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quinta-feira, 29 de janeiro de 2015

A Doutrina Reformada da Predestinação
por
Loraine Boettner D.D.a
Copyright 1932

Capítulo 22
Que Contradiz As Passagens Universalistas da Bíblia

1. Os Termos "Vontade" e "Todos". 2. O Evangelho Tanto É Para Judeus como Para Gentios.
3. O Termo "Mundo" É Usado Em Vários Sentidos. 4. Considerações Gerais.

1. OS TERMOS "DESEJO", "VONTADE", E "TODOS"

Pode ser questionado, A doutrina da Predestinação não é direta e completamente contradita pelas Escrituras, as quais declaram que Cristo morreu por "todos os homens", ou por "todo o mundo", e que Deus quer a salvação de todos os homens? Em I Timóteo 2:3, 4 Paulo refere-se a "...Deus nosso Salvador, o qual deseja que todos os homens sejam salvos e cheguem ao pleno conhecimento da verdade" (e a palavra "todos", nos é dogmaticamente informada por nossos oponentes, deve significar cada ser humano). Em Ezequiel 33:11 lemos, "...Vivo eu, diz o Senhor Deus, que não tenho prazer na morte do ímpio, mas sim em que o ímpio se converta do seu caminho, e viva."; e em II Pedro 3:9 lemos que Deus está "...não querendo que ninguém se perca, senão que todos venham a arrepender-se." Esta mesma passagem, 'Versão King James', é lida, "Não desejando que nenhuma alma pereça..."
Estes versículos simplesmente ensinam que Deus é benevolente, e que ele não tem prazer nos sofrimentos das Suas criaturas não mais do que um pai tem prazer no castigo que algumas vezes ele inflige no seu filho. Deus não quer 'decretivamente' (como por decreto Seu) a salvação de todos os homens, não importa o quanto Ele possa desejá-la; e se quaisquer versículos ensinassem que Ele 'decretivamente' desejou ou intencionou a salvação de todos os homens, eles contradiriam aquelas outras passagens das Escrituras que ensinam que Deus soberanamente governa e que o Seu propósito é deixar alguns homens para serem punidos.
A palavra "querer" é utilizada em sentidos diferentes tanto na Bíblia como em nossas conversas diárias. Ela é algumas vezes usada no sentido de "decreto", ou "propósito", e algumas vezes no sentido de "desejo", ou "vontade". Um juiz reto e justo não quererá (no sentido de desejo) que ninguém seja enforcado ou sentenciado à prisão, todavia ele quer (pronunciando sentença, ou decretos) que a pessoa culpada seja assim punida, castigada. No mesmo sentido e por razões suficientes, um homem pode querer ou decidir ter um membro removido ou um olho extraído, muito embora ele certamente não o deseje. Os vocábulos Gregos "thelo" e "boulomai", os quais são algumas vezes traduzidos por "querer", são também utilizados no sentido de "desejo" ou "vontade"; por exemplo, Jesus disse à mãe de Tiago e de João, "...Que queres?..."[Mateus 20:21]; dos escribas foi escrito que eles "...querem andar com vestes compridas..."[Lucas 20:46]; certos Escribas e Fariseus disseram a Jesus, "...Mestre, queremos ver da tua parte algum sinal."[Mateus 12:38]; Paulo disse, "...eu antes quero falar cinco palavras com o meu entendimento, para que possa também instruir os outros, do que dez mil palavras em língua."[I Coríntios 14:19].
De maneira similar, a palavra "todos" é sem qualquer erro usada em sentidos diferentes nas Escrituras. Em alguns casos ela certamente não significa cada indivíduo; por exemplo, acerca de João Batista foi dito, "E saíam a ter com ele toda a terra da Judéia, e todos os moradores de Jerusalém; e eram por ele batizados no rio Jordão, confessando os seus pecados."[Marcos 1:5]. Depois de Pedro e João haverem curado o paralítico à porta do templo, lemos que "......todos glorificavam a Deus pelo que acontecera."[Atos 4:21]. Jesus disse aos Seus discípulos que eles seriam "...odiados de todos..."[Lucas 21:17] por causa do Seu nome. Paulo foi acusado de ser "...o homem que por toda parte ensina a todos contra o povo, contra a lei, e contra este lugar..."[Atos 21:28]. Quando Jesus disse, "E eu, quando for levantado da terra, todos atrairei a mim."[João 12:32], ele queria dizer plenamente não cada indivíduo da raça humana, pois a história mostra que nem todos indivíduos foram atraídos a Ele. Ele certamente não atrai a Si os muitos milhões de ateus que morrem em ignorância absoluta acerca do Deus verdadeiro. O que Ele quis dizer foi, que uma grande multidão de todas as nações e classes seria salva; e isto é o que vemos começar a ocorrer. Em Hebreus 2:9, lemos que Jesus provou a morte por cada homem [N.T.: a versão da Bíblia utilizada durante a presente tradução (i.e. http://www.jesussite.com.br/bibliaonline.asp) apresenta o versículo com as seguintes palavras: "vemos, porém, aquele que foi feito um pouco menor que os anjos, Jesus, coroado de glória e honra, por causa da paixão da morte, para que, pela graça de Deus, provasse a morte por todos.) O original em Grego, no entanto, não utiliza a palavra "homem", mas simplesmente a palavra "cada". Então, em princípio, se o significado não é para ser limitado àqueles que são realmente salvos, por que limitá-lo aos homens? Por que não incluir os anjos caídos, mesmo o próprio Diabo, e os animais irracionais?
O versículo em I Coríntios 15:22 é provavelmente aquele mais freqüentemente cotado pelos Arminianos para refutar o Calvinismo. Nele lê-se: "Pois como em Adão todos morrem, do mesmo modo em Cristo todos serão vivificados." O versículo é, contudo, inteiramente irrelevante. Tal versículo é do famoso 'capítulo da ressurreição' escrito por Paulo, e o contexto deixa claro que ele não está falando sobre a vida nesta era, seja vida física ou espiritual, mas acerca da vida ressurreta. Nos versos 20 e 21, lemos: "(20) Mas na realidade Cristo foi ressuscitado dentre os mortos, sendo ele as primícias dos que dormem. (21) Porque, assim como por um homem veio a morte, também por um homem veio a ressurreição dos mortos." Em seguida vem o versículo 22, "Pois como em Adão todos morrem, do mesmo modo em Cristo todos serão vivificados."; que ele refere-se não à regeneração ou a uma vivificação neste mundo presente, mas à nova vida a qual é dada na ressurreição, é deixado bem claro nos versículos subsequentes: "(23) - Cada um, porém, na sua ordem: Cristo as primícias, depois os que são de Cristo, na sua vinda. (24) Então virá o fim quando ele entregar o reino a Deus o Pai..." Cristo é o primeiro a entrar na vida ressurreta, então, quando ele vier, o Seu povo também entrará na sua vida ressurreta. Então virá o fim, isto é, o fim do mundo, e a introdução do céu em sua plenitude; e o que Paulo diz é que naquela hora uma vida ressurreta gloriosa se tornará realidade para todos aqueles que estão em Cristo. Isto é possível porque Cristo é a sua cabeça federal e seu representante. Através do Seu poder todos os Seus povos serão elevados a uma nova vida com Ele. E este ponto é ilustrado pelo bem compreendido fato de que a raça caiu em Adão, que agiu como a cabeça federal e representante de toda a raça. O que Paulo diz com efeito é isto: "Pois como em Adão todos morrem, do mesmo modo em Cristo todos serão vivificados." O versículo 22, então, não a algo passado, nem tampouco a alguma coisa no presente, mas sim a algo no futuro; e não tem absolutamente nada a ver com a controvérsia Arminiana - Calvinista.
Não foi a totalidade da humanidade que foi igualmente amada de Deus e indiscriminadamente redimida por Cristo. O louvor de João, "Àquele que nos ama, e pelo seu sangue nos libertou dos nossos pecados, e nos fez reino, sacerdotes para Deus, seu Pai..."[Apocalipse 1:5], evidentemente procede na hipótese de uma eleição definitiva e uma expiação limitada, uma vez que o amor de Deus foi a causa e o sangue de Cristo foi o meio eficaz para a redenção deles. A declaração de que Cristo morreu "por todos" fica ainda mais clara pela canção que os redimidos agora entoam ante o trono do Cordeiro: "Digno és de tomar o livro, e de abrir os seus selos; porque foste morto, e com o teu sangue compraste para Deus homens de toda tribo, e língua, e povo e nação"[Apocalipse 5:9]. A palavra 'todos' deve ser entendida como significando todos os eleitos, toda a Sua Igreja, todos aqueles a quem o Pai deu o Filho, etc., não todos homens universalmente e cada homem individualmente. A multidão de redimidos será constituída de homens de todas as classes e condições de vida, de príncipes e de mendigos, de ricos e de pobres, de prisioneiros e de homens livres, de homens e de mulheres, de jovens e de idosos, de Judeus e de Gentios, homens de todas as nações, e raças, do norte até o sul, e do leste até o oeste.

2. O EVANGELHO TANTO É PARA JUDEUS COMO PARA GENTIOS.

Em algumas instâncias, a palavra "todos" é utilizada de maneira a ensinar que o Evangelho é para os Gentios tanto quanto para os Judeus. Através de muitos séculos da sua história passada, os Judeus foram, com poucas exceções, os recipientes exclusivos da graça salvadora de Deus. Eles grandemente abusaram dos seus privilégios como a nação escolhida. Eles supunham que esta mesma distinção seria mantida durante a era Messiânica; e eles sempre estiveram inclinados a apropriar-se do Messias exclusivamente para si mesmos. O exclusivismo Farisaico era tão rígido que os Gentios eram chamados estrangeiros, cães, comuns, impuros; e não era de conformidade com a lei que um Judeu acompanhasse ou tivesse qualquer coisa a ver com um Gentio [veja em João 4:9 = "Disse-lhe então a mulher samaritana: Como, sendo tu judeu, me pedes de beber a mim, que sou mulher samaritana? (Porque os judeus não se comunicavam com os samaritanos.)" e em Atos 10:28 = "e disse-lhes: Vós bem sabeis que não é lícito a um judeu ajuntar-se ou chegar-se a estrangeiros; mas Deus mostrou-me que a nenhum homem devo chamar comum ou imundo" e em Atos 11:3 = "dizendo: Entraste em casa de homens incircuncisos e comeste com eles"]. A salvação dos Gentios era um mistério que não foi feito conhecido em outras épocas [veja em Efésios 3:4-6 = "(4) pelo que, quando ledes, podeis perceber a minha compreensão do mistério de Cristo, (5) o qual em outras gerações não foi manifestado aos filhos dos homens, como se revelou agora no Espírito aos seus santos apóstolos e profetas, (6) a saber, que os gentios são co-herdeiros e membros do mesmo corpo e co-participantes da promessa em Cristo Jesus por meio do evangelho" e em Colossenses 1:27 = "a quem Deus quis fazer conhecer quais são as riquezas da glória deste mistério entre os gentios, que é Cristo em vós, a esperança da glória"]. Foi por esta razão que Pedro foi arrebatado em êxtase para a tarefa; pela Igreja em Jerusalém após ele haver pregado o Evangelho a Cornélio, e quase que podemos ouvi-los engasgando maravilhados, na exclamação dos líderes, quando após a defesa de Pedro eles disseram: "...Assim, pois, Deus concedeu também aos gentios o arrependimento para a vida."[Atos 11:18]. Para entender que ideia revolucionária era esta, leia o texto todo, em Atos 10:1-11, 18. Consequentemente esta era uma verdade a qual foi peculiarmente necessário enfatizar, e foi trazida à tona nos termos mais fortes e mais completos. Paulo tinha de ser uma testemunha "para todos os homens", isto é, tanto para Judeus como para Gentios", do que ele havia visto e ouvido (veja em Atos 22:15 = "Porque hás de ser sua testemunha para com todos os homens do que tens visto e ouvido"). Como utilizada neste sentido, a palavra "todos" não tem nenhuma referência com indivíduos, mas significa a humanidade em geral.

3. O TERMO "MUNDO" É USADO EM VÁRIOS SENTIDOS.

Quando é dito que Cristo morreu "...não somente pelos nossos, mas também pelos de todo o mundo."[I João 2:2], ou que Ele veio para "...para salvar o mundo."[João 12:47], o significado é que não meramente os Judeus, mas os Gentios também estão incluídos na Sua obra salvadora; o mundo como um mundo ou a raça como uma raça será redimido. Quando João Batista disse, "Eis o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo."[João 1:29] ele não estava fazendo um discurso teológico para os santos, mas pregando para pecadores; e a coisa não natural então teria sido que ele discursasse sobre Expiação Limitada ou qualquer outra doutrina a qual pudesse ser compreendida somente por santos. Nos é dito que João Batista "...veio como testemunha, a fim de dar testemunho da luz, para que todos cressem por meio dele."[João 1:7]. Mas dizer que o ministério de João proporcionava uma oportunidade para cada ser humano ter fé em Cristo seria irracional. João nunca pregou para os Gentios. A sua missão era fazer com que Cristo "...fosse manifestado a Israel..."[João 1:31]; e na natureza do caso somente um número limitado dos Judeus poderia ser trazido para ouvi-lo.
Algumas vezes o termo "mundo" é usado quando somente refere-se a uma grande parte do mundo, como quando é dito que o Diabo é "o enganador de todo o mundo", ou que "toda a terra" maravilhou-se e seguiu a besta (Apocalipse 13;3). Se ao escrever o versículo em I João 5:19, "Sabemos que somos de Deus, e que o mundo inteiro jaz no Maligno" o autor quis dizer cada indivíduo da raça humana, então ele e aqueles para quem ele escreveu estavam também no maligno, e ele estaria em contradição consigo mesmo, ao dizer que eles eram de Deus. Algumas vezes este termo significa somente que uma relativamente pequena parte do mundo, como quando Paulo escreveu à nova Igreja Cristã em Roma que "...em todo o mundo é anunciada a vossa fé"[Romanos 1:8]. Ninguém a não ser os crentes aplaudiriam àqueles Romanos por sua fé em Cristo, e na verdade o mundo no sentido mais amplo da palavra nem sequer sabia que existia tal Igreja em Roma. Assim é que Paulo quis dizer somente que 'o mundo crente' ou a Igreja Cristã, o que era então uma parte comparativamente insignificante do mundo real. Um pouco antes que Jesus nascesse, "...saiu um decreto da parte de César Augusto, para que todo o mundo fosse recenseado . . . . E todos iam alistar-se..."[Lucas 2:1, 3]; todavia sabemos que o escritos tinha em mente somente aquela comparativamente pequena parte do mundo que era controlada por Roma. Quando foi dito que no dia de Pentecostes, "Habitavam então em Jerusalém judeus, homens piedosos, de todas as nações que há debaixo do céu."[Atos 2:5], entendia-se tratar somente aquelas nações que eram imediatamente conhecidas dos Judeus, já que os versículos de números 9, 10 e 11 listavam todas as que ali estavam representadas. Paulo diz que o Evangelho "...foi pregado a toda criatura que há debaixo do céu..."[Colossenses 1:23]. Da deusa dos Efésios, Diana, foi dito ter sido adorada por "toda a Ásia e o mundo..."[Atos 19:27]. A nós foi dito que a fome que veio sobre o Egito no tempo de José "...prevaleceu em todas as terras" e que "...de todas as terras vinham ao Egito, para comprarem de José..."[Gênesis 41:57].

Numa conversação normal, muitas vezes falamos do mundo dos negócios, do mundo educacional, do mundo político, etc., mas não queremos dizer que toda pessoa no mundo é um executivo, ou graduado, ou um político. Quando dizemos que um certo fabricante de automóveis vende automóveis para todo mundo, não queremos com isso dizer que eles realmente vendem para cada indivíduo, mas que eles vendem carros para todo aquele que quiser pagar o seu preço. Podemos dizer de um professor de literatura numa cidade, que ele leciona para todo mundo, -- não que todo o mundo estude com ele, mas todos aqueles que pelo menos estudam, naquela cidade, o fazem com ele. A Bíblia é escrita na linguagem plena do povo, e deve ser assim entendida.
Versículos como João 3:16, "Pois Deus amou o mundo de tal maneira, que deu o Seu Filho Unigênito, para que todo aquele que n'Ele crê não pereça, mas tenha a vida eterna", dá prova abundante de que a redenção que os Judeus pensaram em monopolizar é universal tanto quanto o espaço. Deus amou o mundo de tal maneira, não uma pequena porção do mundo, mas o mundo inteiro, que Ele deu o Seu Filho Unigênito para a sua redenção. E não somente a extensão, mas a intensidade do amor de Deus são claramente demonstradas pela importante expressão adverbial 'de tal maneira', -- Deus amou o mundo de tal maneira; Deus amou o mundo tanto, apesar da perversidade, da impiedade do mundo, que Ele deu o Seu Filho Unigênito para morrer por ele. Mas onde está a tão propalada prova da sua universalidade para com os indivíduos? Este versículo é algumas vezes pressionado a tal extremo que Deus é representado como amoroso demais para punir qualquer um, e tão cheio de misericórdia que Ele não lidará com os homens de acordo com nenhum standard, nenhum padrão rígido de justiça, independentemente dos seus merecimentos. O leitor atento, ao comparar este versículo com outros na Bíblia, verá que alguma restrição precisa ser colocada na palavra "mundo". Um escritor perguntou, "Amou Deus a Faraó?" (veja em Romanos 9:17 = "Porque a Escritura diz a Faraó: Para isto mesmo te levantei, para mostrar em ti o meu poder e para que o meu nome seja anunciado por toda a terra."). Amou Ele os Amalequitas (veja em Êxodo 17:14 = "Então, disse o Senhor a Moisés: Escreve isto para memória num livro e repete-o a Josué; porque Eu hei de riscar totalmente a memória de Amaleque de debaixo do céu."). Amou Deus os Canaanitas, a quem Ele comandou serem exterminados sem misericórdia? (veja em Deuteronômio 20:16 = "Porém, das cidades destas nações que o Senhor, teu Deus, te dá em herança, não deixarás com vida tudo o que tem fôlego."). Amou Deus os Amonitas e Moabitas, a quem Ele comandou não serem recebidos na congregação para sempre? (veja em Deuteronômio 23:3 = "Nenhum Amonita ou Moabita entrará na assembléia do Senhor; nem ainda a sua décima geração entrará na assembléia do Senhor, eternamente."). Ama Deus os que praticam a iniquidade? (veja em Salmos 5:5 = "Os arrogantes não permanecerão à tua vista; aborreces a todos os que praticam a iniquidade."). Ele ama os vasos de ira preparados para destruição, os quais Ele suporta com muita longanimidade? (veja em Romanos 9:22 = "Que diremos, pois, se Deus, querendo mostrar a Sua ira e dar a conhecer o Seu poder, suportou com muita longanimidade os vasos de ira, preparados para a perdição,"). Amou Deus a Esaú? (veja em Romanos 9:13 = "Como está escrito: Amei Jacó, porém me aborreci de Esaú.")."

4. CONSIDERAÇÕES GERAIS.

Nem o convite profético, "Ah! Todos vós, os que tendes sede, vinde às águas; e vós, os que não tendes dinheiro, vinde, comprai e comei; sim, vinde e comprai, sem dinheiro e sem preço, vinho e leite."[Isaías 55:1] e outras referências no mesmo sentido, contradizem este ponto de vista; pois a maioria da humanidade não está sedenta mas morta, morta em pecado, sem esperança e servidores aplicados de Satã, e em nenhum estado de fome e de sede, atrás da retidão. O convite gracioso de vir a Cristo é rejeitado, não porque haja qualquer coisa fora a sua própria pessoa que impeça a sua vinda, mas porque até que lhes seja graciosamente dado um novo nascimento através do operar do Espírito Santo eles não têm nem a vontade nem o desejo de aceitar. É Deus Quem dá esta vontade e Quem excita este desejo naqueles que são predestinados para a vida (veja em Romanos 11:7, 8 = "Que diremos, pois? O que Israel busca, isso não conseguiu; mas a eleição o alcançou; e os mais foram endurecidos, como está escrito: Deus lhes deu espírito de entorpecimento, olhos para não ver e ouvidos para não ouvir, até o dia de hoje." e em Romanos 9:18 = "Logo, tem Ele misericórdia que quem quer e também endurece a quem Lhe apraz."). Ele que quer, pode vir; mas uma pessoa que está completamente imersa em ateísmo, por exemplo, não tem chance de ouvir a oferta do Evangelho e não pose possivelmente vir. "E, assim, a fé vem pela pregação..."[Romanos 10:17]; e onde não há fé, não pode haver salvação. Nem pode vir aquela pessoa que ouviu o Evangelho mas que ainda é governada por princípios e desejos que fazem com que ela O odeie. Ele é um escravo do pecado e age de acordo. Ele, que quer, pode escapar de um prédio em chamas enquanto as escadas ainda estiverem seguras; mas ele que está dormindo, ou ele que não pensa seriamente no incêndio o bastante para fugir dele, não tem a vontade, e perece nas chamas. Clark diz, "Os Arminianos são fãs de dizerem: 'quem quer que seja que queira, virá', ou 'Quem quer que creia', implicando assim que a crença e a decisão são na totalidade atos de homem, e que tal fato é um golpe na soberana eleição. Verdadeiras como estas declarações são, elas não tocam no ponto em discussão. A quilômetros mais abaixo, está o ponto vital; como uma pessoa passa a querer? Se alguém quer, ele pode certamente escolher; mas a natureza pecaminosa avessa a Deus precisa ser modificada, para passar a querer, pela palavra de Deus, pela graça de Deus, pelo Espírito de Deus, ou por uma intervenção soberana." 1 Estritamente falando, estas não são ofertas divinas que são feitas indiscriminadamente a toda a humanidade, mas são endereçadas a um povo escolhido e são incidentalmente ouvidas por outros.
Se as palavras em I Timóteo 2:4, que Deus "O Qual deseja que todos os homens sejam salvos e cheguem ao pleno conhecimento da verdade.", fossem tomadas no sentido Arminiano, seguiria que, ou Deus está desapontado nos Seus desejos, ou todos os homens são salvos, sem exceção. Ademais, a doutrina que imputa desapontamento à Deidade, contradiz a classe de passagens Bíblicas as quais ensinam a soberania de Deus. A Sua vontade neste aspecto tem sido a mesma através dos séculos. E se Ele tivesse querido que os Gentios fossem salvos, por que foi que Ele confinou o conhecimento do meio de salvação aos limites estreitos da Judeia? Certamente ninguém negará que Ele poderia tão facilmente ter feito o Seu Evangelho conhecido tanto aos Gentios como aos Judeus. Onde Ele não proveu os meios, podemos estar seguros de que Ele não designou os fins. Vale a pena citar a resposta de Agostinho àqueles que adiantaram esta objeção no seu tempo: "quando o nosso Senhor lamenta que embora Ele desejasse juntar os filhos de Jerusalém como uma galinha ajunta os seus pintinhos debaixo das suas asas, mas ela (Jerusalém) não quis, devemos considerar que a vontade de Deus foi sobrepujada por um número de homens fracos, de modo que Ele que era o Deus Onipotente não poderia fazer o que Ele desejasse ou o que Ele quisesse fazer? Se é assim, no que se transforma então aquela onipotência pela qual Ele fez todas as coisas que O agradaram tanto no céu como na terra? Mais ainda, quem será encontrado tão irracional para dizer que Deus não pode converter as vontades más dos homens, os quais Lhe aprouver, quando Lhe aprouver, e como Lhe aprouver, em boas? Agora, quando Ele assim o faz, Ele o faz em misericórdia, e quando Ele não o faz, em julgamento Ele não faz." Versículos como I Timóteo 2:4 parecem ser melhor compreendidos não referirem-se aos homens individualmente, mas como um ensinamento da verdade geral que Deus é benevolente e que Ele não se alegra nos sofrimentos e na morte das suas criaturas. Pode ser ainda assinalado que se as passagens universalistas forem tomadas num sentido evangélico e aplicadas tão largamente quanto os Arminianos desejam aplicá-las, elas provarão a salvação universal, -- um resultado que é contradito pela Escritura, e o qual na verdade não é sustentado nem pelos próprios Arminianos.
Como apresentado no capítulo sobre a Expiação Limitada, há um sentido no qual Cristo de fato morreu pela humanidade em geral. Nenhuma distinção é feita quanto a idade ou país, caráter ou condição. A raça caiu em Adão e a raça no sentido coletivo foi redimida em Cristo. A obra de Cristo arrestou a execução imediata do castigo do pecado, como relacionado a toda a raça. Sua obra também traz muitas bênçãos temporais e físicas à humanidade em geral, e estabelece a fundação para a oferta do Evangelho a todos quantos O ouçam. Estes são os resultados admitidos serem da Sua obra e aplicados à toda a humanidade. Todavia isto não quer dizer que Ele morreu igualmente e que com o mesmo desígnio para todos.
É verdade que alguns versículos isolados parecem realmente implicar na posição Arminiana. Isto, contudo, reduziria a Bíblia a uma massa de contradições; pois há outros versículos os quais ensinam a Predestinação, a Incapacidade (Depravação), a Eleição, a Perseverança e etc., e os quais não podem por quaisquer meios legítimos serem interpretados em harmonia com o Arminianismo. Assim é que nesses casos, o significado do escritor sagrado pode ser determinado somente pela analogia da Escritura. Uma vez que a Bíblia é a palavra de Deus, ela é consistente em si mesma. Consequentemente, se encontramos uma passagem a qual em si mesma é capaz de duas interpretações, uma que harmoniza-se com o restante das Escrituras, enquanto que a outra não, é nosso dever então aceitar a primeira. É um princípio de interpretação reconhecido que as passagens mais obscuras devem ser interpretadas à luz de passagens mais claras, e não vice versa. Tem sido mostrado a nós que à evidência a qual é trazida à tona em defesa do Arminianismo, e a qual à primeira vista parece possuir considerável plausibilidade, pode legitimamente ser dada uma interpretação que se harmoniza com o Calvinismo. À vista das muitas passagens Calvinistas, e da ausência de qualquer uma passagem genuinamente Arminiana, nós sem hesitação fazemos a assertiva de que o sistema teológico Calvinista é o sistema verdadeiro.
Este é o verdadeiro universalismo das Escrituras Sagradas -- a Cristianização universal do mundo e a derrota completa das forças de perversidade, de impiedade espiritual. 'isto, é claro, não significa que cada indivíduo será salvo, pois muitos estão inquestionavelmente perdidos. Tanto quanto na salvação do indivíduo, perde-se muito possível serviço a Cristo e muitos pecados são cometidos antes que a salvação seja completa, assim também o é na salvação do mundo. Um número considerável são perdidos; todavia o processo de salvação terminará num grande triunfo, e os nossos olhos ainda verão "o espetáculo glorioso de um mundo salvo." As palavras do Dr. Warfield são aqui muito apropriadas: "A raça humana prossegue para o objetivo para o qual ela foi criada, e o pecado não arranca isto das mãos de Deus; o propósito primário de Deus para com ela (a raça humana) é alcançado; e através de Cristo, a raça humana, embora caída no pecado, é recuperada para Deus e alcança o seu destino original." 2
Então, enquanto o Arminianismo nos oferece um universalismo espúrio, o qual é no máximo um universalismo de oportunidade, o Calvinismo nos oferece o universalismo verdadeiro, na salvação da raça. E somente o Calvinista, com a sua ênfase nas doutrinas da Eleição soberana e da graça Eficaz, pode olhar para o futuro com confiança, esperando ver um mundo redimido.


Tradução livre: Eli Daniel da Silva
Belo Horizonte, 26 Novembro 2002

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