar em outras coisas — então o tratamento a que se submetem por amor à saúde transforma-se em nova enfermidade mortal.

Existe, com efeito, em todas as atividades humanas, uma tendência fatal de os meios usurparem os próprios fins que eles se destinam a servir. Assim o dinheiro acaba atrapalhando a troca de mercadorias, as regras de arte asfixiam os gênios e os exames impedem os jovens de tornar-se doutos. Não se conclui, infelizmente, que os meios usurpadores sejam sempre dispensáveis. É provável que o coletivismo de nossa vida seja necessário e venha a aumentar; e creio que a única salvaguarda contra suas propriedades mortais está na vida cristã; porque temos a promessa de que podemos lidar com serpentes e beber veneno, e resistir. É essa a verdade que está por trás da definição errônea de religião com que começamos. Errônea porque opõe a mera solidão ao coletivismo. O cristão é chamado não ao individualismo, mas à participação no corpo de Cristo. A distinção entre a coletividade secular e o corpo de Cristo é, portanto, o primeiro passo para compreender como o cristianismo, sem ser individualista, pode neutralizar o coletivismo.

Logo no início, somos bloqueados por uma dificuldade de caráter linguístico. A própria palavra membership de origem cristã, foi adotada pelo mundo e esvaziada de seu sentido. Em qualquer tratado de lógica aparece a expressão “membros de uma classe”. Deve-se afirmar enfaticamente que os elementos que se incluem numa classe homogênea são quase a antítese daquilo a que Paulo chamou membros. Com membros — mele (mele) — queria dizer o que chamaríamos de órgãos, coisas essencialmente diferentes e complementares entre si: elementos que não diferem apenas na estrutura e na função, mas também na dignidade. Assim, num clube, tanto o comitê no todo, como os funcionários no todo podem ser devidamente considerados “membros”: aquilo que chamaríamos de membros do clube são meras unidades. Uma fileira de soldados identicamente treinados e uniformizados ou um grupo de cidadãos que se inscreveram para votar numa zona eleitoral não são membros no sentido paulino do termo. Temo que, quando afirmamos ser alguém “membro da igreja”, geralmente o significado não seja nem um pouco paulino: significa que é apenas um elemento — mais um espécime da classe a que pertencem X, Y e Z. A estrutura familiar fornece-nos um exemplo da diferença que existe entre a verdadeira participação num corpo e a mera inclusão numa coletividade. O avô, os pais, o filho adulto, a criança, o cão e o gato são verdadeiros membros da família (no sentido orgânico) precisamente porque não são membros ou elementos de uma classe homogênea. Não são intercambiáveis. Cada pessoa é quase um espécime único. A mãe não é apenas uma pessoa diferente da filha, é outra espécie de pessoa. O irmão adulto não é mera unidade entre os filhos, é um estado separado do reino. O pai e o avô são quase tão diferentes entre si como o cão e o gato. Quem exclui um membro da família não está simplesmente reduzindo o tamanho dela: está ferindo sua própria estrutura. Sua unidade é uma unidade de dessemelhantes, quase de incomensuráveis.

É a longínqua percepção da riqueza inerente a essa espécie de unidade que nos faz apreciar livros como The Wind In the Willows; um trio como o Rato, a Toupeira e o Texugo simboliza pessoas profundamente diferentes naquela união harmoniosa, que intuímos ser o nosso verdadeiro refúgio, tanto da solidão como da coletividade. A afeição entre pessoas que dificilmente poderiam formar pares perfeitos, tais como Dick Swiveller e a marquesa ou o Sr. Pickwick e Sam Weller, impressiona-nos da mesma maneira. É por isso que a ideia atual de que os filhos devem tratar os pais pelo nome é tão perversa. Pois é uma tentativa de desconsiderar a diferença de espécies que forma a verdadeira unidade orgânica. Estão tentando incutir na criança o ponto de vista absurdo de que a sua mãe é uma simples cidadã como outra qualquer; e isso para torná-la ignorante do que todos sabem e insensível ao que todos sentem. Estão tentando arrastar as repetições descaracterizantes da coletividade para dentro do mundo familiar, mais rico e mais concreto.

O preso ostenta um número no lugar do nome. É o coletivismo levado ao extremo. Mas o homem que vive em sua casa também pode perder o nome, sendo chamado simplesmente de “pai”. É a participação num corpo. Os dois casos de perda do nome fazem-nos lembrar que há dois caminhos opostos para sair do isolamento.

A sociedade à qual o cristão é chamado no batismo não é uma coletividade, mas um corpo. É o corpo do qual a família é a imagem no nível natural. Alguém que se integrasse nesse corpo com a ideia falsa de que seria membro da igreja no sentido moderno, esvaziado — um aglomerado de pessoas, como se fossem moedas ou fichas — seria corrigido já na entrada, ao descobrir que o Cabeça desse corpo é tão diferente dos membros inferiores, que estes nada têm em comum com aquele, salvo por analogia. Somos chamados, logo de princípio, a associar-nos como criaturas ao Criador; como mortais ao Imortal; como pecadores redimidos ao Redentor sem pecado. Sua presença, a interação entre ele e nós, sempre deve constituir o maior fator dominante da nossa vida dentro do corpo; excluindo qualquer concepção de comunhão cristã que não signifique, em primeiro lugar, comunhão com ele. Depois disso parece quase desnecessário enunciar a diversidade de operações que se verificam na unidade do Espírito. Mas ela é patente: há pastores separados dos leigos, catecúmenos separados de membros plenos. Existe a autoridade do marido sobre a mulher, dos pais sobre os filhos. Sob as formas muito sutis para receber caráter oficial, verifica-se um intercâmbio contínuo de ministérios complementares. Todos vivemos ensinando e aprendendo, perdoando e sendo perdoados, representando Cristo para o homem quando por ele intercedemos e representando o homem para Cristo quando outros intercedem por nós. O sacrifício de nossa intimidade egoísta, exigido diariamente de nós, é compensado diariamente, cem vezes, no crescimento pessoal que a vida do corpo estimula. Os que são membros uns dos outros tornam-se tão diferentes quanto a mão o é do ouvido. É por isso que os filhos do mundo têm uma semelhança tão monótona, se comparados com a quase fantástica variedade dos santos. A obediência é o caminho da liberdade, a humildade, o caminho do prazer e a unidade, o caminho que conduz à personalidade.

E agora preciso dizer o que lhe pode parecer um paradoxo. Ouvimos dizer muitas vezes que, embora ocupemos posições diferentes neste mundo, todos somos iguais aos olhos de Deus. De certo modo é assim. Deus não faz acepção de pessoas: o amor que ele nos tem não se mede pela nossa posição social ou pela nossa capacidade intelectual. Mas creio haver um sentido em que essa máxima é oposta à verdade. Aventuro-me a dizer que uma igualdade artificial é necessária na vida de um Estado, mas que na igreja tiramos essa máscara, recuperamos nossas verdadeiras desigualdades e somos, dessa forma, renovados e revitalizados.

Creio na igualdade política. Mas é possível ser democrata por dois motivos opostos. Você pode pensar que todos os homens são tão bons que merecem participar do governo, e tão sábios, que a comunidade necessita de seus conselhos. Em minha opinião, essa é a falsa e romântica doutrina da democracia. Por outro lado, você pode acreditar que os homens caídos são tão perversos, que nenhum deles pode receber poder desmedido sobre seus companheiros.

Parece-me ser essa a verdadeira base da democracia. Não acredito que Deus tenha criado um mundo igualitário. Creio que a autoridade do pai sobre o filho, do marido sobre a mulher, do culto sobre o inculto integram-se no plano original de Deus da mesma maneira que a autoridade do homem sobre o mundo animal. Creio que, se não tivéssemos caído, Filmer teria razão, e a monarquia patriarcal seria a única forma legítima de governo. Mas, uma vez que tomamos conhecimento do pecado, descobrimos, como diz Lorde Acton, que “todo poder corrompe, e o poder absoluto corrompe absolutamente”. O único remédio é substituir os poderes por uma ficção legal de igualdade. É correto que a autoridade do pai e do marido tenha sido abolida no plano legal, não porque essa autoridade seja em si má (sustento, pelo contrário, que é de origem divina), mas porque os pais e os maridos são maus. É correto que a teocracia tenha sido abolida, não porque seja mau que sacerdotes cultos governem leigos ignorantes, mas porque os sacerdotes são maus como todos nós. A própria autoridade do homem sobre o animal tem de ser refreada dados os constantes abusos.

Para mim, a igualdade equivale às roupas. É o resultado da queda e o seu remédio. Qualquer tentativa de reverter o caminho que nos conduziu ao igualitarismo e reinstalar as velhas autoridades no plano político é, para mim, tão absurda quanto tirar a roupa. O nazista e o nudista cometem o mesmo erro. Mas é o corpo nu, ainda ali, sob a roupa que vestimos, que vive de fato. É o mundo hierárquico, ainda vivo e (muito justamente) escondido sob a fachada de cidadania igualitária, que realmente nos interessa.

Não me entenda mal. Não tenho a mínima intenção de diminuir o valor dessa ficção igualitária, que é nossa única defesa contra a crueldade uns dos outros. Condenaria fortemente qualquer medida para abolir o sufrágio universal ou o direito das mulheres. Mas a função da igualdade é puramente protetora. É remédio, não alimento. Tratando as pessoas (num judicioso desafio aos fatos observados) como se fossem todas iguais, evitamos inúmeros males. Mas não é disso que devemos viver. É inútil dizer que os homens possuem um mesmo valor. Se atribuímos à palavra valor o sentido que o mundo lhe dá — se entendemos que os homens são igualmente úteis, belos, bons ou divertidos — a declaração é absurda. Se significa que todos possuem o mesmo valor como almas imortais, oculta-se um erro perigoso. O valor infinito de cada alma humana não é doutrina cristã. Deus não morreu pelos homens por algum valor que neles houvesse. O valor de cada alma humana, considerada de per si, independentemente de Deus, é zero. Como escreve Paulo, morrer por homens bons seria um ato puramente heroico, não divino; mas Deus morreu por homens pecadores. Ele amou-nos, não porque éramos dignos do seu amor, mas porque ele é amor. Pode ser que ele ame a todos igualmente — com certeza, ele amou a todos até a morte — e eu não sei direito o significado da expressão. Se existe igualdade, está no seu amor, não em nós.

Igualdade é um termo quantitativo e, por conseguinte, muitas vezes não tem relação alguma com o amor. A autoridade exercida com humildade e a obediência aceita com alegria são as diretrizes pelas quais vive o nosso espírito. Mesmo no campo dos sentimentos (quanto mais no corpo de Cristo) ficamos longe do mundo que diz: “sou tão bom quanto você”. É como sair da marcha e entrar na dança. É como tirar a roupa. Tornamo-nos, como dizia Chesterton, maiores quando nos curvamos e menores quando ensinamos. Deleitam-me aqueles momentos nos cultos de minha igreja, em que o ministro levanta-se e eu ajoelho. À medida que a democracia se fortifica no mundo exterior e sucessivamente se eliminam as oportunidades de mostrar reverência, tornam-se mais e mais necessários o refrigério, a purificação e o revigorante regresso à desigualdade, oferecidos pela igreja.

Assim, a vida cristã defende a pessoa em detrimento da coletividade; sem colocá-la em isolamento, mas dando-lhe a posição de um órgão do corpo de Cristo. Como se diz em Apocalipse, o cristão é feito “coluna no santuário de Deus”; e acrescenta-se: que daí jamais sairá”. Essas palavras apresentam um outro aspecto da questão. A posição estrutural que o mais humilde dos cristãos ocupa na igreja é eterna e mesmo cósmica. A igreja sobreviverá ao universo; nela, o indivíduo sobreviverá ao universo. Tudo que se liga ao Cabeça imortal participará de sua imortalidade. Pouco se fala disso nos púlpitos cristãos dos nossos dias. O resultado do nosso silêncio pode ser avaliado pelo fato de um dos meus ouvintes, numa preleção às forças armadas, ter considerado essa doutrina “teosófica”. Se não cremos nela, vamos ser honestos e relegar a fé cristã aos museus. Mas se cremos, vamos deixar de fingir que ela não faz diferença. Porque essa é a verdadeira resposta a toda exigência excessiva da coletividade. Ela é mortal; nós viveremos para sempre. Tempo virá em que todas as culturas, todas as instituições, todas as nações, a espécie humana e toda a vida biológica se extinguirão, mas cada um de nós permanecerá vivo. A imortalidade é prometida a nós, não a essas generalidades. Não foi pelas sociedades ou pelos estados que Cristo morreu, mas pelos homens. Nesse sentido, pode parecer aos coletivistas seculares que o cristianismo envolve uma afirmação quase desvairada da individualidade. Mas não será o indivíduo como tal que participará da vitória de Cristo sobre a morte. Participaremos dessa vitória estando no Vencedor. A renúncia ou, na linguagem forte das Escrituras, a crucificação do eu é o passaporte para a vida eterna. Nada que não morreu ressuscitará. É assim que o cristianismo resolve a antítese entre individualismo e coletivismo. Aí está, para o observador não-cristão, a ambiguidade enlouquecedora da nossa fé. Ela opõe-se implacavelmente ao nosso individualismo natural; por outro lado, restitui aos que abandonam o individualismo a posse eterna de sua personalidade e até de seus corpos. Como meras entidades biológicas, cada uma com a sua própria vontade de viver e de se expandir, somos, sabidamente, insignificantes; somos nulidades. Mas como órgãos do corpo de Cristo, como pedras e colunas do templo, temos a certeza de uma identidade eterna e viveremos para lembrar-nos das A questão pode ser apresentada de outro modo. A personalidade é eterna e inviolável. Mas a personalidade não é o dado de onde partimos. O individualismo com que todos começamos é apenas uma caricatura ou uma sombra dela. A verdadeira personalidade situa-se no futuro — quão distante, para muitos de nós, nem ouso dizer. E a chave dela não está em nós. Não será atingida por um desenvolvimento de dentro para fora. Virá ter conosco quando ocuparmos aquele lugar da estrutura do cosmo para o qual fomos destinados ou criados. Como a cor, que só se revela em toda sua beleza quando colocada pela excelência do artista no lugar preestabelecido, entre todas as outras; como a especiaria que só revela seu verdadeiro sabor quando adicionada, onde e quando deseja o bom cozinheiro, aos outros ingredientes; como o cão que só manifesta realmente suas qualidades quando toma seu lugar na família do homem, nós também só ganharemos a nossa verdadeira personalidade quando consentirmos em que Deus nos coloque no lugar que nos compete. Somos mármore esperando ser esculpido, metal esperando ser vertido no molde. É certo que mesmo no ser irregenerado existem já leves indícios da forma que cada um há de tomar, da coluna que cada um há de ser. Mas parece-me grande exagero retratar a salvação de uma alma como se fosse, de modo geral, totalmente igual ao desenvolvimento de uma semente até se transformar em flor. As próprias palavras arrependimento, regeneração, novo homem sugerem algo muito diferente. É possível que certas tendências do homem natural tenham de ser simplesmente rejeitadas. Nosso Senhor fala de olhos arrancados e mãos cortadas — método de adaptação francamente procustiano.

Recuamos diante disso porque, em nossos dias, começamos a pôr toda essa figura de cabeça para baixo. Partindo do princípio de que cada individualidade é de “infinito valor”, confundimos Deus com uma espécie de agência de emprego cuja função seria encontrar a carreira adequada para cada alma, a luva certa para cada mão. Mas o valor do indivíduo não está nele. Ele pode receber valor. Ele o recebe pela união com Cristo. Não se trata de encontrar, no templo vivo, um lugar que ponha em relevo o seu valor inerente e lhe dê espaço para as idiossincrasias naturais. O lugar já existia. O homem foi criado para ele. O homem não será ele mesmo enquanto não o preencher. Só no céu seremos pessoas autênticas, eternas e realmente divinas exatamente como, mesmo hoje, nosso corpo só é colorido quando há luz.

Dizer isso é repetir o que todos aqui já admitem — que somos salvos pela graça, que em nós não habita bem algum, que somos, de ponta a ponta, criaturas e não criadores, seres derivados que não vivem por si próprios, mas por meio de Cristo. Se parece que compliquei uma questão simples, espero ser perdoado. Eu estava preocupado em apresentar dois pontos. Queria tentar denunciar esse culto anticristão do indivíduo, tão predominante no pensamento moderno, juntamente com o coletivismo; porque um erro gera o erro oposto e, longe de se neutralizarem, agravam-se mutuamente. Refiro-me à execrável ideia (comum na crítica literária) de que em cada um de nós existe, oculto, um tesouro chamado personalidade e que expandi-lo, expressá-lo, preservá-lo de influências, ser enfim “original” é o grande objetivo da vida. É um conceito pelagiano, ou pior, autodestrutivo. O homem que valoriza a originalidade jamais será original. Mas tente dizer a verdade tal como você a vê, tente trabalhar com perfeição por amor ao trabalho, e aquilo que os homens chamam de originalidade surgirá espontaneamente. Mesmo nesse nível, a submissão do indivíduo à função é já o início de um processo que revelará a verdadeira personalidade. Em segundo lugar, queria mostrar que, afinal, nem os indivíduos, nem as comunidades interessam ao cristianismo. Nem um indivíduo, nem a comunidade, tal como vulgarmente se entendem, poderão herdar a vida eterna: nem o homem natural, nem as sociedades, mas a nova criatura.

Fonte: Peso de Glória – C.S. Lewis – Editora Vida Nova.

A Segunda Vinda Jesus Cristo retornará a terra em Glória. Por: J. I. PACKER



"MAS, irmãos, acerca dos tempos e das estações, não necessitais de que se vos escreva; Porque vós mesmos sabeis muito bem que o dia do Senhor virá como o ladrão de noite; Pois que, quando disserem: Há paz e segurança, então lhes sobrevirá repentina destruição, como as dores de parto àquela que está grávida, e de modo nenhum escaparão. Mas vós, irmãos, já não estais em trevas, para que aquele dia vos surpreenda como um ladrão; " 1 Ts 5.1-4









O Novo testamento anuncia repetidamente que Jesus Cristo voltará algum dia. Essa será sua "visita real", seu 'aparecimento" e "vinda" (grego: parousia ). Cristo voltará a este mundo em glória. O segundo advento do Salvador será pessoal e físico (Mt 24.44;At 1.11; Cl 3.4; 2 Tm 4.8; Hb 9.28), visível e triunfante (Mc 8.38; 2 Ts 1.10; Ap 1.7). Jesus vem para encerrar a história, levantar os mortos e julgar o mundo (Jo 5.28,29), conceder aos filhos de Deus sua glória final (Rm 8.17,18; Cl 3.4), e introduzi-los em um universo reconstruído (Rm 8.19-21; 2 Pe 3.10-13). Sua execução desta agenda será a última fase e triunfo final de seu reino mediatário. Uma vez que essas coisas se cumpram, a aplicação da redenção contra a oposição satânica, que era a obra específica do reino, terminará. Quando Paulo diz que Cristo então "entregará o reino" e se tornará sujeito ao Pai (1 Co 15.24-28), ele não está insinuando qualquer diminuição da honra subseqüente de Cristo, mas está significando o completamento do plano para trazer os eleitos ao céu que o Filho ressurreto foi entronizado para realizar. Os eleitos em glória, purificados e aperfeiçoados, honrarão para sempre o Cordeiro como aquele que foi capaz de abrir o livro do plano de Deus para cumprimento e aplicação da redenção na história, e fazer acontecer o que estava planejado (Ap 5). Na nova Jerusalém, Deus e o Cordeiro estão entronizados e reinam juntos para sempre (Ap 22.1,3)). Mas este reinado é a crescente conexão servo-Senhor entre Deus e os justos que se segue à era do reino mediatário, e não a continuação daquele reino como sul. 

Em 1 tessolonicenses 4.16,17, Paulo ensina que a vinda de Cristo terá a forma de um descida desde o céu, anunciado por um ressôo de trombeta, um clamor , e a voz do arcanjo. Os que morreram em Cristo já terão sido levantados e estarão com Ele, e todos os cristãos na terra serão "arrebatados" (isto é, levados às nuvens para o encontro com Cristo no espaço), para que possam em seguida retornar à terra com Ele, como parte de sua escolta triunfante. A idéia de que o arrebatamento os leva para fora deste mundo por um período antes de Cristo aparecer uma terceira vez para uma "segunda vinda" tem sido amplamente defendida, mas falta-lhe apoio escriturístico.

Embora alguns dos detalhes dados por Paulo tenham significação simbólica (a trombeta, como um clarim militar, chama a atenção para a atividade de Deus, Êx 19.16,19; Is 27.13; Mt 24.31. 1 Co 15.52; a nuvens significa a presença ativa de Deus, Êx 19.9,16; Dn 7.13; Mt 24.30; Ap 1.7), ele parece estar falando literalmente, e o fato de o que ele descreve estar além de nosso poder de imaginação não nos deve impedir de tomar sua palavras no sentido de que isso será assim.

O Novo Testamento especifica muito do que sucederá entre as duas vindas de Cristo, mas, afora q queda de Jerusalém em 70d.C. (Lc 21.20,24), as predições sugerem processo e não eventos isolados identificáveis, e não revelam sequer uma data aproximada do reaparecimento de Jesus. O mundo gentio será chamado à fé (Mt 24.14); os judeus serão trazidos ao reino (Rm 11.25-29, uma passagem que pode ou não antecipar uma conversão nacional); haverá falsos profetas e falsos Cristo ou anticristos (Mt 24.5,24; 1 Jo 2.18,22; 4.3). Haverá apostasia da fé e tribulação para os fiéis (2 Ts 2.3; 1 Tm 4.1; 2 Tm 3.1-5; Ap 7.13,14; cf. 3.10). Um "homem da iniqüidade", aparentemente não identificável, acerca do qual Paulo havia falado aos tessaçocicenses em um ensino oral que não possuímos (2 Ts 2.5), devia ou deve aparecer (2 Ts 2.3-12). Se o período de mil anos de Apocalipse 20.1-10 é realmente a história do mundo entre as duas vindas de Cristo, haverá uma último e apical luta de poder de alguma forma entre as forças anticristãs do mundo e o povo de Deus (vv 7-9). Nenhuma data, contudo, pode ser inferida desses dados; o tempo do retorno de Jesus permanece completamente desconhecido.

A volta de Cristo terá o mesmo significado para os cristãos que estiverem vivos quando acontecer como a morte tem para os cristãos que morrem antes de acontecer: será o fim da vida neste mundo e o início da vida naquilo que tem sido retratado como "um ambiente desconhecido com habitantes bem conhecido" (cf. Jo 14.2,3). Cristo ensina (Mt 24.36-51) que será um trágico desastre se a parousia encontrar alguém despreparado. Em vez disso, a idéia do que virá deve estar constantemente em nossas mentes, incentivando-nos em nosso atual serviço cristão (1 Co 15.58) e ensinado-nos a viver, como se ela fosse iminente, prontos a nos encontrarmos com Cristo a qualquer momento (Mt 25.1-13).

Autor: J. I. PACKER Fonte: Teologia Concisa, pg. 159, Ed. Cultura Crista

CRISTÃOS 'CULT'...NA ONDA DOS LIVROS 'FILOSÓFICOS'...


Na ânsia de tirar muitos cristãos do "obscurantismo e ignorância" e incentivá-los à leitura, muitos, num arroubo literário, começam a sugerir leituras duvidosas, de homens intitulados filósofos, intelectuais e dramaturgos, tais escrevem com a 'caneta suja' de suas mentes que odeiam a Deus, fazendo uso de um palavrório cheio de sujidades...entristece ver cristãos extasiados com essas 'obras' e influenciando tantos a gastarem preciosas horas sorvendo águas de fontes poluídas!...Não desgosto e nem desaprovo que se gaste algum tempo conhecendo livros que nos auxiliem no conhecimento antropológico, mas isso é bem diferente da 'quase paixão' que alguns demonstram pela leitura dos tais. O que nos torna parecidos com Cristo é nos assentarmos aos seus pés e ouvirmos as Suas palavras, outras fontes podem merecer um pouco de atenção, mas jamais, nossa devoção! 

(Teologia Puritana)
Fonte: https://www.facebook.com/pages/Teologia-Puritana/367297810056135?fref=photo

sexta-feira, 16 de janeiro de 2015

“Os Deveres Mútuos dos Maridos e Esposas – Parte 1″ por Richard Baxter


“Os Deveres Mútuos dos Maridos e Esposas – Parte 1″ por Richard Baxter

by Roberta Macedo | 25 novembro, 2013 | Casamento, Vida Cristã

Pessoas egoístas e não piedosas sempre entram em todo o tipo de relacionamento com o desejo de serem servidas e de gratificar suas próprias carnes sem conhecer ou se importar com aquilo que é requerido delas. Seu desejo é pela honra, lucro, ou prazer que seu relacionamento lhe proverá e não por aquilo que Deus e homem requerem ou esperam delas.[Gn 2:18, Pv 18:22] Suas mentes preocupam-se apenas com aquilo que elas podem ter e não com aquilo que elas devem ser ou fazer.

Elas sabem o que elas querem que outros façam por elas, mas pouco se importam com o dever que elas têm para com outros. É dessa maneira que muitos maridos e esposas se comportam.

Deveríamos estar muito interessados em saber quais são os deveres dos nossos relacionamentos. E como nós podemos agradar a Deus em nossos relacionamentos. Estude e faça a sua parte, e Deus certamente fará a parte d'Ele.

Direção 1. 

O primeiro dever dos maridos é amar as suas esposas (e as esposas seus maridos). Ef 5:25, 28, 29, 33. “Maridos, amai vossa mulher, como também Cristo amou a igreja e a si mesmo se entregou por ela.– Assim também os maridos devem amar a sua mulher como ao próprio corpo. Quem ama a esposa a si mesmo se ama. Porque ninguém jamais odiou a própria carne; antes, a alimenta e dela cuida, como também Cristo o faz com a igreja; — Não obstante, vós, cada um de per si também ame a própria esposa como a si mesmo, e a esposa respeite ao marido.” Veja Gn 2:24.

Algumas diretrizes para manter o amor são as seguintes:

1. Em primeiro lugar, escolha um bom cônjuge. Um cônjuge que seja verdadeiramente bom e gentil. Cheio de virtude e santidade ao Senhor.
2. Não se case até que você esteja certo de que você o ama completamente.
3. Não seja muito apressado, mas saiba de antemão todas as imperfeições que podem tentar você a desprezar o seu futuro cônjuge.
4. Lembre-se que justiça comanda você a amar aquele que abandonou o mundo inteiro por você. Alguém que se contentou em ser companheiro em seus trabalhos e sofrimentos e em compartilhar todas as coisas com você, e esse deve ser seu companheiro até a morte.
5. Lembre-se que mulheres são naturalmente criaturas carinhosas e passionais e assim como elas amam muito, elas esperam muito amor de você.
6. Lembre-se que você está debaixo do mandamento do Senhor; e negar amor conjugal a sua mulher é negar uma obrigação que Deus impôs enfaticamente sobre você. Obediência, portanto, exige o seu amor.
7.Lembre-se que vocês são “uma só carne;” você a atraiu para abandonar pai e mãe, e para unir-se a você.
8. Preste mais atenção nas coisas boas de suas esposas do que nos seus defeitos. Não permita que a identificadão de suas falhas faça vocês esquecer ou ignorar suas virtudes.
9. Não foque em suas imperfeições até que elas aborreçam você. Perdoe-as enquanto for correto aos olhos de Deus. Leve em conta a fragilidade do sexo. Considere também suas próprias falhas, e o quanto suas esposas precisam tolerar vocês.
10. Não provoque o mal em suas esposas, mas encorajem-nas a viver o que há de melhor nelas.
11. Vençam-nas com amor; e então elas serão amorosas com vocês, e consequentemente serão amáveis. Amor provocará amor assim como fogo provoca mais fogo. Um marido bom é a melhor maneira de se fazer uma esposa boa e amorosa.
12. Vivam diante delas a vida de um cristão prudente, humilde, amoroso, manso, abnegado, paciente, inofensivo, santo, e celestial.

Direção II.

Maridos e mulheres devem viver juntos.

Direção III. 

Aborreça não somente o adultério mas tudo que leva a lascívia e a violação de sua aliança matrimonial. [Mt 5.31,32; 19:9; Jo 8,4‑5, sobre adultério; Hb 13.4; Pv 22.14; Ho 4.2‑3; Pv 2.17; 1 Co 6.15,19; Ml 2.15; Pv 6.32,35; Dt 23.2; Lv 21.9; 18:28; Nm 25.9; Jr 5.7‑9]

Direção IV.

Marido e mulher devem ter prazer no amor e na companhia, e nas vidas um do outro. Quando marido e mulher tem prazer um no outro isso os une nos deveres, isso ajuda-os na execução de seus trabalhos, e no suportar de suas cargas; e é uma parte crucial do conforto dentro do casamento. [Pv 5:18,19]

Direção V. É seu dever solene viver em quietude e paz. Evitar todas as ocasiões de forte raiva ou discórdia.

I- Diretrizes mostrando a grande necessidade de evitar dissensões

1. Unidade é um dever requerido na sua união matrimonial. Será que você não pode concordar com a sua própria carne?
2. Divisões com o seu cônjuge vai trazer dor e aborrecimento a toda as áreas da sua vida… assim como você não quer se cortar e é rápido em cuidar de suas próprias feridas, da mesma forma você deve observar qualquer quebra na paz do seu casamento e rapidamente buscar resolvê-la.
3. Brigas esfriam o amor, brigas fazem o seu cônjuge ser alguém não desejável pra você na sua mente. Machucar é afastar; estar ligado pelos vínculos do casamento enquanto os seus corações estão afastados é um tormento. Ser internamente adversários, enquanto por fora são marido e mulher, transforma sua casa e prazer numa prisão.
4. Dissensões entre marido e esposa dividem toda a vida familiar; são como bois em jugo desigual, nenhum trabalho pode ser feito com a briga de um com o outro.
5. Isto também te torna inadequado para o culto ao Senhor; vocês não podem orar juntos nem discutir coisas espirituais juntos, nem podem servir como auxiliadores da alma um do outro.
6. Dissensões torna impossível uma boa gerência da casa.
7. Essas dissensões vão te expor às malícias de Satanás, e dará a ele vantagem para muitas e muitas tentações.

II – Diretrizes para evitar dissensões

1. Mantenha vivo o amor um pelo outro. Ame o seu cônjuge afetuosa e calorosamente. O amor irá subjugar a raiva; você não pode ficar amargurado com as pequenas coisas de alguém que você ama tanto; muito menos falará palavras duras, indiferentes ou qualquer outra forma de ofensa.
2. Tanto o marido quanto a esposa devem mortificar o orgulho e o sentimento egoísta. São esses sentimentos que causam intolerância e insensibilidade. Você deve orar e lutar por um espírito humilde, manso e tranquilo. Um coração orgulhoso é incomodado e provocado por qualquer palavra que parece atacar a sua auto-estima.
3. Não esqueçam que vocês dois são pessoas doentes, cheios de debilidades; e, portanto, esperem os frutos dessa enfermidade um no outro; e não se assustem com isso, como se vocês já não soubessem disso. Decida ser paciente um com o outro; lembrando que você casou com alguém pecaminoso, fraco e imperfeito, e não alguém como anjos, sem pecado e perfeito.
4. Lembrem-se que vocês ainda são uma só carne; e, portanto, não fique mais ofendido com as palavras e fracassos do outro do que você ficaria se eles fossem seus. Tenha tamanho ódio e desgosto pelo pecado, quanto deseja curar a ferida; mas não a ponto de inflamar e irritar a outra parte. Isso vai transformar raiva em compaixão, e te fará administrar o cuidado para a cura.
5. Façam previamente um acordo que quando um estiver pecaminosamente irado e irritado, o outro irá silenciosamente e gentilmente suportá-lo até que ele volte à sanidade.
6. Tenham os olhos no futuro e lembrem-se que vocês devem viver juntos até a morte, e devem ser companheiros e o conforto um do outro enquanto viverem; aí vocês verão o quão absurdo é discordar e aborrecer um ao outro.
7. No que depender de você, evite toda ocasião para raiva e brigas sobre questões familiares.
8. Se você está tão aborrecido que você não consegue se acalmar, pelo menos controle a sua língua e não profira palavras que machucam e insultam, colocando mais lenha na fogueira. (Não coloque pra fora a sua raiva só para alimentar a sua vingança carnal). Fique em silêncio e muito mais cedo você voltará à sua serenidade e paz.
9. Que o cônjuge mais calmo e racional fale com o outro cuidadosamente e racionalmente argumente ( a menos que seja uma pessoa tão insolente que tornará as coisas piores) . Geralmente, algumas sérias e fortes admoestações se mostram como água numa panela fervente. Diga ao seu cônjuge irado “você sabe que essas coisas não deveriam ocorrer entre nós; o amor deve resolver isso e trazer arrependimento. Deus não aprova isso e nós também não aprovaremos quando o calor da discussão passar. Essa disposição mental é contrária à disposição de oração, e essa linguagem também é contrária à oração; nós devemos orar juntos; não façamos nada agora além de orar; água doce e amarga não podem vir da mesma fonte” etc. Algumas palavras calmas e condescendentes podem parar uma torrente e reavivar a razão que a emoção dominou.
10. Quando você agir pecaminosamente contra seu cônjuge, confesse e peça perdão um ao outro, e orem pedindo perdão a Deus; e isso agirá como um preventivo na próxima vez, pois você certamente se envergonhará de fazer aquilo que confessou e pediu perdão a Deus e ao próximo.


Fonte: http://www.mulherespiedosas.com.br/

quarta-feira, 14 de janeiro de 2015

O SENHOR DAS TENTAÇÕES - Por: Vicent Cheung


Quando alguém for tentado, jamais deverá dizer: “Estou sendo tentado por Deus”. Pois Deus não pode ser tentado pelo mal, e a ninguém tenta. Cada um, porém, é tentado pelo próprio mau desejo, sendo por este arrastado e seduzido. Então esse desejo, tendo concebido, dá à luz o pecado, o e pecado após ter se consumado, gera a morte.

Meus amados irmãos, não se deixem enganar. Toda boa dádiva e todo o dom perfeito vêm do alto, descendo do Pai das luzes, que não muda como sombras inconstantes. Por Sua decisão Ele nos gerou pela palavra da verdade, a fim de sermos os primeiros frutos de tudo o que Ele criou. (Tg 1.13-18)

Séculos de tradição religiosa tem insistido em que Deus não pode ser o autor do pecado. Eu tenho refutado isto em um número de lugares.[1] Existe a aceitação de que para Deus ser a causa metafísica direta de todo o mal comprometeria a Sua retidão. Eu tenho demonstrado que isto não tem base e não é inteligente, e negar que Deus é o autor do pecado é negar também a Sua soberania e providência. De fato, é um ataque ao Seu próprio Ser e posição como Deus.

Pois que todo acontecimento, seja bom ou mal, tem de ter uma causa metafísica. Se não existe causa, então este acontecimento seria ele próprio Deus; contudo, não estamos falando sobre Deus, mas sobre o que acontece na Sua criação. Se a causa não é Deus, então deve ser alguma outra coisa. E se for alguma outra coisa, então este acontecimento e a sua causa estão fora do controle direto de Deus. Isto é uma forma da heresia do dualismo, a de que existem duas ou mais forças mais elevadas trabalhando no universo, talvez uma para reger o bem e a outra para reger o mal. É uma filosofia pagã, e é resultado da doutrina de que Deus não é o autor do pecado.

Todos os tipos de aceitações arbitrárias são contrabandeadas para dentro da discussão. Algumas pessoas pensam que para Deus ser o “autor” do pecado é o mesmo que Ele “cometer” pecado – isto é, para Deus causar o mal no sentido metafísico seria para Ele o mesmo que praticar o mal no sentido moral. Mas esta suposição é destruída apenas por se afirmá-la claramente deste modo. É óbvio que as duas pertencem a duas diferentes categorias de ações e acontecimentos. Acrescentando, uma vez que Deus é quem define o Bem e o mal, para Ele cometer o mal, Ele antes deve estabalecer que seria um mal Ele fazer tal coisa, e então ir adiante e fazê-la. Em outras palavras, a menos que Deus desaprove a Si mesmo, então o que for que Ele faça é justo por definição. Não cabe aos teólogos definir o mal para Ele, dizendo-Lhe que, mesmo sendo Deus sobre todas as coisas, Ele não deve reinar diretamente sobre o mal, mas que Deus tem que ser Deus somente sobre o bem, e satã deve ser o deus sobre o mal, para reger um reino que o próprio Deus não pode tocar. Tal doutrina é uma blasfêmia da mais alta categoria. Insistimos que Deus é o autor de todas as coisas; portanto Deus é o autor do pecado.

Algumas pessoas fazem a objeção de que se Deus controla diretamente todas as coisas, então isto se transforma na doutrina do panteísmo. Esta objeção nos economiza tempo porque ela imediatamente nos mostra a falta de inteligência deles e a sua habilidade inferior como pensadores, de modo que não os levaremos muito a sério daqui para frente. A objeção brota do absurdo princípio de que Deus se identifica com o que Ele controla, de modo que se Deus controla diretamente todas as coisas, então Ele é identificado com todas as coisas, o que é panteísmo. Sendo esta aceitação arbitrária e sem justificativa, nós eliminamos a objeção simplesmente pela exposição e rejeição da hipótese.

A pessoa que exibe a suposição é então deixada com um infeliz dilema. Ou seja, já que elesassumem que Deus se identifica com aquilo que Ele controla, então eles têm de negar que Deus controla diretamente qualquer parte da Sua criação, ou têm de afirmar que Deus é identificado com qualquer coisa que Ele tenha controle direto. Eles precisam então afirmar que Deus não tem controle direto sobre qualquer coisa, ou que Deus é identificado com pelo menos uma parte da Sua criação. Qualquer das duas opções faria deles não-Cristãos. Em sua tentativa de apresentar uma objeção inteligente contra a total soberania de Deus e controle direto sobre todas as coisas, eles se tornaram pagãos e heréticos.

A tradição antibíblica e irracional de que Deus não pode ser o autor do pecado subestima o Seu poder e necessidade quando se trata da existência e funcionamento da criação. Parece que as pessoas pensam que Deus é apenas uma pessoa muito boa, e o diabo uma pessoa muito má. Mas a diferença é muito maior que isto. Deus não é unicamente a força oposta na mesma categoria de satã, mas Ele está numa categoria completamente diferente. Ele é o poder direto e necessário e contínuo em todas as coisas. O próprio satã depende do poder direto e constante de Deus para lhe causar cada um dos seus pensamentos e movimentos. Sem Deus, nada pode existir ou continuar a existir, e sem Ele, absolutamente nada pode acontecer, seja bom ou mau.

Tiago não pode estar tentando distanciar Deus da existência do mal, ou dizer que não é o autor do pecado, porque a questão não faria sentido aqui quando o contexto explícito diz respeito a provações e tentações. Como demonstrarei adiante, não faria sentido, primeiro, porque a questão não seria condizente com o que o restante da Bíblia ensina, e, segundo, porque ele não teria sucesso em defender a questão assim – este não é o modo de resolver o assunto. Em outras palavras, se Tiago está tentando de algum modo “exonerar” Deus do mal, o resto da Bíblia mostra que Deus não precisa ser exonerado, e que mesmo que precisasse, Ele não poderia ser exonerado pelo que se afirma. Se Deus parece ser “culpado” pela existência do mal e da tentação, este texto nada faz para anular isso. Mas nada há de errado com Tiago. O problema real é que a passagem tem sido mal interpretada – ele não está afirmando o que as pessoas fazem-no dizer.

Deus sempre tem sido revelado como alguém que leva as pessoas à tentação. Nós reconhecemos que há diferenças entre um teste de sofrimento, um teste de obediência e um teste de sedução. Mesmo parecendo que o último seja o de maior relevância, é bom que se inclua todos eles nesta discussão por duas razões. Primeira, eles não são completamente separáveis, visto que, por exemplo, um teste pode ter a ver com a persistência em obediência de uma pessoa diante da sedução. Isto descreveria a tentação que Adão e Eva experimentaram. Segunda, e apoiada pela primeira razão, mesmo um teste de sofrimento, ou de obediência, pode ser o que é simplesmente porque ele apela para o desejo de uma pessoa, até um desejo mal, de modo que passar no teste ou suportar com sucesso a dificuldade requer uma medida de autocontrole, ou uma negação dos próprios desejos. Assim sendo, todos os tipos de teste são relevantes para o texto de Tiago, de modo que o controle de Deus sobre estes tipos de testes também podem ser citados para lançar luz à discussão. Contudo, a inclusão não se faz necessária, mas serve apenas para produzir uma explicação mais abrangente, uma vez que veremos que Deus controla até o teste de sedução e guia as pessoas para os enfrentar.

Consideremos o teste de Abraão (Gn 22). Deus ordenou-lhe que sacrificasse o seu filho Isaque. A criança era o cumprimento da divina promessa. Não havia uma boa razão para que ele perecesse; sem dúvida, a Escritura diz que Abraão acreditou que se ele sacrificasse Isaque, Deus o levantaria das cinzas. A questão aqui é que Deus instituiu o teste e criou a oportunidade para Abraão pecar. E mesmo ele crendo que a criança seria levantada da morte, Abraão teria pecado se tivesse permitido que seu desejo de isentar o seu filho da provação sobrepujasse o seu desejo de agradar a Deus. De qualquer modo, Deus, e somente Ele, instituiu o teste e levou o patriarca a uma possível rebelião. Abraão não concebeu isso. Satã estava fora disso.

Em 2 Sm 24.1, a Bíblia diz que Deus incitou Davi a pecar por efetuar o censo. Então, em 1 Cr 21.1, está dito que foi satã quem incitou Davi a isto. Estranhamente, considerando a passagem em Tiago, um comentarista escreve que 1 Cr 21.1 revela a “causa real” de 2 Sm 24.1. Dependendo do que ele tem em mente, isto é no mínimo uma observação descuidada. Se Deus foi quem dirigiu satã a incitar Davi ao pecado, então como Deus não é em certo sentido, e num melhor sentido, a causa “real”? Dada a teologia do comentarista, ele talvez devesse dizer “causa imediata”. Contudo, eu ainda discordaria do uso de “causa imediata”. Exatamente como nós vivemos, nos movemos e temos a nossa existência em Deus, o próprio Satã não pode ser a causa imediata de coisa alguma de modo a descartar a causação direta de Deus. Neste sentido, Deus é a causa única ou imediata de qualquer objeto, pensamento ou acontecimento, seja bom ou ruim. As criaturas são, no máximo, a causa relativa, aparente, perceptível ou descritiva. Segue-se daí que quando se trata de metafísica, não existe uma “causa secundária” – as palavras “secundária” e “causa” são ambas enganadoras. O termo pode, no máximo, se referir a uma causa relativa ou aparente, uma relação perceptível entre dois objetos ou acontecimentos, mas nunca poderá servir como explicação metafísica. É melhor abandonar o seu uso.

Então o comentarista está errado em chamar satã a causa “real”, caso ele, no mínimo, reconheça que foi Deus quem dirigiu satã a incitar Davi ao pecado. Mas se por “real” ele se refere à causa metafísica, então é ainda pior. Isso poderia significar que 2 Sm 24.1 não tem lugar na Bíblia, e neste caso o comentarista negou a inerrância bíblica, mostrando que ele é um descrente e não tem autoridade para ensinar aos cristãos o que a passagem de Tiago quer dizer, ou poderia significar que ele faz de satã a explicação metafísica para Deus, caso em que o comentarista rejeitou a Deus e se tornou adorador de satã. Qualquer destas possibilidades faria a sua opinião sobre Tiago pior que inútil. Em vez disso, nós dizemos que 2 Sm 24.1 é a explicação para 1 Cr 21.1, e que Deus é a explicação metafísica para satã.

Deuteronômio 8.2 diz: “Lembrem-se de como o Senhor, o seu Deus, os conduziu por todo o caminho no deserto, durante estes quarenta anos, para humilhá-los e pô-los à prova, a fim de conhecer as suas intenções, se iriam obedecer os Seus mandamentos ou não”. Foi Deus, não outro, quem os guiou através do deserto para testá-los, para revelar se eles iriam ou não guardar os Seus mandamentos. Em outras palavras, Deus os guiou através de situações nas quais eles poderiam – e aparentemente muito mais que não – desobedecer aos Seus mandamentos. Então em Deuteronômio 13, Moisés diz que quando um falso profeta anuncia um sinal ou milagre que sem dúvida acontece, mas então diz ao povo que adore um falso deus, “O Senhor, o seu Deus, está pondo vocês à prova para ver se o amam de todo o coração e de toda a alma”. O que é que o comentarista vai dizer, que um falso profeta é uma explicação para Deus? Ou que o falso profeta é a causa “real”? Com tantos tolos como este ao longo de toda a história da igreja para defender a honra de Deus, os ateus e os céticos dificilmente se fazem necessários – os teólogos fazem o trabalho deles suficientemente bem. Não, Deus é a explicação para os falsos profetas. Ele controla os falsos profetas e os usa para testar o Seu povo.

Em 1 Reis 22, o Senhor perguntou: “Quem enganará Acabe para que ataque Ramote-Gileade e morra lá?” E um mau espírito respondeu: “Eu o enganarei… Irei e serei um espírito mentiroso na boca de todos os profetas do rei”. O Senhor disse que o espírito seria bem sucedido. Então o profeta Micaias explicou: “O Senhor pôs um espírito mentiroso na boca destes seus profetas. O Senhor decretou a sua desgraça”. Os demônios e os falsos profetas enganaram Acabe porque o Senhor havia “decretado o desastre” para ele. Em 1 Samuel 2, quando Eli alertou os seus filhos dos pecados deles, o versículo 25 diz: “Seus filhos, contudo não deram ouvidos à repreensão de seu pai, pois o Senhor queria matá-los”. Assim Deus controla as más escolhas dos homens. Ele pode fazer uma pessoa crer em qualquer coisa, pensar em qualquer coisa e decidir qualquer coisa. Deus é a explicação para o mal, tanto para a tentação como para a rendição à tentação. Ele reina sobre todas as coisas – ele controla o tentador, a tentação e o tentado.

O próprio Jesus foi “levado pelo Espírito ao deserto, para ser tentado pelo diabo” (Mt 4:1). É verdade que Jesus resistiu à tentação por nossa causa; contudo, permanece que foi o Espírito Santo quem levou Jesus à tentação. Se estiver errado por uma questão de princípios para Deus levar alguém para a tentação, então seria errado para Ele levar Jesus à tentação. Mas nada houve de errado nisto, e Deus tem levado o Seu povo à tentação desde a criação da humanidade. Isto tanto é o caso que quando Jesus ensinou os Seus discípulos a orar, Ele os ensinou a dizer “e não nos induzas à tentação” (ACF, ARC), porque é Deus quem faz isto. E então Ele acrescentou, “mas livra-nos do mal”, ou do maligno, porque é Deus quem ordena satã a incitar o mal.

Voltando ao nosso texto, como é que tudo isto se encaixa com o versículo 13, que diz que “Deus não pode ser tentado pelo mal, e Ele não tenta a ninguém”? O versículo é verdadeiro, e ele combina com o restante das Escrituras. Nas outras passagens que acabamos de examinar, ainda que Deus decrete o pecado e o mal, Ele não se torna o tentador para seduzir as pessoas, mas envia espíritos maus e falsos profetas para apresentarem a verdadeira tentação. Novamente, isto não distancia Deus do pecado e do mal, visto que “nele vivemos, movemos e somos”, e Ele tem de ser a energia direta que impulsiona todo pecado e todo o mal. Contudo, como expliquei, Deus não se identifica com o que Ele cria e com o que Ele causa. Quando Deus cria uma pedra, Ele não se torna uma pedra. Quando Deus destrói um planeta, Ele mesmo não é destruído. Aqueles que estão desesperados para se opor ao ensinamento bíblico da absoluta soberania divina asseveram que esta doutrina equivale ao panteísmo, mas quando eles fazem esta afirmação, ela se torna uma hipótese no próprio sistema deles, requerendo que aceitem pelo menos um panteísmo parcial para preservar algum controle a Deus, ou neguem a Deus absolutamente qualquer controle no universo. Qualquer opção faria deles não-cristãos. Mas nós permanecemos sem dano ao rejeitar esta hipótese estúpida. Deus não é aquilo que Ele cria, causa ou controla.

Então, Deus controla diretamente todos os aspectos da tentação, mas Ele próprio não é o tentador. Ele não tenta as pessoas no sentido em que satã tentou Eva e o Senhor Jesus. Ele não fala instruindo as pessoas a cometerem o erro. De fato, é impossível para Ele ser o tentador por causa de Sua própria natureza – visto ser Ele quem define o certo e o errado, qualquer coisa que Ele dissesse a alguém para fazer seria a coisa certa a ser feita. Se Ele tivesse dito a Eva que comesse o fruto, então teria sido certo a ela comê-lo. Não teria havido tentação, pois ao dizer a ela para comer o fruto Ele suspenderia a proibição original. Mas se Ele tivesse levado satã a dizer isto, então teria havido a tentação. E foi isto o que aconteceu com Eva, com Davi, com Acabe e assim por diante. Semelhantemente, se Ele tivesse dito a Jesus para transformar pedras em pão, isto não teria sido uma tentação; de fato, se isto tivesse vindo como uma declaração ou mandamento, Jesus teria de fazer tal coisa para cumprir a vontade do Pai.

Portanto, Deus é o autor do pecado, mas Ele não é o tentador. É obvio que isto de modo algum distancia Deus do mal, mas somente especifica o Seu relacionamento com ele. Assim temos de supor que quando Tiago enfatiza que Deus não tenta, não tem a intenção de distanciar Deus do pecado. Isto se torna até mais claro quando Ele não nomeia satã como o tentador, mas dirige o foco para o mau desejo de uma pessoa, o qual é o fator espiritual e psicológico que a leva a sucumbir à tentação. Se Tiago está interessado na identificação do tentador, porque é que ele não aponta para o diabo? A Escritura o retrata como tal em Gênesis, quando tentou Eva, e nos Evangelhos, quando tentou Jesus. E mais adiante na carta, Tiago mostra que ele está consciente do demônio quando ele escreve: “Resistam ao diabo, e ele fugirá de vocês” (4: 7). Se a intenção dele é identificar o tentador, especialmente em contraste com Deus, este seria o lugar para fazê-lo. Mas ele não menciona o demônio aqui porque ele tem um propósito diferente.

Assim, afirmar que Deus não é o autor do pecado baseando-se no versículo 13 é se desviar da finalidade do texto, e esta utilização errada termina por roubar o estudante das Escrituras de sua valiosa instrução. Se Tiago quer distanciar Deus do mal, ainda que fosse possível, o que ele escreve aqui não é a maneira de fazê-lo. Alguém pode se queixar de que mesmo que Deus não seja o autor do pecado, e mesmo não sendo Ele o tentador, por que permite o mal, e por que permite a tentação? E se for sem dúvida necessário distanciar Deus do mal para exonerá-LO, a única maneira de fazer isto do modo significativo e numa amplitude adequada é destronando Deus e estabelecendo satã como uma força de competição que controla diretamente o mal. Mas se satã estiver livre do controle direto de Deus, então o próprio satã será um outro “Deus”, se é que ainda pudéssemos de algum modo chamar cada um de Deus. Por esta razão é tão perigoso e blasfemo negar que Deus é o autor do pecado. Não que estejamos especialmente interessados em conectar Deus com o mal, mas que estamos especialmente interessados em afirmar que Deus é verdadeiramente Deus, que Ele exerce controle direto sobre todas as coisas, e temos de insistir que este controle inclui o mal quando as pessoas tentam negar isto, como querendo fazer um favor a Deus.

Tudo isso é para remover falsas tradições religiosas de modo a podermos ler a passagem e aprender o que ela realmente ensina. Em Gênesis satã foi o tentador, e quando ele falou à mulher, ele apelou para os seus maus desejos: “Quando a mulher viu que o fruto da árvore era bom para se comer e agradável a vista, e assim desejável para se obter sabedoria, ela pegou e comeu dele” (3.6). Tiago não está falando de metafísica, e não está tentando identificar o tentador. Ele quer que assumamos a responsabilidade e que confrontemos a tentação. Isto não se alcança culpando a soberania de Deus. O decreto divino não é algo que possamos ditar ou negociar. Isto também não é feito culpando o diabo por ser o tentador. Nós não temos soberania sobre o diabo, e não podemos impedi-lo de ser o tentador. Porém, somos responsáveis pelo exame dos nossos desejos, e se eles nos fazem suscetíveis às tentações, temos de resisti-los. Devemos estar sempre atentos aos nossos pensamentos e motivos, para cultivarmos aqueles que nos mantêm no caminho da retidão e anularmos aqueles que nos arrastariam para longe de Deus, levando-nos para o caminho da rebelião e da transgressão. Esta é a maneira de dominar as tentações.

Dos nossos desejos nasce o pecado (v. 15), mas da verdade de Deus nasce nossos espíritos renovados como crentes em Jesus Cristo (v. 18), de modo que “pudéssemos ser como que as primícias de toda a criação”. Naturalmente, os cristãos são as primícias, mas não no sentido cronológico, visto que as outras coisas na criação foram feitas antes de nós, e as nossas conversões aconteceram em diferentes ocasiões no tempo. Para ser exato, somos as primícias de tudo que Ele criou em termos de categoria, honra e prioridade. Isto traz à tona a diferença em status entre cristãos e não-cristãos. Nós somos as primícias porque Deus nos fez nascer na fé cristã, apesar de outros serem humanos como nós, eles não são conversos, e assim não são as primícias. Os cristãos, portanto, são de uma qualidade inteiramente superior da humanidade. Assim, não é de admirar que Tiago tenha escrito: “Meus amados irmãos, não se deixem enganar. Toda boa dádiva e todo o dom perfeito vem do alto, descendo do Pai das luzes, que não muda como sombras inconstantes” (vv 16-17). Que insulto é, se tudo o que tiramos desta passagem for a falsa inferência de que Deus não é o autor do pecado. Que doutrina patética. Que teologia fraca. Tiago não está interessado nisto.

Cristãos, não se deixem enganar. Não permaneçam na escravidão de tradições religiosas que declaram reverenciar a Deus e defender a Sua retidão, mas que de fato estão cheias de descrença, arrogância e que impõem a Deus limitações concebidas pelos homens que Ele nunca colocou em Si mesmo. Não aceitem qualquer coisa a menos do que o apóstolo nos diga. Se Deus deu a você o nascimento espiritual pelo Evangelho de Jesus Cristo, então fez de você as primícias da criação. Ele é o Seu Pai. Ele não é seu inimigo. Deus é o Senhor que controla as tentações, e pela mesma razão Ele é também o Senhor que o ensina a superá-las e a crescer na fé neste processo. Portanto, quando enfrentar sofrimentos e tentações, não se torne amargo e nem use a Sua soberania contra Ele, mas examine os seus próprios pensamentos e motivos. A maneira de lidar com tentações é afirmando a bondade de Deus e confrontar as suas compulsões, necessidades e ambições. Se você aprender a dominar os seus maus desejos, então você porá um fim ao pecado antes que ele tenha a chance de conceber. Isto foi o que Deus disse a Caim, mas ele não deu ouvidos, e matou o seu próprio irmão (Gn 4.6-7).

[1] – Veja Vincent Cheung, Teologia Sistemática, Comentário sobre Efésios, O Autor do Pecadoe Blasfêmia e Mistério.

Fonte: Sermonettes ~ Volume 4  http://www.monergismo.com/
Tradução: Claudino Marra
Revisão: Jazanias de Oliveira

terça-feira, 13 de janeiro de 2015

Pregação chocante de Paul Washer


Eis o esboço desta pregação:

• Eu estou aqui hoje e não estou preocupado no meu coração com a sua autoestima. Eu não estou preocupado no meu coração se você se sente bem consigo mesmo, se a vida está do jeito que você queria ou se a sua conta bancária está no verde. Só tem uma coisa que me tirou o sono, só tem uma coisa que me preocupou durante a manhã toda. E é isto: em 100 anos, a maioria das pessoas neste prédio possivelmente estará no inferno. E muitos que até mesmo professam Jesus Cristo como Senhor passarão a eternidade no inferno.

• Eu quero que você saiba que a maior heresia na igreja protestante americana é que se você orar e pedir para Jesus entrar no seu coração, ele definitivamente entrará. Vocês não encontrarão isso em nenhum lugar nas Escrituras, vocês não encontrarão isso na história Batista até 50 anos atrás. O que vocês precisam saber é que a salvação é pela fé, e fé somente em Jesus Cristo. E a fé somente em Jesus Cristo é procedida e seguida por arrependimento. Um abandono do pecado, um ódio pelas coisas que Deus odeia e um amor pelas coisas que Deus ama.

• Pare de se comparar com outros que dizem que são Cristãos, que se comparam com outros que dizem que são Cristãos. Compare a si mesmo com as Escrituras.

• Que superstições têm invadido nossa denominação? Você sabe o que a Bíblia fala para os Cristãos fazerem? “Examine-se a si mesmo”. Teste a si mesmo à luz das Escrituras para saber se você está na fé. Teste a si mesmo para saber se você é um Cristão.

• Eu louvo a Deus por isso, que a única forma que qualquer ser humano nesta Terra será salvo é por meio de Jesus Cristo e ponto final. Porque você precisa entender que a Bíblia diz: “Todos pecaram e destituídos estão da glória de Deus”, e vocês não têm ideia do que isso significa, que nascemos totalmente depravados, odiando a Deus, que nós nunca buscaríamos a Deus, nunca iríamos a Deus, nós nos rebelamos contra Deus, quebramos toda a Lei. Não é só uma questão de que você já pecou. A questão é: você nunca fez nada além de pecar.

• Você sabe porque você é salvo, se você é salvo? Porque quando Jesus Cristo estava pendurado naquela cruz, Ele levou seus pecados, e o pecado do povo de Deus, e toda a violenta ira de Deus que deveria ter caído sobre você caiu sobre Seu único Filho. Alguém tinha que pagar o preço, alguém tinha que morrer. Foi Deus, o Pai, quem O esmagou, Seu único Filho, de acordo com Isaías 53: “Ao Senhor agradou moê-lo”.

• Conversão não é como uma vacina

• A maior parte das coisas que a gente acredita ser verdade é ditado pela nossa cultura e não pela Bíblia.

• A Bíblia não ensina que uma pessoa pode ser um Cristão genuíno e viver em constante carnalidade, perversidade e pecaminosidade todos os dias de sua vida. Mas a Bíblia ensina que o Cristão genuíno recebeu uma nova natureza. O Cristão verdadeiro tem um Pai que o ama, que o disciplina, cuida dele e que se importa com ele.

• Se você professa que entrou pela porta estreita, mas continua andando pelo caminho largo, assim como todos da sua escola, assim como todos que são carnais e depravados, a Bíblia quer que você saiba que você deveria ficar terrivelmente amedrontado. Porque você não conhece a Deus.

• O que você precisa entender é que só há um amigo verdadeiro, o seu nome é Deus. E se você quer ser amigo de alguém na sua igreja, você precisa ser amigo de Deus. E você precisa estar mais preocupado com a glória de Deus do que você está com as atitudes dos homens. E outra coisa que você precisa entender é que a pessoa que te ama mais é a que vai te falar as maiores verdades.

• Uma das grandes marcas diferenciais de um falso profeta é que ele sempre vai falar o que você quer ouvir.

• Veja sua vida, veja o jeito que você anda, veja o jeito que você fala, olhe para as paixões do seu coração, por acaso Jesus está aí, em algum lugar? Ou Ele é só um acréscimo que você adiciona em sua vida? Ou é só uma coisa que você faz nas quartas e domingos? Ele é só alguém que você aceita apenas intelectualmente, mas não de coração? Ele é um acessório? Ou Ele é o centro da sua vida?

• Oh! Meu caro amigo, eu não consigo olhar o seu coração. Eu sou totalmente enganado pelo meu próprio coração. Mas há um que não é enganado. Há um que não é enganado e Ele não é enganado por uma cultura cristã pós-moderna. Ele sabe! “Pelos seus frutos os conhecereis”.

• Qual é o sinal de que alguém se tornou um Cristão genuíno? Eu gostaria que nós começássemos a ensinar isso novamente. O que aconteceu com nossa teologia? O que aconteceu com a nossa doutrina? O que aconteceu com o nosso ensino?

• Você diz: “A coisa mais importante na face do mundo é conhecer a Jesus Cristo”. Isso não é verdade. A coisa mais importante na face do mundo é que Jesus Cristo te conheça.

• Todo mundo gosta de falar sobre um profeta, mas ninguém quer escutá-lo, e eu estou falando sobre cristianismo.

• Eu estou falando sobre santidade, eu estou falando sobre ser cheio de Deus. Você sabe o que seria um mover de Deus neste lugar? Se todos vocês caíssem sob convicção de pecado, se eu mesmo caísse sob convicção pelo Espírito Santo, e nos prostrássemos e chorássemos, pois assistimos coisas que Deus odeia, pois usamos coisas que Deus odeia, pois nós agimos como o mundo, parecemos com o mundo, cheiramos como o mundo, fazemos as mesmas coisas que o mundo e não sabemos que fazemos essas coisas, porque não conhecemos a Palavra de Deus.

• Vocês que professam ser Cristãos, sua vida honra a Jesus Cristo? Você está olhando em Sua Palavra para descobrir como deve viver?

• Que cada pensamento, palavra e ato seja em sujeição a Jesus Cristo.

Amém.

Leia sobre a conversão de Thabiti Anyabwile. Introdução do livro “O Evangelho para Muçulmanos”, futuro lançamento da Editora Fiel.

O evangelho “é o poder de Deus para a salvação de todo aquele que crê, primeiro do judeu e também do grego” (Rm 1.16) – e também dos muçulmanos!

Ela era uma profissional muito atraente, entre seus 20 e 30 anos. Era claro que respondera ao convite de um amigo para vir à discussão sobre islamismo. Permaneceu de pé pacientemente, acompanhando cada palavra, enquanto os outros faziam perguntas e saiam em fila. Por fim, a multidão diminuiu, e ela me agradeceu tímida e educadamente pela palestra.
Então, o olhar. Eu já tinha visto aquele olhar muitas vezes antes. Num instante, uma alegria antes proibida, mas agora inefável, rompeu em sua face. Lágrimas rolaram, mas sua face brilhava de alegria. Seus olhos ficaram levemente arregalados de entusiasmo. Ela me disse que sua família era do Irã. Agora, ela vivia e trabalhava nos Estados Unidos, com seus pais. E, como é costume, viveria sob o cuidado deles até que casasse. Mas ela tinha um segredo. Nas últimas duas semanas, ouvira o evangelho de Jesus Cristo e agora o amava como seu Salvador.
“Eu não sei como dizer a meus pais ou o que acontecerá. Mas nunca fui tão feliz em minha vida. Não posso explicar… sinto tanta alegria.” Mais lágrimas. Mais face radiante de alegria.
O evangelho “é o poder de Deus para a salvação de todo aquele que crê, primeiro do judeu e também do grego” (Rm 1.16) – e também dos muçulmanos!
Às vezes, acho que os cristãos duvidam desta verdade maravilhosa – o evangelho é o poder triunfante de Deus na vida de qualquer pessoa e de todos que creem. Às vezes, parece que pensamos que certas pessoas estão fora do alcance do evangelho. Certamente, muitas vezes damos a impressão de que pensamos que os muçulmanos estão além do alcance do evangelho e são impermeáveis ao poder do evangelho.
No entanto, em contrário a nossa incredulidade, o evangelho de Jesus Cristo é realmente triunfante no coração, mente e vida de inúmeros homens e mulheres de diferentes contextos muçulmanos. Eu sou uma dessas pessoas.
Gastei parte significativa de minha como um perdido. Sendo separado de Deus por causa de meu pecado, me dediquei a muitas atividades, pensamentos e atitudes contrárias ao evangelho. Entretanto, isto nunca foi mais verdadeiro do que quando vivi como um muçulmano praticante.
Eu me converti ao islamismo quando estava no segundo ano de faculdade. Nos anos anteriores à minha conversão, cresci muito irado com a vida. Meu pai nos abandonou quando eu tinha cerca de 14 anos. Fiquei irado com ele. Pouco antes de meu terceiro ano de Ensino Médio, fui preso, e muitos de meu amigos se afastaram de mim. Fiquei irado com eles também. Entre meu último ano de Ensino Médio e o primeiro ano de faculdade, descobri radicais dos anos 1960, como Malcom X, Amiri, Barak e muitos outros. Eles me tornaram ainda mais irado. Quando li a história de africanos e afro-americanos, fiquei irado com as pessoas brancas em geral. Quando terminei meu ano de calouro na faculdade, eu era um militante jovem e furioso que ardia não apenas de ira, mas também de ódio.
Foi o islamismo que prometeu uma maneira de manusear e usar aquele ódio. Isso é o que foi prometido. Mas, em minha experiência, o que ele me deu foi bem diferente.
Minha ira e ódio para com os brancos achou um alvo representativo fácil e supremo em um Jesus de cabelos loiros e olhos azuis. Embora expressasse respeito pelo “Jesus real”, que era um profeta de Alá, eu era inimigo da cruz. E me deleitava em me opor a alunos cristãos no campus e em lançar qualquer argumento que eu pudesse contra o cristianismo. Eu negava a ressurreição e reprovava como tolos aqueles que criam na ressurreição. O cristianismo era um grande estratagema elaborado pelos seguidores enganados e enganadores do “Jesus real”. Eu era zeloso pelo islamismo, “a religião perfeita para o afro-americano”.
Era o Ramadã, um tempo de grade disciplina espiritual, oração e estudo. Eu me levantava antes do nascer do sol para ler o Alcorão. A manhã ainda vestia o torpor do sono. Acomodei-me em minha cadeira. E, enquanto eu lia o Alcorão, uma firme consciência se estabeleceu em mim: o islamismo não pode ser verdadeiro.
Como um seguidor do islamismo, eu havia devorado tanto do Alcorão quanto eu pudera. Passagens que me ajudariam a falar com cristãos sobre suas “opiniões erradas ou enganadas” eram de interesse especial. Isso significou que eu tive de considerar os ensinos do Alcorão sobre Jesus. Mas o que descobri não podia ser verdadeiro e, ao mesmo tempo, o próprio islamismo ser coerente.
O islamismo ensinava que Jesus nascera de uma virgem sem nenhum pai terreno (Sura 3:42-50). O Alcorão ensinava claramente que a Torá, os salmos de Davi e os evangelhos eram livros revelados por Alá (Sura 4:163-65; 5:46-48 e 6:91-92). E, em muitas passagens, o Alcorão – escrito aproximadamente 600 anos depois de Cristo e os apóstolos – expressava tal confiança nestas seções da Bíblia, que chamava as pessoas a julgarem a verdade usando a Bíblia (Sura 3:93-94; 5:47 e 10:94). E em nenhuma de suas passagens o Alcorão ensina que a Bíblia foi corrompida ou mudada, mas apenas que alguns encobriram seu significado, entenderam-na de modo errado ou esqueceram a sua mensagem. Portanto, para mim, qualquer muçulmano coerente e intelectualmente honesto tinha de fazer um esforço para entender os ensinos da Bíblia.
E, quando fui à Bíblia – supondo, primeiramente, que acharia coisas que confirmariam ou apontariam para o Alcorão e, depois, ficando desesperado para achar as supostas profecias que apontariam para Maomé – todas as minhas suposições foram frustradas e não tinham fundamento. A afirmação do islamismo de ser o final e o selo de todas as religiões e de seu profeta ser o final e o selo de todos os profetas simplesmente não parecia ser verdadeira.
Como poderia Jesus ser nascido de uma virgem, como o Alcorão ensinava, e não ser o Filho de Deus, como os evangelhos ensinam tão claramente? Como poderia o tema de expiação e sacrifício, tão evidente tanto na lei de Moisés quanto nos evangelhos, desaparecer no Alcorão? E o mais problemático de todos: como a minha impiedade e meu pecado poderiam ser expiados sem um sacrifício perfeito em meu favor?
Meu pecado era real, e o islamismo não oferecia nenhuma solução para ele.
O islamismo me constrangera a crer que todas as necessidades e questões eram respondidas por seu sistema de leis e rituais. Eu havia crido na explicação do islamismo quanto ao desenvolvimento da religião e da sociedade – “o judaísmo é o ensino fundamental, o cristianismo, o ensino médio, e o islamismo, a universidade”. Uma teologia e uma ideologia falsas haviam dominado minha vida.
Quando eu sai deste tempo de estudo e exploração, fiquei covencido de que o islamismo não era verdadeiro. Mais do que isso, eu estava quase certo de que todas as religiões eram falsas. Em vez de me voltar para Cristo, eu me voltei para a busca do mundo e decidi crer em mim mesmo e não em Deus.
Em meio a esta busca idólatra, o Senhor me interceptou e me humilhou quando minha esposa perdeu o nosso primeiro filho. Sentei-me em depressão branda para assistir à televisão. Por razões que eu não pude explicar na época, me sentei fascinado enquanto um pregador de televisão expunha 2 Timóteo 2.15. Não era uma mensagem especialmente evangelística, mas vida e poder encheram aquele sermão sobre estudar a Palavra de Deus e hábitos mentais cristãos.
Por fim, a minha esposa e eu visitamos a igreja onde aquele pastor servia. Estávamos a sete ou oito fileiras do púlpito. Num culto de igreja lotado com umas sete ou oito mil pessoas, parecia que as únicas pessoas presentes eram o pregador e eu mesmo.
O sermão, baseado em Êxodo 32, era intitulado “O que é necessário para que você fique irado?” Imagine isso. Havendo sido consumido de ira por mais de uma década, a primeira vez que vou a uma igreja desde que me tornara muçulmano, o pregador fala sobre ira. Mas não foi o que eu pensava. O sermão examinou cuidadosamente o pecado, a idolatria e as suas consequências. O pastor desafiou a congregação a desenvolver uma indignação santa e justa para como o pecado, a odiar o pecado e a voltar-se para Deus.
Fiquei impactado quando a santidade e a justiça de Deus foram explicadas a partir das Escrituras. Fiquei estranhamente consternado e alerta, realmente despertado, quando o pastor aplicou a doutrina do pecado aos seus ouvintes. Eu era condenado e culpado diante daquele Deus santo que julga toda impiedade.
Então, com linguagem linda e clara, o pregador exaltou a Jesus. Ele era o Cordeiro de Deus que devemos contemplar! Era o sacrifício predito no Antigo Testamento e imolado no Novo. Nele havia redenção. O impecável Filho de Deus viera realmente ao mundo para salvar todo que crê – até um ex-muçulmano que era um inimigo da cruz declarado e resoluto!
“Arrependa-se e creia para o perdão de seus pecados”, foi o convite. Em bondade profusa, Deus converteu a mim e a minha esposa do pecado para Jesus Cristo, em fé, naquele dia. Literalmente, da noite para o dia, Deus destruiu misericordiosamente a fortaleza de anos de ira e ódio. O evangelho triunfou onde nenhum outro poder havia triunfado ou poderia triunfar. O evangelho de Jesus Cristo me libertou das garras do pecado e das trevas do islamismo.
O evangelho é o poder de Deus para a salvação de todo aquele que crê. Vi esse poder na face daquela jovem iraniana naquele dia. Tenho visto esse poder manifestado na face de muitas pessoas de contextos muçulmanos na América e no Oriente Médio. Eu mesmo tenho experimentado e recebido esse poder por meio da fé em Cristo.
E creio que este mesmo evangelho em suas mãos produzirá a mesma conversão e vida nova em pessoas muçulmanas que o Senhor colocar em seu caminho. Esta é a razão por que este livro foi escrito: incentivar cristãos comuns no extraordinário poder do evangelho.

Fonte: http://voltemosaoevangelho.com/blog/

Puritanos e Assembléia de Westminster. Um pouco sobre os puritanos.


Puritanos e Assembléia de Westminster

OS PURITANOS: 
SUA ORIGEM E SUA HISTÓRIA
Alderi Souza de Matos

Introdução
O sentido positivo/negativo original do termo “puritano” e o sentido pejorativo atual (rigidez, moralismo, intolerância).
A imagem distorcida dos puritanos na história. H. L. Mencken: “O puritanismo é o temor persistente de que alguém, em algum lugar, possa ser feliz”.
Ênfase principal: preocupação com a pureza e integridade da igreja, do indivíduo e da sociedade.
Movimento muito influente na Inglaterra; principal tradição religiosa na história dos Estados Unidos.

1. DefiniçõesMovimento em prol da reforma completa da Igreja da Inglaterra que teve início no reinado de Elizabete I (1558) e continuou por mais de um século como uma grande força religiosa na Inglaterra e também nos Estados Unidos. “Uma versão militante da fé reformada” (Dewey D. Wallace, Jr.).
Movimento religioso protestante dos séculos 16 e 17 que buscou “purificar” a Igreja da Inglaterra em linhas mais reformadas. O movimento foi calvinista quanto à teologia e presbiteriano ou congregacional quanto ao governo eclesiástico (Donald K. McKim).
Pessoas preocupadas com a reforma mais plena da Igreja da Inglaterra na época de Elizabete e dos Stuarts em virtude de sua experiência religiosa particular e do seu compromisso com a teologia reformada (I. Breward).

2. Antecedentes (raízes)
O puritanismo é uma mentalidade ou atitude religiosa que começou cedo na história da Inglaterra.
Desde o século 14, surgiu uma tradição de profundo apreço pelas Escrituras e questionamento de dogmas e práticas da igreja medieval com base nas mesmas.
Começou com o “pré-reformador” João Wycliffe e os seus seguidores, os lolardos. Publicação da primeira Bíblia Inglesa completa em 1384, na época do “Grande Cisma”.
Wycliffe afirmou a autoridade suprema das Escrituras, definiu a igreja verdadeira como o conjunto dos eleitos, questionou o papado e a transubstanciação.

O protestantismo inglês sofreu a influência de Lutero e especialmente da teologia reformada continental, a Reforma Suíça de Zurique (Zuínglio, Bullinger) e Genebra (Calvino, Beza).

Começou com o trabalho teológico da primeira geração de reformadores ingleses, influenciados pela Reforma Suíça. Ênfases: colocação da verdade antes da tradição e da autoridade; insistência na liberdade de servir a Deus da maneira que se julgava mais acertada (ver Lloyd-Jones, O puritanismo e suas origens).

William Tyndale (†1536) – compromisso com as Escrituras, ênfase na teologia do pacto. Tradutor da Bíblia - NT (1525); cruelmente perseguido; estrangulado e queimado em Antuérpia, na Bélgica.

John Hooper (†1555) – as Escrituras devem regular a estrutura eclesiástica e o comportamento pessoal.

John Knox (†1572) – reforma completa da igreja e do estado.

3. História
(a) Henrique VIII (1509-1547) – criou a Igreja Anglicana, uma igreja nacional inglesa de orientação nitidamente católica. Em 1539, impôs os Seis Artigos, com severas punições para os transgressores (“o açoite sangrento de seis cordas”). Incluíam a transubstanciação, a comunhão em uma só espécie, o celibato clerical, votos de castidade para leigos, missas particulares, confissão auricular, etc.

Duas reações dos protestantes: conformação – por exemplo, o arcebispo Thomas Cranmer a princípio de opôs, mas depois se submeteu e separou-se da esposa; protesto – Miles Coverdale, John Hooper e outros, que tiveram de fugir do país e foram para a Suíça. Sob a influência continental, começaram a se opor ao cerimonialismo religioso.

(b) Eduardo VI (1547-1553) – nessa época, a influência dos partidários de uma reforma profunda da igreja inglesa se tornou mais forte. John Hooper dispôs-se a aceitar um bispado que lhe foi oferecido, mas não a ser investido no ofício do modo prescrito, com o uso das vestes litúrgicas. Acabou sendo lançado na prisão por algum tempo. Foi o primeiro a expor claramente o argumento acerca das vestes. Não eram coisas indiferentes, e sim resquícios do catolicismo. Começa a surgir uma nítida distinção entre anglicanismo e puritanismo.

(c) Maria I (1553-1558) – tentou restaurar a Igreja Católica na Inglaterra e perseguiu os líderes protestantes. Muitos foram executados – Hugh Latimer (†1555), Nicholas Ridley (†1555) e Thomas Cranmer (†1556) – mártires marianos. Outros fugiram para o continente (Genebra, Zurique, Frankfurt), entre eles John Knox e William Whittingham, o principal responsável pela Bíblia de Genebra. Nesse período surgiram em Londres as primeiras igrejas independentes.

(d) Elizabete I (1558-1603) – inicialmente esperançosos, os puritanos se decepcionaram amargamente. A rainha insistiu em controlar a igreja, manteve os bispos e as cerimônias. A mesma divisão anterior se manifestou entre os líderes imbuídos de convicções protestantes – alguns, como Matthew Parker, Richard Cox, Edmund Grindal e John Jewel, protestaram no início, mas acabaram acomodando-se ao status quo. Aceitaram bispados e outras posições eclesiásticas sob o argumento de que, se recusassem esses ofícios, Elizabete nomearia católicos romanos em lugar deles. Outros, como Thomas Sampson, Miles Coverdale, John Foxe e Lawrence Humphrey, desafiaram a rainha.

- Os puritanos surgem com esse nome no contexto da “Controvérsia das Vestimentas” (1563-1567) – protesto contra vestimentas clericais (propunham o uso de togas genebrinas) e cerimônias como ajoelhar-se à Ceia do Senhor, dias santos e sinal da cruz no batismo. Nas décadas seguintes, intensificaram-se as medidas disciplinares da igreja e do estado contra os puritanos estritos (“não-conformistas”). Cristalizou-se o anglicanismo clássico, cujo principal teórico foi Richard Hooker, com sua obra Leis de Política Eclesiástica (1593). Em 1593 foi aprovado o rigoroso “Ato contra os Puritanos”.

(e) Tiago I (1603-1625) – esse rei havia recebido uma educação calvinista na Escócia, o que encheu de esperanças os puritanos. Eles lhe apresentaram a Petição Milenária, que foi totalmente rejeitada na Conferência de Hampton Court (1604). Alguns puritanos se desligaram inteiramente da Igreja da Inglaterra, entre eles um grupo que foi para a Holanda e depois para a América, fundando em 1620 a Colônia de Plymouth, em Massachusetts.

(f) Carlos I (1625-1649) – esse rei manteve a política de repressão contra os puritanos, o que levou um grupo não-separatista a ir para Massachusetts em 1630. No final do seu reinado, entrou em guerra contra os presbiterianos escoceses e contra os puritanos ingleses. Estes eram maioria no Parlamento e convocaram a Assembléia de Westminster (1643-49), que elaborou os famosos e influentes documentos da fé reformada.

Infelizmente, os puritanos não formavam um movimento coeso. Estavam divididos principalmente no que se refere à forma de governo da igreja. Existiam vários grupos: presbiterianos, congregacionais, episcopais, batistas. Alguns eram separatistas e outros não-separatistas, como os “independentes” (congregacionais moderados). A Guerra Civil terminou com a derrota e execução do rei.

(g) Oliver Cromwell – congregacional, líder das forças parlamentares que derrotaram o rei Carlos I. Tornou-se o “Lorde Protetor” da Inglaterra. Durante o Protetorado ou Comunidade Puritana (1649-1658), a Igreja da Inglaterra foi inicialmente presbiteriana e depois congregacional. Todavia, as rivalidades religiosas levaram ao restabelecimento da monarquia – a Restauração.

(h) Carlos II (1660-1685) - expulsou cerca de 2000 ministros puritanos da Igreja da Inglaterra. A Grande Expulsão (1662) marcou o fim do puritanismo anglicano. Embora perseguidos, sobreviveram como dissidentes (“dissenters”) fora da igreja estatal e eventualmente criaram igrejas batistas, congregacionais e presbiterianas.

(i) Tiago II (1685-1689) – tentou restaurar o catolicismo, mas foi derrotado pelo holandês Guilherme de Orange, esposo de sua filha Maria – a Revolução Gloriosa.

(j) Guilherme e Maria (1689-1702) – mediante um decreto, foi concedida tolerância aos “dissenters” (presbiterianos, congregacionais e batistas), cerca de um décimo da população. A essa altura, os melhores dias do puritanismo já haviam ficado para trás.

O puritanismo americano foi muito dinâmico e influente por pouco mais de um século, desde os primórdios na Nova Inglaterra (1620) até o Grande Despertamento (1740). Alguns nomes notáveis dessa tradição foram John Cotton, William Bradford, John Winthrop, John Eliot, Thomas Hooker, Cotton Mather e Jonathan Edwards.

Herdeiros recentes da tradição puritana: Charles H. Spurgeon, D. M. Lloyd-Jones, J. I. Packer, James M. Boice e outros.

4. O Perfil Puritano

4.1. TerminologiaNão-conformistas: esse termo surgiu na história inglesa quando puritanos e separatistas não quiseram aderir à Igreja da Inglaterra (oficial) desde 1660 até o Ato de Tolerância (1689). Não-conformidade é a atitude de não se submeter a uma igreja oficial.

Separatistas: termo aplicado ao puritano inglês Robert Browne (c.1550-1633) e seus seguidores, que se separaram da Igreja da Inglaterra. Mais tarde foi aplicado aos congregacionais ingleses e outros grupos que formaram suas próprias igrejas.

Não-separatistas: os puritanos anglicanos, aqueles que não queriam separar-se da igreja oficial, mas procuravam reformá-la. Os fundadores de Salem e Boston (1629-1630) estavam nessa categoria.

Independentes: nos séculos 17 e 18, os adeptos da forma de governo congregacional, em contraste com o governo episcopal da igreja estatal inglesa.

Dissidentes (“dissenters”): aqueles que se retiraram da igreja nacional da Inglaterra (anglicana) por motivos de consciência. O termo inclui congregacionais, presbiterianos e batistas.

4.2. Características gerais
Os “não-conformistas”, como também eram chamados, em geral eram ministros com educação universitária, oriundos principalmente de Cambridge, embora também houvesse leigos ardorosos entre eles.

Entendiam que a Igreja Inglesa devia adotar como modelo as igrejas reformadas do continente.

O puritanismo influenciou a tradição reformada no culto, governo eclesiástico, teologia, ética e espiritualidade. Quatro convicções básicas: (1) a salvação pessoal vem inteiramente de Deus; (2) a Bíblia constitui o guia indispensável para a vida; (3) a igreja deve refletir o ensino expresso das Escrituras; (4) a sociedade é um todo unificado.

O sentido original do termo “puritano” apontava para a purificação da igreja, na medida que os puritanos queriam descartar os elementos arquitetônicos, litúrgicos e cerimoniais que consideravam conflitantes com a simplicidade bíblica. Por exemplo, eles objetavam contra o sinal da cruz no batismo e a genuflexão para receber a Santa Ceia.

Ao invés de paramentos elaborados (sobrepeliz), eles preferiam uma toga preta que simbolizava o caráter do ministro como um expositor culto da Bíblia.

Queriam que cada paróquia tivesse um ministro residente capaz de pregar. Para alcançar esse objetivo, promoviam reuniões de ministros para ouvir sermões e receber orientação pastoral (suprimidas por Elizabete).

Sofrendo oposição dos bispos e estando comprometidos com uma eclesiologia que dava ênfase à igreja como uma comunidade pactuada, muitos puritanos rejeitaram o episcopado.

Thomas Cartwright promoveu o presbiterianismo (1570). Robert Browne, mais radical, advogou um sistema congregacional e defendeu a imediata separação da “corrupta” Igreja da Inglaterra (1582). Alguns de seus seguidores “separatistas” foram para a Holanda.

Congregacionais mais moderados, conhecidos como “independentes”, não chegaram a defender a separação. Eles influenciaram os puritanos da Baía de Massachusetts e se tornaram a corrente principal do congregacionalismo inglês.

Outros puritanos, como Richard Baxter (†1691), queriam um “episcopado atenuado” que associava características presbiterianas e episcopais.

Os puritanos não estavam interessados somente na purificação do culto e do governo eclesiástico. Todo o corpo político também precisava de purificação. Apoiando-se em Martin Bucer e João Calvino, eles insistiram na criação de uma sociedade cristã disciplinada. Achavam que uma nação inteira podia fazer uma aliança com Deus para a realização desse ideal. Esperanças milenaristas e o exemplo do Israel bíblico os impeliram nessa direção.

4.3. Experiência religiosaA Bíblia, interpretada no espírito dos teólogos reformados continentais, era considerada a única fonte legítima para a doutrina, liturgia, governo eclesiástico e espiritualidade pessoal. Incentivavam a leitura doméstica da Bíblia de Genebra (1560), uma edição comentada. Além da pregação expositiva regular aos domingos, havia a instrução dos membros em seus lares durante a semana. Deram grande ênfase à preparação de ministros pregadores (ex: Emmanuel College, em Cambridge).

Os pregadores-teólogos puritanos escreveram com detalhes sobre a maneira pela qual a graça de Deus poderia ser identificada na experiência humana, indo além de religiosidade formal e expressando-se numa transformação interior da morte no pecado para a vida em Cristo, com base na fé. Os diários e autobiografias dos puritanos revelam quão intensa essa luta podia ser e como se tornaram pessoais os grandes temas da teologia reformada.
· Sem negligenciar a obra e o ser de Deus ou os grandes temas da eleição, vocação, justificação, adoção, santificação e glorificação, a ênfase dos teólogos puritanos na experiência religiosa e na piedade prática deu aos seus escritos um teor incomum entre os teólogos reformados de outras partes da Europa. Um bom exemplo disso é O Peregrino(1676), de John Bunyan.

A ênfase prática da teologia puritana levou-a a dar grande atenção à ética pessoal e social em casos de consciência, discussões sobre vocação e o relacionamento entre a família, a igreja e a comunidade no propósito redentor de Deus.

A reforma do culto e da prática religiosa popular, ouvindo e obedecendo a palavra de Deus, bem como a santificação do tempo convergiram no desenvolvimento do sabatarianismo, um dos legados mais duradouros da teologia puritana aplicada.

4.4. TeologiaSegundo William Ames, a teologia “é para nós a suprema e a mais nobre das disciplinas exatas. É um guia e plano-mestre para o nosso fim mais elevado, enviado por Deus de maneira especial, tratando das coisas divinas... Não existe preceito de verdade universal relevante para se viver bem em economia doméstica, moralidade, vida política e legislação que não pertença legitimamente à teologia” (A medula da teologia, 1623).

Os puritanos eram estritos defensores da teologia reformada, que inicialmente tinham em comum com a Igreja da Inglaterra (os Trinta e Nove Artigos ensinavam a doutrina reformada da Ceia do Senhor e afirmavam a predestinação). Depois que muitos anglicanos adotaram uma posição mais arminiana (1620s), os puritanos defenderam vigorosamente o calvinismo devido à sua afirmação intransigente da graça imerecida de Deus.

Alguns puritanos, como William Perkins, William Ames e John Owen, deram importante contribuição para o desenvolvimento da ortodoxia reformada.

Uma contribuição puritana mais específica foi a articulação do aspecto prático e afetivo da religiosidade. Richard Rogers, John Dod e Richard Sibbes foram fontes de um movimento devocional puritano que floresceu especialmente após a Restauração (1660) com grandes autores como Richard Baxter, Joseph Alleine e John Flavel.

Os puritanos escreveram uma enorme literatura sobre a vida espiritual, incluindo sermões, meditações, exposições bíblicas práticas, aforismos de orientação espiritual, biografias e autobiografias.

Essa literatura dava ênfase a temas como a experiência pessoal de conversão, a regeneração pelo Espírito Santo, a união mística da alma com Cristo, a busca de certeza da salvação e o crescimento em santidade de vida.

A maior expressão dessa “teologia afetiva” foi a alegoria de John Bunyan (†1688), O Peregrino, que retratou a vida cristã como peregrinação e luta espiritual.

A maioria dos puritanos estavam firmemente comprometidos com uma igreja nacional, dando forte ênfase à pureza do culto e do governo bíblicos como parte de uma reforma contínua. Uma pequena minoria não via esperança de reforma sem separação da igreja oficial e a criação de uma igreja de santos em relação pactual.

“A fidelidade da teologia puritana à revelação bíblica, sua abrangência, sua integração com outros tipos de conhecimento, sua profundidade pastoral e espiritual, seu êxito em criar uma tradição duradoura de culto, pregação e espiritualidade fazem dela uma tradição de permanente importância no cristianismo de língua inglesa e na tradição reformada mais ampla” (I. Breward).

4.5. Contribuições dos puritanos

Ver Leland Ryken, Santos no Mundo:
- Vida teocêntrica - Toda a vida pertence a Deus
- Vendo Deus nos lugares comuns
- A importância da vida
- Vivendo num espírito de expectativa
- O impulso prático do puritanismo
- A vida cristã equilibrada
- A simplicidade que dignifica

4.6. Puritanos notáveisWilliam Perkins (1558-1602) – sua teologia foi o primeiro grande exemplo de uma síntese da teologia reformada aplicada à transformação da sociedade, igreja e indivíduos da Inglaterra elizabetana. Em sua obra mais famosa, Armilla Aurea (A corrente de ouro – 1590), ele expôs a tradição reformada em torno do tema da teologia como “a arte de viver bem”. Deu ênfase à majestade da ordem de Deus e sua implicações sociais e pessoais. Foi o primeiro teólogo elizabetano com uma reputação internacional. Também destacou-se extraordinariamente como pregador.

William Ames (1576-1633) – discípulo mais destacado de Perkins e prolífico escritor. Sua críticas contra a Igreja da Inglaterra causaram o seu exílio na Holanda (onde foi professor) e a proibição dos seus livros na Inglaterra. Suas obras mais famosas são: A Medula da Teologia (1623) e Casos de Consciência (1630). Morreu poucos antes de uma planejada mudança para Massachusetts, onde sua influência, bem como na Holanda, persistiu até o século 18. Sua teologia prática acentuou como cada aspecto da vida devia ser dedicado à glória de Deus.

Richard Sibbes (1577-1635) – foi estudante e professor em Cambridge. Exemplificou a síntese entre profundidade bíblica e sensibilidade pastoral que caracterizou a teologia puritana no que tinha de melhor. Seus escritos são práticos antes que sistemáticos e mostram claramente porque as ênfases puritanas foram assimiladas tão plenamente pelos leigos. Escritos seus como A Porção do Cristão A Exaltação de Cristo Comprada por sua Humilhação revelam não só uma rica soteriologia, mas profundas percepções sobre a criação e a encarnação.

Thomas Goodwin (1600-1680) – foi influenciado por Sibbes e outros. Estava destinado a uma promissora carreira eclesiástica, mas abriu mão da mesma ao ser convencido por John Cotton (1584-1652) da legitimidade da independência. Depois de algum tempo na Holanda, desempenhou um papel importante na Assembléia de Westminster. Teve atuação destacada no regime de Cromwell e foi presidente do Magdalen College, em Oxford. Buscou unir independentes e presbiterianos em Cristo, o Pacificador Universal(1651). Seu profundo encontro pessoal com Cristo permeou todos os seus escritos.

Richard Baxter (1615-1691) – foi ordenado em 1638 e dois anos depois rejeitou o episcopalismo. De 1641 a 1660 foi ministro de uma paróquia em Kidderminster. Após a guerra civil, apoiou a Restauração e tornou-se capelão de Carlos II. Excluído da Igreja da Inglaterra após o Ato de Uniformidade (1662), continuou a pregar e foi encarcerado em 1685 e 1686. Tomou parte na deposição de Tiago II e deu as boas-vindas ao Ato de Tolerância de Guilherme e Maria. Suas obras incluem O Repouso Eterno dos Santos(1650) e O Pastor Reformado (1656).

John Owen (1616-1683) – ao lado de Baxter, o grande pensador sistemático da tradição teológica puritana. Educado em Oxford, enfrentou uma longa luta espiritual em busca da certeza de salvação, que terminou por volta de 1642. Dedicou seus formidáveis dotes intelectuais à causa parlamentar. Inicialmente presbiteriano, converteu-se à posição independente através da leitura de John Cotton. Fez uma vigorosa exposição do calvinismo clássico em Uma Exibição do Arminianismo (1643). Em A Morte da Morte na Morte de Cristo (1647) fez uma brilhante apresentação da doutrina da expiação limitada. Até o fim da vida trabalhou por uma igreja nacional mais abrangente e pela reconciliação dos dissidentes rivais.

John Bunyan (1628-1688) – após lutar na guerra civil, em 1653 filiou-se a uma igreja independente em Bedford. Um ou dois anos depois, começou a pregar com boa aceitação. Foi aprisionado de modo intermitente entre 1660 e 1672, o que lhe permitiu escrever sua obra-prima, O Progresso do Peregrino (1678), e outros escritos. Após 1672, dedicou-se à pregação e ao evangelismo em sua região. Outras obras famosas de sua lavra são A Guerra Santa (1682) e Graça Abundante para o Principal dos Pecadores(1666).


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