Vistantes

quarta-feira, 23 de julho de 2014

Confissão Belga

Confissão Belga
por

Guido de Brès
ARTIGO 1
O ÚNICO DEUS
Todos nós cremos com o coração e confessamos com a boca [1] que há um só Deus [2], um único e simples ser espiritual3. Ele é eterno [4], incompreensíve [5] invisível [6], imutável [7], infinito [8], todo-poderoso [9]; totalmente sábio [10], justo [11] e bom [12], e uma fonte muito abundante de todo bem.
1 Rm 10:10. 2 Dt 6:4; 1Co 8:4,6; 1Tm 2:5. 3 Jo 4:24. 4 S1 90:2. 5 Rm 11:33. 6 Cl 1:15; 1Tm 6:16. 7 Tg 1:17. 8 1Rs 8:27; Jr 23:24. 9 Gn 17:1; Mt 19:26; Ap 1:8. 10 Rm 16:27. 11 Rm 3:25,26; Rm 9:14; Ap 16:5,7. 12 Mt 19:17. Veja também Is 40, 44 e 46.
ARTIGO 2
COMO CONHECEMOS A DEUS
Nós O conhecemos por dois meios. Primeiro: pela criação, manutenção e governo do mundo inteiro, visto que o mundo, perante nossos olhos, é como um livro formoso [1], em que todas as criaturas, grandes e pequenas, servem de letras que nos fazem contemplar "os atributos invisíveis de Deus", isto é, "o seu eterno poder e a sua divindade", como diz o apóstolo Paulo (Romanos 1:20. Todos estes atributos são suficientes para convencer os homens e torná-los indesculpáveis.
Segundo: Deus se fez conhecer, ainda mais clara e plenamente, por sua sagrada e divina Palavra [2], isto é, tanto quanto nos é necessário nesta vida, para sua glória e para a salvação dos que Lhe pertencem.
1 Sl 19:1-4. 2 Sl 19:7,8; 1Co 1:18-21.

ARTIGO 3
A PALAVRA DE DEUS
Confessamos que a palavra de Deus não foi enviada nem produzida "por vontade humana, mas homens falaram da parte de Deus, movidos pelo Espírito Santo", como diz o apóstolo Pedro (2 Pedro 1:21).
Depois, Deus, por seu cuidado especial para conosco e para com a nossa salvação, mandou seus servos, os profetas e os apóstolos, escreverem sua palavra revelada [1]. Ele mesmo escreveu com o próprio dedo as duas tábuas da lei [2].
Por isso, chamamos estas escritas: sagradas e divinas Escrituras [3].
1 Êx 34:27; Sl 102:18; Ap 1:11,19. 2 Êx 31:18. 3 2Tm 3:16.
ARTIGO 4
OS LIVROS CANÔNICOS

A Sagrada Escritura consiste de dois volumes: O Antigo e o Novo Testamento, que são canônicos e não podem ser contraditos de forma alquma.
A Igreja de Deus reconhece a lista seguinte:
Os livros do Antigo Testamento:
Gênesis, Êxodo, Levítico, Números, Deuteronômio (os cinco livros de Moisés); Josué, Juízes, Rute, 1 e 2 Samuel, 1 e 2 Reis, 1 e 2 Crônicas, Esdras, Neemias, Ester, Jó, Salmos, Provérbios, Eclesiastes, Cantares; Isaías, Jeremias (com Lamentaçoes), Ezequiel, Daniel (os quatro profetas maiores); Oséias, Joel, Amós, Obadias, Jonas, Miquéias, Naum, Habacuque, Sofonias, Ageu, Zacarias e Malaquias (os doze profetas menores);
Os livros do Novo Testamento:
Mateus, Marcos, Lucas, João (os quatro evangelistas); Atos dos Apóstolos; Romanos, 1 e 2 Coríntios, Gálatas, Efésios, Filipenses,
Colossenses, 1 e 2 Tessalonicenses, 1 e 2 Timóteo, Tito, Filemom (as treze epístolas do apóstolo Paulo); Hebreus, Tiago, 1 e 2 Pedro,
1, 2 e 3 João, Judas e Apocalipse.
ARTIGO 5
A AUTORIDADE DA SAGRADA ESCRITURA
Recebemos [1] todos estes livros, e somente estes, como sagrados e canônicos, para regular, fundamentar e confirmar nossa fé [2]. Acreditamos, sem dúvida nenhuma, em tudo que eles contêm, não tanto porque a igreja aceita e reconhece estes livros como canônicos, mas principalmente porque o Espírito Santo testifica em nossos corações que eles vêm de Deus [3], como eles mesmos provam. Pois até os cegos podem sentir que as coisas, preditas neles, se cumprem [4]. 

1 - 1Ts 2:13. 
2 - 2Tm 3:16,17. 
- 1Co 12:3; 1Jo 4:6; 1Jo 5:6b. 
4 - Dt 18:21,22; 1Rs 22:28; Jr 28:9; Ez 33:33.
ARTIGO 6
A DIFERENÇA ENTRE OS LIVROS CANÔNICOS E APOCRIFOS

Distinguimos estes livros sagrados dos livros apócrifos que são os seguintes: 3 e 4 Esdras, Tobias, Judite, Sabedoria, Eclesiástico, Baruc, os Acréscimos ao livro de Ester e Daniel, a Oração de Manassés e 1 e 2 Macabeus.
A igreja pode, sim, ler estes livros e tirar deles ensino, na medida em que concordem com os livros canonicos. Porém, os apocrifos não tem tanto poder e autoridade que o testemunho deles possa confirmar qualquer artigo da fé ou da religião cristã; e muito menos podem eles diminuir a autoridade dos sagrados livros.
ARTIGO 7
A SAGRADA ESCRITURA : PERFEITA E COMPLETA

Cremos que esta Sagrada Escritura contém perfeitamente a vontade de Deus e suficientemente ensina tudo o que o homem deve crer para ser salvo [1]. Nela, Deus descreveu, por extenso, toda a maneira de servi-Lo. por isso, não e lícito aos homens, mesmo que fossem apóstolos "ou um anjo vindo do céu", conforme diz o apóstolo Paulo (Gálatas 1:8), ensinarem outra doutrina, senão aquela da Sagrada Escritura [2]. É proibido "acrescentar algo a Pa lavra de Deus ou tirar algo dela" [3] (Deuteronômio 12:32; Apocalipse 22:18,19). Assim se mostra claramente que sua doutrina é perfeitíssima e, em todos os sentidos, completa [4].
Não se pode igualar escritos de homens, por mais santos que fossem os autores, às Escrituras divinas. Nem se pode igualar à verdade de Deus costumes, opiniões da maioria, instituições antigas, sucessão de tempos ou de pessoas, ou concílios, decretos ou resoluções [5]. Pois a verdade está acima de tudo e todos os homens são mentirosos (Salmo 116:11) e "mais leves que a vaidade" (Salmo 62:9).
Por isso, rejeitamos, de todo o coração, tudo que não está de acordo com esta regra infalível [6], conforme os apóstolos nos ensinaram: "Provai os espíritos se procedem de Deus" (l João 4:1), e: "Se alguém vem ter convosco e não traz esta doutrina, não o recebais em casa" (2 João :10).
1 2Tm 3:16,17; 1Pe 1:10-12. 2 1Co 15:2; 1Tm 1:3. 3 Dt 4:2; Pv 30:6; At 26:22; 1Co 4:6. 4 Sl 19:7; Jo 15:15; At 18:28; At 20:27; Rm 15:4. 5 Mc 7:7-9; At 4:19; Cl 2:8; 1Jo 2:19. 6 Dt 4:5,6; Is 8:20; 1Co 3:11; Ef 4:4-6; 2Ts 2:2; 2Tm 3:14,15.

ARTIGO 8
A TRINDADE: UM SÓ DEUS, TRÊS PESSOAS

Conforme esta verdade e esta palavra de Deus, cremos em um só Deus [1], que é um único ser, em que há três Pessoas: o Pai, o Filho e o Espírito Santo [2]. Estas são, realmente e desde a eternidade, distintas conforme os atributos próprios de cada Pessoa.
O Pai é a causa, a origem e o princípio de todas as coisas visíveis e invisíveis [3]. O Filho é o Verbo, a sabedoria e a imagem do Pai [4]. O Espírito Santo, que procede do Pai e do Filho, é a eterna força e o poder [5].
Esta distinção não significa que Deus está dividido em três. Pois a Sagrada Escritura nos ensina que cada um destes três, o Pai e o Filho e o Espírito Santo, tem sua própria existência, distinta por seus atributos, de tal maneira, porém, que estas três pessoas são um só Deus. É claro, então, que o Pai não é o Filho e que o Filho não é o Pai; que, também, o Espírito Santo não é o Pai ou o Filho.
Entretanto, estas Pessoas, assim distintas, não são divididas nem confundidas entre si. Porque somente o Filho se tornou homem, não o Pai ou o Espírito Santo. O Pai jamais existiu sem seu Filho [6] e sem seu Espírito Santo, pois todos os três têm igual eternidade, no mesmo ser. Não há primeiro nem último, pois todos os três são um só em verdade, em poder, em bondade e em misericórdia.
1 1Co 8:4-6. 2 Mc 3:16,17; Mt 28:19. 3 Ef 3:14,15. 4 Pv 8:22-31; Jo 1:14; Jo 5:17-26; 1Co 1:24; Cl 1:15-20; Hb 1:3; Ap 19:13. 5 Jo 15:26. 6 Mq 5:1; Jo 1:1,2.
ARTIGO 9
O TESTEMUNHO DA ESCRITURA SOBRE A TRINDADE

Tudo isto sabemos tanto pelo testemunho da Sagrada Escritura [1], como pelas obras das três Pessoas, principalmente por aquelas que percebemos em nós. Os testemunhos das Sagradas Escrituras, que nos ensinam a crer nesta Trindade, se acham em muitos lugares do Antigo Testamento. Não é preciso alistá-los, somente escolhê-los cuidadosamente. Em Gênesis 1:26 e 27, Deus
diz: "Façamos o homem a nossa imagem, conforme a nossa semelhança" etc. "Criou Deus, pois, o homem a sua imagem; homem e mulher os criou".
Assim também em Gênesis 3:22: "Eis que o homem se tornou como um de nós". Com isto se mostra que há mais de uma pessoa em Deus, porque Ele
diz: "Façamos o homem a nossa imagem"; e, em seguida, Ele indica que há um só Deus, quando diz: "Deus criou". É verdade que Ele não diz quantas pessoas há, mas o que é um tanto obscuro, para nós, no Antigo Testamento, é bem claro no Novo. Pois quando nosso Senhor foi batizado no rio Jordão, ouviu-se a voz do Pai, que falou: "Este é o meu filho amado" (Mateus 3:17); enquanto o Filho foi visto na água e o Espírito Santo se manifestou em forma de pomba [2].
A1ém disto, Cristo instituiu, para o batismo de todos os fiéis, esta forma: Batizai todas as nações "em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo" (Mateus 28:19). No evangelho segundo Lucas, o anjo Gabriel diz a Maria, mãe do Senhor: "Descerá sobre ti o Espírito Santo e o poder do Altíssimo te envolverá com a sua sombra; por isso também o ente santo que há de nascer, será chamado Filho de Deus" (Lucas 1:35). Do mesmo modo: "A graça do Senhor Jesus Cristo, e o amor de Deus, e a comunhão do Espírito Santo sejam com todos vós" (2 Coríntios 13:13). * Em todos estes lugares, nos é ensinado que há três Pessoas em um só ser divino. E embora esta doutrina ultrapasse o entendimento humano, cremos nela, baseados na Palavra, e esperamos gozar de seu pleno conhecimento e fruto no céu.
Devemos considerar, também, a obra própria que cada uma destas três Pessoas efetua em nós: o Pai é chamado nosso Criador, por seu poder; o Filho é nosso Salvador e Redentor, por seu sangue; o Espírito Santo é nosso Santificador, porque habita em nosso coração.
A verdadeira igreja sempre tem mantido esta doutrina da Trindade, desde os dies dos apóstolos até hoje, contra os judeus, os muçulmanos e falsos cristãos e hereges como Marcião, Mani, Práxeas, Sabélio, Paulo de Samósata, Ário e outros. A igreja antiga os condenou, com toda a razão. por isso, nesta matéria, aceitamos, de boa vontade, os três Credos ecumênicos, a saber: o Apostólico, o Niceno e o Atanasiano; e também o que a igreja antiga determinou em conformidade com estes credos.
1 - Jo 14:16; Jo 15:26; At 2:32,33; Rm 8:9; Gl 4:6; Tt 3:4-6; 1Pe 1:2; 1Jo 4:13,14; 1Jo 5:1-12; Jd :20,21; Ap 1:4,5. 
2 - Mt 3:16.
* Originalmente o texto incluía aqui as seguintes palavras: "E: "há três que dão testemunho no céu: o Pai, a Palavra, e o Espírito Santo; e estes três são um" (1 Jo 5:7)". A referência a 1 João 5:7b e duvidosa, porque este texto não se acha nos manuscritos antigos.

ARTIGO 10
JESUS CRISTO É DEUS

Cremos que Jesus Cristo, segundo sua natureza divina, é o único Filho de Deus [1], gerado desde a eternidade. Ele não foi feito, nem criado - pois, assim, Ele seria uma criatura, - mas é de igual substância do pai, co-eterno, "o resplendor da glória e a expressão exata do seu Ser" (Hebreus 1:3), igual a Ele em tudo [2].
Ele é o Filho de Deus, não somente desde que assumiu nossa natureza, mas desde a eternidade [3], como os seguintes testemunhos nos ensinam, ao serem comparados uns aos outros:
Moisés diz que Deus criou o mundo [4], e o apóstolo João diz que todas as coisas foram feitas por intermédio do Verbo que ele chama Deus [5]. O apóstolo diz que Deus fez o universo por seu Filho [6] e, também, que Deus criou todas as coisas por meio de Jesus Cristo [7]. Segue-se necessariamente que aquele que é chamado Deus, o Verbo, o Filho e Jesus Cristo, já existia, quando todas as coisas foram criadas por Ele. O profeta Miquéias, portanto, diz: "Suas origens são desde os tempos antigos, desde os dias da eternidade" (Miquéias 5:2); e a carta aos Hebreus testemunha: "Ele não teve princípio de dias, nem fim de existência" (Hebreus 7:3).
Assim, Ele é o verdadeiro, eterno Deus, o Todo-poderoso, a quem invocamos, adoramos e servimos.
1 Mt 17:5; Jo 1:14,18; Jo 3:16; Jo 14:1-14; Jo 20:17,31; Rm 1:4; Gl 4:4; Hb 1:1; lJo 5:5,9-12. 2 Jo 5:18,23; Jo 10:30; Jo 14:9; Jo 20:28; Rm 9:5; Fp 2:6; Cl 1:15; Tt 2:13; Hb 1:3; Ap 5:13. 3 Jo 8:58; Jo 17:5; Hb 13:8. 4 Gn 1:1. 5 Jo 1:1-3. 6 Hb 1:2. 7 1Co 8:6; Cl 1:16.
ARTIGO 11
O ESPÍRITO SANTO É DEUS
Cremos e confessamos, também, que o Espírito Santo procede do Pai e do Filho, desde a eternidade. Ele não foi feito, nem criado, nem gerado; mas procede de ambos1.
Na ordem, Ele é a terceira pessoa da Trindade, de igual substância, majestade e glória do Pai e do Filho, verdadeiro e eterno Deus, como nos ensinam as Sagradas Escrituras2.
1 Jo 14:15-26; Jo 15:26; Rm 8:9. 2 Gn 1:2; Mt 28:19; At 5:3,4; lCo 2:10; 1Co 6:11; 1Jo 5:6.
ARTIGO 12
A CRIACAO DO MUNDO; OS ANJOS
Cremos que o Pai, por seu Verbo - quer dizer: por seu Filho -, criou, do nada, o céu, a terra e todas as criaturas, quando bem Lhe aprouvel. A cada criatura Ele deu sua própria natureza e forma e sua própria função para servir ao seu Criador. Também, Ele ainda hoje sustenta todas essas criaturas e as governa segundo sua eterna providencia e por seu infinito poder, para elas servirem ao homem, a fim de que o homem sirva a seu Deus.
Ele também criou bons os anjos para serem seus mensageiros e servirem aos eleitos2. Alguns deles caíram na eterna perdição3, da posição excelente em que Deus os tinha criado, mas os outros, pela graça de Deus, perseveraram e continuaram em sua primeira posição. Os demonios e os espíritos malignos são tão corrompidos que são inimigos de Deus e de todo o bem4. Como assassinos, com toda a sua força, estão a espreita da igreja e de cada um de seus membros, para demolir e destruir tudo com sua astúcia5. Por isso, por causa de sua própria malícia, estão condenados a maldição eterna e aguardam, a cada dia, seus tormentos terríveis6.
Neste ponto, rejeitamos e detestamos o erro dos saduceus que negam a existência de espíritos e de anjos7; também o erro dos maniqueus que dizem que os demónios têm sua origem em si mesmos e são maus por natureza; eles negam que os demónios se corromperam.
1 Gn 1:1; Gn 2:3; Is 40:26; Jr 32:17; Cl 1:15,16; lTm 4:3; Hb 11:3; Ap 4:11. 2 Sl 103:20,21; Mt 4:11; Hb 1:14. 3 Jo 8:44; 2Pe 2:4; Jd :6. 4 Gn 3:1-5; lPe 5:8. 5 Ef 6:12; Ap 12:4,13-17; Ap 20:7-9. 6 Mt 8:29; Mt 25:41; Ap 20:10. 7 At 23:8.
ARTIGO 13
A PROVIDÊNCIA DE DEUS

Cremos que o bom Deus, depots de ter criado todas as coisas, não as abandonou, nem as entregou ao acaso ou a sorte1, mas que as dirige e governa conforme sua santa vontade, de tal maneira que neste mundo nada acontece sem sua determinação2. Contudo, Deus não é o autor, nem tem culpa do pecado que se comete3. Pois seu poder e bondade são tão grandes e incompreensíveis, que Ele ordena e faz sua obra muito bem e com justiça, mesmo que os demónios e os ímpios ajam injustamente4. E as obras dEle que ultrapassam o entendimento humano, não queremos investigá-las curiosamente, além da nossa capacidade de entender. Mas, adoramos humilde e piedosamente a Deus em seus justos julgamentos, que nos estão escondidos5. Contentamo-nos em ser discípulos de Cristo, a fim de que aprendamos somente o que Ele nos ensina na sua Palavra, sem ultrapassar estes limites6.
Este ensino nos traz um inexprimível consolo, quando aprendemos dele, que nada nos acontece por acaso, mas pela determinação de nosso bondoso Pai celestial. Ele nos protege com um cuidado paternal, dominando todas as criaturas de tal modo que nenhum cabelo - pois estes estão todos contados- e nenhum pardal cairão em terra sem o consentimento de nosso Pai (Mateus 10:29,30). Confiamos nisto, pois sabemos que Ele reprime os demônios e todos os nossos inimigos, e que eles, sem sua permissão, não nos podem prejudicar7. Por isso, rejeitamos o detestável erro dos epicureus, que dizem que Deus não se importa com nada e entrega tudo ao acaso.
1 Jo 5:17; Hb 1:3. 2 Sl 115:3; Pv 16:1,9,33; Pv 21:1; Ef 1:11. 3 Tg 1:13; 1Jo 2:16. 4 Jó 1:21; Is 10:5; Is 45:7; Am 3:6; At 2:23; At 4:27,28. 5 1Rs 22:19-23; Rm 1:28; 2Ts 2:11. 6 Dt 29:29; 1Co 4:6. 7 Gn 45:8; Gn 50:20; 2Sm 16:10; Rm 8:28,38,39.
ARTIGO 14
A CRIAÇÃO DO HOMEM. SUA QUEDA
E SUA INCAPACIDADE DE FAZER O BEM
Cremos que Deus criou o homem do pó da terra1, e o fez e formou conforme sua imagem e semelhança: bom, justo e santo2, capaz de concordar, em tudo, com a vontade de Deus. Mas, quando o homem estava naquela posição excelente, ele não a valorizou e não a reconheceu. Dando ouvidos às palavras do diabo, submeteu-se por livre vontade ao pecado e assim à morte e à maldição3. Pois transgrediu o mandamento da vida, que tinha recebido e, pelo pecado, separou-se de Deus, que era sua verdadeira vida. Assim ele corrompeu toda a sua natureza e mereceu a morte corporal e espiritual4.
Tornando-se ímpio, perverso e corrupto em todas as suas práticas, ele perdeu todos os dons excelentes5, que tinha recebido de Deus. Nada lhe sobrou destes dons, senão pequenos traços, que são suficientes para deixar o homem sem desculpa6. Pois toda a luz em nós se tornou em trevas7 como nos ensina a Escritura: "A luz resplandece nas trevas, e as trevas não prevaleceram contra ela" (João 1:5). Aqui o apóstolo João chama os homens "trevas". Por isso, rejeitamos todo o ensino contrário, sobre o livre arbítrio do homem, porque o homem somente é escravo do pecado e "não pode receber coisa alguma se do céu não lhe for dada" (João 3:27). Pois quem se gloriará de fazer alguma coisa boa pela própria força, se Cristo diz: "Ninguém pode vir a mim se o Pai que me enviou não o trouxer" (João 6:44)? Quem falará sobre sua própria vontade sabendo que "o pendor da came e inimizade contra Deus" (Romanos 8:7)? Quem ousará vangloriar-se sobre seu próprio conhecimento, reconhecendo que "o homem natural não aceita as coisas do Espírito de Deus" (1Coríntios 2:14)? Em resumo: quem apresentará um pensamento sequer, admitindo que não somos "capazes de pensar alguma coisa como se partisse de nós", mas que "a nossa suficiencia vem de Deus" (2Coríntios 3:5)?
Por isso, devemos insistir nesta palavra do apóstolo: "Deus é quem efetua em vós tanto o querer como o realizar, segundo a sua vontade" (Filipenses 2:13). Pois, somente o entendimento ou a vontade que Cristo opera no homem, está em conformidade com o entendimento e vontade de Deus, como Ele ensina: "Sem mim nada podeis fuzer" (João 15:5).
1 Gn 2:7; Gn 3:19; Ec 12:7. 2 Gn 1:26,27; Ef 4:24; Cl 3:10. 3 Gn 3:16-19; Rm 5:12. 4 Gn 2:17; Ef 2:1; Ef 4:18. 5 Sl 94:11; Rm 3:10; Rm 8:6. 6 Rm 1:20,21. 7 Ef 5:8.

ARTIGO 15
O PECADO ORIGINAL

Cremos que, pela desobediência de Adão, o pecado original se estendeu por todo o gênero humanol. Este pecado é uma depravação de toda a natureza humana2 e um mal hereditário, com que até as crianças no ventre de suas mães estão contaminadas3. É a raiz que produz no homem todo tipo de pecado. por isso, é tão repugnante e abominável diante de Deus que é suficiente para condenar o gênero humano4.
Nem pelo batismo o pecado original é totalmente anulado ou destruído, porque o pecado sempre jorra desta depravação como água corrente de uma fonte contaminada5. 0 pecado original, porém, não é atribuído aos filhos de Deus para condená-los, mas é perdoado pela graça e misericórdia de Deus6. Isto não quer dizer que eles podem continuar descuidadamente numa vida pecaminosa. Pelo contrário, os fiéis, conscientes desta depravação, devem aspirar a livrar-se do corpo dominado pela morte (Romanos 7:24).
Neste ponto rejeitamos o erro do pelagianismo, que diz que o pecado é somente uma questão de imitação.
1 Rm 5:12-14,19. 2 Rm 3:10. 3 Jó 14:4; Sl 51:5; Jo 3:6. 4 Ef 2:3. 5 Rm 7:18,19. 6 Ef 2:4,5.
ARTIGO 16
ELEIÇÃO ETERNA POR DEUS

Cremos que Deus, quando o pecado do primeiro homem lançou Adão e toda a sua descendência na perdiçãol mostrou-se como Ele é, a saber: misericordioso e justo. Misericordioso, porque Ele livra e salva da perdição aqueles que Ele em seu eterno e imutável conselho2, somente pela bondade, elegeu3 em Jesus Cristo nosso Senhor4, sem levar em consideração obra alguma deles5. Justo, porque Ele deixa os demais na queda e perdição, em que eles mesmos se lançaram6.
1 Rm 3:12. 2 Jo 6:37,44; Jo 10:29: Jo 17: 2,9,12; Jo 18:9. 3 1Sm 12:22; Sl 65:4; At 13: 48; Rm 9:16; Rm 11:5; Tt 1:1. 4 Jo 15:16,19; Rm 8:29; Ef 1:4,5. 5 Ml 1:2,3; Rm 9:11-13; 2Tm 1:9; Tt 3:4,5. 6 Rm 9:19-22; 1Pe 2:8.

ARTIGO 17
O SALVADOR, PROMETIDO POR DEUS

Cremos que nosso bom Deus, vendo que o homem havia se lançado assim na morte corporal e espiritual e se havia feito totalmente miserável, foi pessoalmente em busca do homem, quando este, tremendo, fugia de sua presençal. Assim Deus mostrou sua maravilhosa sabedoria e bondade. Ele confortou o homem com a promessa de lhe dar seu Filho, que nasceria de uma mulher (Gálatas 4:4) a fim de esmagar a cabeca da serpente (Gênesis 3:15) e de tornar feliz o homem2.
1 Gn 3:9. 2 Gn 22:18; Is 7:14; Jo 1:14; Jo 5:46; Jo 7:42; At 13:32; Rm 1:2,3; Gl 3:16; 2Tm 2:8; Hb 7:14.
ARTIGO 18
A ENCARNAÇÃO DO FILHO DE DEUS

Confessamos, então, que Deus cumpriu a promessa, feita aos pais antigos pela boca dos seus santos profetasl, quando enviou ao mundo seu próprio, único e eterno Filho, no tempo determinado por Ele2. Este assumiu a forma de servo e tornou-se semelhante aos homens (Filipenses 2:7), tomando realmente a verdadeira natureza humana com todas as suas fraquezas3, mas sem o pecado4. Foi concebido no ventre da bemaventurada virgem Maria, pelo poder do Espírito Santo, sem intervenção do homem5. E não somente tomou a natureza humana quanto ao corpo, mas também a verdadeira alma humana, para que fosse um verdadeiro homem. Pois, estando perdidos tanto a alma como o corpo, Ele devia tomar ambos para salvá-los.
Por isso, confessamos (contra a heresia dos anabatistas que negam que Cristo tomou a natureza de sua mãe), que Cristo participou do sangue e da carne dos filhos de Deus (Hebreus 2:14); que Ele, "segundo a carne, veio da descendência de Davi" (Romanos 1:3); fruto do ventre de Maria (Lucas 1:42); nascido de uma mulher (Gálatas 4:4); rebento de Davi (Jeremias 33:15; Atos 2:30); renovo da raiz de Jessé (Isaías 11:1); brotado de Judá (Hebreus 7:14); descendente dos judeus, segundo a carne (Romanos 9:5); da descendência de Abraão6, tornando-se semelhante aos irmãos em tudo, mas sem pecado (Hebreus 2:16,17; 4:15).
Assim Ele é, na verdade, nosso Emanuel, isto é: Deus conosco (Mateus 1:23).
1 Gn 26:4; 2Sm 7:12-16; Sl 132:11; Lc 1:55; At 13:23. 2 Gl 4:4. 3 1Tm 2:5; 1Tm 3:16; Hb 2:14. 4 2Co 5:21; Hb 7:26; 1Pe 2:22. 5 Mt 1:18; Lc 1:35. 6 Gl 3:16.
ARTIGO 19
AS DUAS NATUREZAS DE CRISTO

Cremos que, por esta concepção, a pessoa do Filho está unida e conjugada inseparavelmente, com a natureza humana1. Não há, então, dois filhos de Deus, nem duas pessoas, mas duas naturezas, unidas numa só pessoa, mantendo cada uma delas suas características distintas. A natureza divina permaneceu não criada, sem início, nem fim de vida (Hebreus 7:3), preenchendo céu e terra2. Do mesmo modo a natureza humane não perdeu suas características, mas permaneceu criatura, tendo início, sendo uma natureza finita e mantendo tudo o que é próprio de um verdadeiro corpo3. E ainda que, por meio da sua ressurreição, Cristo tenha concedido imortalidade a sua natureza humana, Ele não transformou a realidade da mesma4, pois nossa salvação e ressurreição dependem também da realidade de seu corpo5.
Estas duas naturezas, porém, estão unidas numa só pessoa de tal maneira que nem por sua morte foram separadas. Ao morrer, Ele entregou, então, nas mãos de seu Pai um verdadeiro Espírito humano, que saiu de seu corpo6, entretanto, a natureza divina sempre continuou unida a humana, mesmo quando Ele jazia no sepulcro7. A divindade não cessou de estar nEle, assim como estava nEle quando era criança, embora, por algum tempo, não se tivesse manifestado.
Por isso, confessamos que Cristo é verdadeiro Deus e verdadeiro homem: verdadeiro Deus a fim de veneer a morte por seu poder; verdadeiro homem a fim de morrer por nós na fraqueza de sua carne.
1 Jo 1:14; Jo 10:30; Rm 9:5; Fp 2:6,7. 2 Mt 28:20. 3 1Tm 2:5. 4 Mt 26:11; Lc 24:39; Jo 20:25; At 1:3,11; At 3:21; Hb 2:9. 5 1Co 15:21; Fp 3:21. 6 Mt 27:50. 7 Rm 1:4.
ARTIGO 20
A JUSTIÇA E A MISERICÓRDIA DE DEUS EM CRISTO

Cremos que Deus, perfeitamente misericordioso e justo, enviou seu Filho para assumir a natureza humane em que foi cometida a desobediêncial. Nesta natureza, Ele satisfez a Deus, carregando o castigo pelos pecados, através de seu mui amargo sofrimento e morte2. Assim Deus provou sua justiça sobre seu Filho, quando carregou sobre Ele nossos pecados3 e derramou sua bondade e misericórdia sobre nós, culpados e dignos da condenação. Por amor perfeitíssimo, Ele entregou seu Filho a morte, por nós, e O ressuscitou para nossa justificação4, a fim de que, por Ele, tivéssemos a imortalidade e a vida eterna.
1 Rm 8:3. 2 Hb 2:14. 3 Rm 3:25,26; Rm 8:32. 4 Rm 4:25.
ARTIGO 21
A SATISFAÇÃO POR CRISTO

Cremos que Jesus Cristo é um eterno Sumo Sacerdote, segundo a ordem de Melquisedeque, o que Deus confirmou por juramentol. Perante seu Pai e para apaziguar-Lhe a ira, Ele se apresentou em nosso nome, por satisfação própria2, sacrificando-se a si mesmo e derramando seu precioso sangue, para purificação dos nossos pecados3, conforme os profetas predisseram4.
Pois, está escrito que "o castigo que nos traz a paz estava sobre " o Filho de Deus e que "pelas suas pisaduras fomos sarados"5; "como cordeiro foi levado ao matadouro"; "foi contado com os transgressores"6 (Isaías 53: 5,7,12); e como criminoso foi condenado por Pôncio Pilatos embora este o tivesse declarado inocente7. Assim, então, restituiu o que não tinha furtado (Salmo 69:4), e sofreu, "o justo pelos injustos"8 (lPedro 3:18), tanto no seu corpo como na sua alma9, de maneira que sentiu o terrível castigo que os nossos pecados mereceram. Assim "o seu suor se tornou como gotas de sangue caindo sobre a terra " (Lucas 22:44). Ele "clamou em alta voz: Deus meu, Deus meu, por que me desamparaste?" (Mateus 27:46) e padeceu tudo para a remissão dos nossos pecados.
Por isso, dizemos, com razão, junto com Paulo que não sabemos outra coisa, "senão Jesus Cristo, e este crucificado" (1Corlntios 2:2). Consideramos "tudo como perda por causa da sublimidade do conhecimento de Cristo Jesus", nosso Senhor (Filipenses 3:8). Encontramos toda consolação em seus ferimentos e não precisamos buscar ou inventar qualquer outro meio para nos reconciliarmos com Deus, "porque com uma única oferta aperfeicoou para sempre quantos estão sendo santificados,10 (Hebreus 10:14). Por isso, o anjo de Deus O chamou Jesus, quer dizer: Salvador, porque ia salver "o seu povo dos pecados deles "11 (Mateus 1:21).
1 Sl 110:4; Hb 7:15-17. 2 Rm 4:25; Rm 5: 8-9; Rm 8:32; Gl 3:13; Cl 2:14; Hb 2:9,17; Hb 9:11-15. 3 At 2:23; Fp 2:8; 1Tm 1:15; Hb 9:22; 1Pe 1:18,19; 1Jo 1:7; Ap 7:14. 4 Lc 24:25-27; Rm 3:21; 1Co 15:3. 5 1Pe 2:24. 6 Mc 15:28. 7 Jo 18:38. 8 Rm 5:6. 9 Sl 22:15. 10 Hb 7:26-28; Hb 9:24-28. 11 Lc 1:31; At 4:12.
ARTIGO 22
A JUSTIFICAÇÃO PELA FÉ EM CRISTO

Cremos que, para obtermos verdadeiro conhecimento desse grande mistério, o Espírito Santo acende, em nosso coração, verdadeira fé1. Esta fé abraça Jesus Cristo com todos os seus méritos, apropria-se dEle e nada mais busca fora dEle2. Pois das duas, uma: ou não se ache em Jesus Cristo tudo o que é necessário para nossa salvação, ou tudo se acha nEle, e, então, aquele que possui Jesus Cristo pela fé, tem a salvação completa3. Dizer porém que Cristo não é suficiente, mas que, além dEle, algo mais é necessário, significaria uma blasfêmia horrível. Pois Cristo seria apenas um salvador incompleto.
Por isso, dizemos, com razão, junto com o apóstolo Paulo, que somos justificados somente pela fé, ou pela fe sem as obras4 (Romanos 3:28). Entretanto, não entendemos isto como se a própria fé nos justificasse5, mas ela é somente o instrumento com que abraçamos Cristo, nossa justiça. Mas Jesus Cristo, atribuindo-nos todos os seus méritos e tantas obras santas, que fez por nós e em nosso 1ugar, é nossa justiça6. E a fé é o instrumento que nos mantém com Ele na comunhão de todos os seus benefícios. Estes, uma vez dados a nós, são mais que suficientes para nos absolver dos pecados.
1 Jo 16:14; 1Co 2:12; Ef 1:17,18. 2 Jo 14:6; At 4:12; Gl 2:21. 3 Sl 32:1; Mt 1:21; Lc 1: 77; At 13:38,39; Rm 8:1. 4 Rm 3:19-4:8; Rm 10:4-11; Gl 2:16; Fp 3:9; Tt 3:5. 5 1Co 4:7. 6 Jr 23:6; Mt 20:28; Rm 8:33; 1Co 1:30,31; 2Co 5:21; 1Jo 4:10.

ARTIGO 23
NOSSA JUSTIÇA PERANTE DEUS EM CRISTO

Cremos que nossa verdadeira felicidade consiste no perdão dos pecados, por causa de Jesus Cristo, e que isto significa para nós a justiça perante Deusl. Assim nos ensinam Davi e Paulo, declarando: "Bem-aventurado o homem a quem Deus atribui justiça, independentemente de obras" (Romanos 4:6; Salmo 32:2). E o mesmo apóstolo diz que somos "justificados gratuitamente, por sua graça, mediante a redenção que há em Cristo Jesus"2 (Romanos 3: 24).
Portanto, perseveramos neste fundamento, dando toda a glória a Deus3, humilhando-nos e reconhecendo que nós, homens, somos maus. Não nos vangloriamos, de nenhuma maneira, de nós mesmos ou de nossos méritos4. Somente nos apoiamos e repousamos na obediência do Cristo crucificado5. Esta obediência é nossa se cremos nEle6. Ela é suficiente para cobrir todas as nossas iniqüidades. Ela liberta nossa consciência de temor, perplexidade e espanto e, assim, nos dá ousadia de aproximarmo-nos de Deus, sem fazermos como nosso primeiro pai Adão que, tremendo, quis cobrir-se com folhas de figueira7. E, certamente, se tivéssemos que comparecer perante Deus, apoiando-nos, por pouco que fosse, em nós mesmos ou em qualquer outra criatura - ai de nós -, pereceríamos8. Por isso, cada um deve dizer com Davi: "Ó Senhor, não entres em juízo com o teu servo, porque a tua vista não há justo nenhum vivente" (Salmo 143:2).
1 1Jo 2:1. 2 2Co 5:18,19; Ef 2:8; 1Tm 2:6. 3 Sl 115:1; Ap 7:10-12. 4 1Co 4:4; Tg 2:10. 5 At 4:12; Hb 10:20. 6 Rm 4:23-25. 7 Gn 3:7; Sf 3:11; Hb 4:16; 1Jo 4:17-19. 8 Lc 16:. 15; Fp 3:4-9.

ARTIGO 24
A SANTIFICAÇÃO

Cremos que a verdadeira fé, tendo sido acesa no homem pelo ouvir da Palavra de Deus e pela obra do Espírito Santol, regenera o homem e o torna um homem novo2. Esta verdadeira fé o faz viver na vida nova e o liberta da escravidão do pecado3.
Por isso, é impossível que esta fé justificadora leve os homens a se descuidarem da vida piedosa e santa4. Pelo contrário, sem esta fé jamais farão alguma coisa por amor a Deus5, mas somente por amor a si mesmos e por medo de serem condenados. É impossível, portanto, que esta fé permaneça no homem sem frutos. Pois, não falamos de uma fé vã, mas da fé, de que a Escritura diz que "atua pelo amor" (Gálatas 5:6). Ela move o homem a exercitar-se nas obras que Deus mandou na sua Palavra. Estas obras, se procedem da boa raíz da fé; são boas e agradáveis a Deus, porque todas elas são santificadas por sua graça.
Entretanto, elas não são levadas em conta para nos justificar. Porque é pela fé em Cristo que somos justificados, mesmo antes de fazermos boas obras6. De outro modo, estas obras não poderíam ser boas, assim como o fruto da árvore não pode ser bom, se a árvore não for boa7.
Então, fazemos boas obras, mas não para merecermos algo. Pois, que mérito poderíamos ter? Antes, somos devedores a Deus pelas boas obras que fazemos e não Ele a nós8. Pois, "Deus e quem efetua em" nós "tanto o querer como o realizar, segundo sua boa vontade" (Filipenses 2:13). Então, lev emos a sério o que está escrito: "Assim também vós, depois de haverdes feito quanto vos foi ordenado, dizei: Somos servos inúteis, porque fizemos apenas o que devíamos fazer" (Lucas 17:10). Contudo, não queremos negar que Deus recompensa as boas obras9; mas, por sua graça, Ele coroa seus próprios dons.
E, em seguida, mesmo que façamos boas obras, nelas não fundamentamos nossa salvação. Porque, por sermos pecadores, não podemos fazer obra alguma que não esteja contaminada e não mereça ser castigadal0. E, ainda que pudéssemos produzir uma só boa obra, a lembrança de um só pecado bastaria para torná-la rejeitável perante Deusll. Assim, sempre duvidaríamos, levados de um lado para o outro, sem certeza alguma, e nossa pobre consciência estaria sempre aflita, a não ser que se apoiasse no mérito do sofrimento e da morte de nosso Salvadorl2.
1 At 16:14; Rm 10:17; 1Co 12:3. 2 Ez 36:26, 27; Jo 1:12,13; Jo 3:5; Ef 2:4-6; Tt 3:5; 1Pe 1:23. 3 Jo 5:24; Jo 8:36; Rm 6:4-6; 1Jo 3:9. 4 Gl 5:22; Tt 2:12. 5 Jo 15:5; Rm 14: 23; 1Tm 1:5; Hb 11:4,6. 6 Rm 4:5. 7 Mt 7:17. 8 1Co 1:30: 1Co 4:7; Ef 2:10. 9 Rm 2:6,7; 1Co 3:14; 2Jo :8; Ap 2:23. 10 Rm 7:21. 11 Tg 2:10. 12 Hc 2:4; Mt 11:28; Rm 10:11.
ARTIGO 25
CRISTO, O CUMPRIMENTO DA LEI

Cremos que as cerimônias e figuras da lei terminaram com a vinda de Cristo e que, assim, todas as sombras chegaram ao fiml. Por isso, os cristãos não devem mais usá-las. Contudo, para nós, sua verdade e substância permanecem em Cristo Jesus, em quem têm seu cumprimento2.
Entretanto, ainda usamos os testemunhos da Lei e dos Profetas para confirmarmo-nos no Evangelho e, também, para regularmos nossa vida em toda honestidade, para a glória de Deus, conforme sua vontade3.
1 Mt 27:51; Rm 10:4; Hb 9:9,10. 2 Mt 5:7; Gl 3:24; Cl 2:17. 3 Rm 13:8-10; Rm 15:4; 2Pe 1:19; 2Pe 3:2.
ARTIGO 26
CRISTO, NOSSO ÚNICO ADVOGADO

Cremos que nenhum acesso temos a Deus, senão pelo único Mediadorl e Advogado Jesus Cristo, o Justo2. Porque Ele se tornou homem e uniu as naturezas divina e humana, para que nós, homens, tivéssemos acesso à majestade divina3. De outro modo, nenhum acesso teríamos. Mas este Mediador que o Pai constituiu entre Ele e nós, não nos deve assustar por sua grandeza, a ponto de fazer-nos procurar um outro, conforme nossa própria vontade. Porque não há ninguém , nem no céu, nem na terra, entre as criaturas, que nos ame mais que Jesus Cristo4. "Pois ele, subsistindo em forma de Deus ... a si mesmo se esvaziou, assumindo a forma de servo, tornando-se em semelhança de homens" por nós, "em todas as coisas ... semelhante aos irmãos" (Filipenses 2:6,7; Hebreus 2:17).
Agora, se tivéssemos que buscar outro mediador que nos fosse favorável, quem poderíamos encontrar que mais nos amasse senão Ele que entregou sua vida por nós, sendo nós ainda inimigos (Romanos 5:8,10)? E se tivéssemos que buscar alguém que tivesse poder e estima, quem os teria tanto quanto Ele que está sentado a direita de seu Pai5, e que tem "toda a autoridade... no céu e na terra" (Mateus 28:18)? E quem será ouvido antes do que o próprio bem-amado Filho de Deus6?
Foi, então, somente falta de confiança que levou os homens ao costume de desonrar os santos em vez de honrá-los. Pois fazem o que estes santos jamais fizeram ou desejaram mas sempre rejeitaram conforme era seu dever7, como mostram seus escritos.
Aqui não se deve alegar que não somos dignos; pois não apresentamos as orações a Deus em razão de nossa dignidade, mas somente pela excelência e dignidade de nosso Senhor Jesus Cristo8, cuja justiça é a nossa, mediante a fé9. Por isso, a Escritura nos diz, querendo tirar de nós esse tolo receio, ou antes, essa falta de confiança, que Jesus Cristo tornou-se "em todas as coisas... semethante aos irmãos, para ser misericordioso e fiel sumo sacerdote nas coisas referentes a Deus, e para fazer propiciação pelos pecados do povo. Pois naquilo que ele mesmo sofreu, tendo sido tentado, é poderoso para socorrer os que são tentados" (Hebreus 2:17,18). E a Escritura diz também, para animar-nos ainda mais a ir para Ele: "Tendo, pois, a Jesus, o Filho de Deus, como grande sumo sacerdote que entrou nos céus, conservemos firmes a nossa confissão. Porque não temos sumo sacerdote que não possa compadecer-se das nossas fraquezas, antes foi ele tentado em todas as coisas, a nossa semelhança, mas sem pecado. Acheguemo-nos, portanto, confiadamente, junto ao trono da graça, a fim de recebermos misericordia e acharmos graça para socorro em ocasião oportuna"l0 (Hebreus 4:14-16). A Escritura diz ainda: "Tendo, pois, irmãos, intrepidez para entrar no Santo dos santos, pelo sangue de Jesus... aproximemo-nos... em plena certeza de fé etc." (Hebreus 10:19-22). E também: Cristo "tem o seu sacerdócio imutável. Por isso, também pode salvar totalmente os que por ele se chegam a Deus, vivendo sempre para interceder por eles "11 (Hebreus 7:24,25).
Então, do que precisamos mais, visto que o próprio Cristo declara: "Eu sou o camninho, e a verdade, e a vida; ninguém vem ao Pai senão por mim" (João 14:6)? Por que buscaríamos outro advogado visto que agradou a Deus nos dar seu Filho como Advogado? Não O abandonemos para buscar outro que nunca encontraremos. Pois quando Deus O deu a nós, bem sabia que éramos pecadores.
Por isso, conforme o mandamento de Cristo, invocamos o Pai celestial mediante Cristo, nosso únicoMediadorl2, como nos foi ensinado na oração do Senhorl3. E temos a certeza de que o Pai nos concederá tudo o que Lhe pedirmos em nome de Cristol4 (João 16:23).
1 1Tm 2 5. 2 1Jo 2:1. 3 Ef 3:12. 4 Mt 11: 28; Jo 15:13; Ef 3:19; 1Jo 4:10. 5 Hb 1:3; Hb 8:1. 6 Mt 3:17; Jo 11:42; Ef 1:6. 7 At 10:26; At 14:15. 8 Jr 17:5,7; At 4:12. 9 1Co 1:30. 10 Jo 10:9; Ef 2:18; Hb 9:24. 11 Rm 8:34. 12 Hb 13:15. 13 Mt 6:9-13; Lc 11:2-4. 14 Jo 14:13.

ARTIGO 27
A IGREJA CATÓLICA OU UNIVERSAL

Cremos e confessamos uma só igreja católica ou universal1. Ela é uma santa congregação e assembléia2 dos verdadeiros crentes em Cristo, que esperam toda a sua salvação de Jesus Cristo3, lavados pelo sangue dEle, santificados e selados pelo Espírito Santo4.
Esta igreja existe desde o princípio do mundo e existirá até o fim. Pois, Cristo é um Rei eterno, que não pode estar sem súditos5. Esta santa igreja é mantida por Deus contra o furor do mundo inteiro6, mesmo que ela, às vezes, por algum tempo, seja muito pequena e na opinião dos homens, quase desaparecida7. Assim, Deus guardou para si, na perigosa época de Acabe, sete mil homens, que não tinham dobrado os joelhos a Baal8.
Esta santa igreja também não está situada, fixada ou limitada em certo lugar, ou ligada a certas pessoas, mas ela está espalhada e dispersa pelo mundo inteiro9. Contudo, está integrada e unida, de coração e vontade, no mesmo Espírito, pelo poder da fé10.
1 Gn 22:18; Is 49:6; Ef 2:17-19. 2 Sl 111:1; Jo 10:14,16; Ef 4:3-6; Hb 12:22,23. 3 Jl 2: 32; At 2:21. 4 Ef 1:13; Ef 4:30. 5 2Sm 7:16; Sl 89:36; Sl 110:4; Mt 28:18,20; Lc 1:32. 6 Sl 46:5; Mt 16:18. 7 Is 1:9; 1Pe 3:20; Ap 11:7. 8 1Rs 19:18; Rm 11:4. 9 Mt 23:8; Jo 4:21-23; Rm 10:12,13. 10 Sl 119:63; At 4:32; Ef 4:4.
ARTIGO 28
O DEVER DE JUNTAR-SE À IGREJA

Esta santa assembléia é a congregação daqueles que são salvos, e fora dela não há salvaçãol. Cremos, então, que ninguém, qualquer que seja a posição ou qualidade, deve viver afastado dela e contentar-se com sua própria pessoa. Mas cada um deve se juntar e se reunir a ela2, mantendo a unidade da igreja, submetendo-se a sua instrução e disciplina3, curvando-se diante do jugo de Jesus Cristo4 e servindo para a edificação dos irmãos5, conforme os dons que Deus concedeu a todos, como membros do mesmo corpo6.
Para observar melhor tudo isto, o dever de todos os fiéis é, conforme a Palavra de Deus, separar-se daqueles que não pertencem a igreja7, e juntar-se a esta assembléia8 em todo lugar onde Deus a tenha estabelecido. Este dever deve ser cumprido, mesmo que os governos e as leis das autoridades o contrariem e mesmo que a morte ou a pena corporal sejam a consequência disto9.
Por isso, todos os que se separam desta igreja ou não se juntam a ela, contrariam a ordem de Deus.
1 Mt 16:18,19; At 2:47; Gl 4:26; Ef 5:25-27; Hb 2:11,12; Hb 12:23. 2 2Cr 30:8; Jo 17:21; Cl 3:15. 3 Hb 13:17. 4 Mt 11:28-30. 5 Ef 4:12. 6 1Co 12:7,27; Ef 4:16. 7 Nm 16:23-26; Is 52:11,12; At 2:40; Rm 16:17; Ap 18:4. 8 Sl 122:1; Is 2:3; Hb 10:25. 9 At 4:19,20.

ARTIGO 29
AS MARCAS DA VERDADEIRA IGREJA,
DE SEUS MEMBROS E DA FALSA IGREJA

Cremos que se deve discernir diligentemente e com muito cuidado, pela Palavra de Deus, qual é a verdadeira igreja, visto que todas as seitas, que atualmente existem no mundo, se chamam igreja, mas sem razãol. Não falamos aqui dos hipócritas que, na igreja, se acham entre os sinceros fiéis; contudo, não pertencem à igreja, embora sejam membros dela2. Mas queremos dizer que se deve distinguir o corpo e a comunhão da verdadeira igreja, de todas as seitas que se dizem igreja.
As marcas para conhecer a verdadeira igreja são estas: ela mantém a pura pregação do Evangelho3, a pura administração dos sacramentos4 como Cristo os instituiu, e o exercício da disciplina eclesiástica para castigar os pecados5. Em resumo: ela se orienta segundo a pura Palavra de Deus6, rejeitando todo o contrário a esta Palavra7 e reconhecendo Jesus Cristo como o único Cabeça8. Assim, com certeza, se pode conhecer a verdadeira igreja; e a ninguém convém separar-se dela.
Aqueles que pertencem à igreja podem ser conhecidos pelas marcas dos cristãos, a saber: pela fé9 e pelo fato de que eles, tendo aceitado Jesus Cristo como único Salvador, fogem do pecado e seguem a justiçal0, amando Deus e seu próximo11, não se desviando para a direita nem para a esquerda e crucificando a carne, com as obras dela12. Isto não quer dizer, por ém , que eles não têm ainda grande fraqueza, mas, pelo Espírito, a combatem, em todos os dias de sua vida 13, e sempre recorr em ao sangue, à morte, ao sofrimento e à obediência do Senhor Jesus. NEle eles têm a remissão dos pecados, pela fél4.
Quanto à falsa igreja, ela atribui mais poder e autoridade a si mesma e a seus regulamentos do que à Palavra de Deus e não quer submeter-se ao jugo de Cristo15. Ela não administra os sacramentos como Cristo ordenou em sua Palavra, mas acrescenta ou elimina o que lhe convém. Ela se baseia mais nos homens que em Cristo. Ela persegue aqueles que vivem de maneira santa, conforme a Palavra de Deus, e que lhe repreendem os pecados, a avareza e a idolatria16.
É fácil conhecer estas duas igrejas e distingui-las uma da outra.
1 Ap 2:9. 2 Rm 9:6. 3 Gl 1:8; 1Tm 3:15. 4 At 19:3-5; 1Co 11:20-29. 5 Mt 18:15-17; 1Co 5:4,5,13; 2Ts 3:6,14; Tt 3:10. 6 Jo 8:47; Jo 17:20; At 17:11; Ef 2:20; Cl 1:23; 1Tm 6:3. 7 1Ts 5:21; lTm 6:20; Ap 2:6. 8 Jo 10:14; Ef 5:23; C1 1:18. 9 Jo 1:12; 1Jo 4:2. 10 Rm 6:2; Fp 3:12. 11 1Jo 4:19-21. 12 Gl 5:24. 13 Rm 7:15; G1 5:17. 14 Rm 7:24,25; 1Jo 1: 7-9. 15 At 4:17,18; 2Tm 4:3,4; 2Jo :9. 16 Jo 16:2.
ARTIGO 30
O GOVERNO DA IGREJA

Cremos que esta verdadeira igreja deve ser governada conforme a ordem espiritual, que nosso Senhor nos ensinou na sua Palavra1. Deve haver ministros ou pastores para pregarem a Palavra de Deus e administrarem os sacramentos2; deve haver também presbíteros3 e diaconos4 para formarem, com os pastores, o conselho da igreja5. Assim, eles devem manter a verdadeira religião e fazer com que a verdadeira doutrina seja propagada, que os transgressores sejam castigados e contidos, de forma espiritual, e que os pobres e os aflitos recebam ajuda e consolação, conforme necessitam6.
Desta maneira, tudo procederá, na igreja, em boa ordem, quando forem eleitas pessoas fiéis7, conforme a regra do apóstolo Paulo na carta a Timóteo8.
1 At 20:28; Ef 4:11,12; 1Tm 3:15; Hb 13:20, 21. 2 Lc 1:2; Lc 10:16; Jo 20:23; Rm 10:14; 1Co 4:1; 2Co 5:19,20; 2Tm 4:2. 3 At 14:23; Tt 1:5. 4 1Tm 3:8-10. 5 Fp 1:1; 1Tm 4:14. 6 At 6:1-4; Tt 1:7-9. 7 1Co 4:2. 8 1Tm 3.

ARTIGO 31
OS OFÍCIOS NA IGREJA

Cremos que os ministros da palavra de Deus, os presbíteros e os diáconos devem ser escolhidos para seus ofícios.mediante eleição legítima pela igreja, sob invocação do nome de Deus e em boa ordem, conforme a palavra de Deus ensina.
Por isso, cada membro deve cuidar para não se apoderar do ofício por meios ilícitos, mas deve esperar a hora em que é chamado por Deus, a fim de ter, assim, a certeza de que sua vocação vem do Senhor2.
Quanto aos ministros da Palavra, eles têm, onde quer que estejam, igual poder e autoridade, porque todos são servos de Jesus Cristo3, o único Bispo universal e o único Cabeça da igreja4.
Além disto, a santa ordem de Deus não pode ser violada ou desprezada. Dizemos, portanto, que cada um deve ter respeito especial pelos ministros da Palavra e presbíteros da igreja, em razão do trabalho que realizam5. Cada um deve viver em paz com eles, tanto quanto possível, sem murmuração, contenda ou discórdia.
1 At 1:23,24; At 6:2,3. 2 At 13:2; 1Co 12: 28; 1Tm 4:14; 1Tm 5:22; Hb 5:4. 3 2Co 5:20; 1Pe 5:1-4. 4 Mt 23:8,10; Ef 1:22; Ef 5:23. 5 1Ts 5:12,13; 1Tm 5:17; Hb 13:17.
ARTIGO 32
A ORDEM E A DISCIPLINA DA IGREJA

Cremos que os que governam a igreja devem cuidar para não se desviarem do que Cristo, nosso único Mestre, nos ordenou1; embora seja útil e bom que, entre eles, se estabeleça e conserve determinada ordem para manter o corpo da igreja.
Por isso, rejeitamos todas as invenções humanas e todas as leis que se queiram introduzir para servir a Deus, mas que venham, de qualquer maneira, comprometer e constranger a consciência2. Aceitamos, então, somente o que serve para promover e guardar a concórdia e a unidade e para manter tudo na obediência a Deus3.
Esta ordem (caso desobedecida exige a excomunhão), feita conforme a Palavra de Deus, com todas as suas conseqüências4.
1 1Tm 3:15. 2 Is 29:13; Mt 15:9; Gl 5:1. 3 1Co 14:33. 4 Mt 16:19; Mt 18:15-18; Rm 16:17; 1Co 5; 1Tm 1:20.

ARTIGO 33
OS SACRAMENTOS

Cremos que nosso bom Deus, atento à nossa ignorância e fraqueza, instituiu os sacramentos, a fim de nos selar suas promessas e nos conceder penhores de sua benevolência e graça para conosco e, também, alimentar e sustentar nossa fé1. Ele acrescentou os sacramentos à palavra do Evangelho2 para melhor apresentar aos nossos sentidos tanto o que Ele nos declara por sua Palavra, como o que Ele opera em nossos coraçoes.
Assim, Ele confirma a salvação de que nos fez participar. Pois os sacramentos são visíveis sinais e selos de uma realidade interna e invisível. Através deles, Deus opera em nós, pelo poder do Espírito Santo3. Por isso, os sinais não são vãos nem vazios para nos enganar, porque Jesus Cristo é a verdade deles e, sem Ele, nada seriam.
Além disto, nos contentamos com o número dos sacramentos que Cristo, nosso Mestre, instituiu e que não são mais de dois: o sacramento do batismo4 e o da santa ceia de Jesus Cristo5.
1 Gn 17:9-14; Êx 12; Rm 4:11. 2 Mt 28:19; Ef 5:26. 3 Rm 2:28,29; Cl 2:11,12. 4 Mt 28:19. 5 Mt 26:26-28; 1Co 11:23-26.
ARTIGO 34
O SANTO BATISMO

Cremos e confessamos que Jesus Cristo, o qual é "o fim da lei" (Romanos 10:4), derramando seu sangue, acabou com qualquer outro derramamento de sangue, que se possa ou queira realizar para reconciliação dos pecados. Tendo abolido a circuncisão, que se praticava com sangue, Ele instituiu, em lugar dela, o sacramento do batismo [1].
Pelo batismo somos recebidos na igreja de Deus e separados de todos os outros povos e outras religiões para pertencermos totalmente a Ele [2], tendo sua marca e estandarte. O batismo nos serve para testemunhar que Ele eternamente será nosso Deus e misericordioso Pai.
Por isso, Cristo mandou batizar todos os seus "em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo" (Mateus 28:19), somente com água. Desta forma Ele nos dá a entender que assim como a água tira a impureza do corpo, quando derramada em nós, e também assim como a água é vista no corpo de quem recebe o batismo, assim o sangue de Cristo, através do Espírito Santo [3], lava a alma, purificando-a dos pecados [4], e faz com que nós, filhos da ira nasçamos de novo para sermos filhos de Deus [5].
Porém, não somos purificados de nossos pecados pela água do batismo6, mas pela aspersão com o precioso sangue do Filho de Deus [7]. Ele é nosso Mar Vermelho [8], que devemos atravessar para escapar da tirania de Faraó - que é o diabo - e para entrar na Canaã espiritual.
Os ministros, por sua parte, nos administram somente o sacramento, que é visível, mas nosso Senhor nos concede o que o sacramento significa, a saber: os dons invisíveis da graça. Ele lava nossa alma, purificando-a e limpando-a de todas as impurezas e iniqüidades [9]. Ele renova nosso coração, enchendo-o de toda a consolação, e nos dá a verdadeira certeza de sua bondade paternal. Ele nos reveste do novo homem, despindo-nos do velho com todas as suas obras [10].
Por isso, cremos que quem quer entrar na vida eterna, deve ser batizado só uma vez [11]. O batismo não pode ser repetido, porque também não podemos nascer duas vezes e porque este batismo tem utilidade não somente no momento de recebê-lo, mas durante a vida inteira.
Rejeitamos, portanto, o erro dos anabatistas, que não se contentam com o batismo que uma vez receberam e que, além disto, condenam o batismo dos filhos pequenos dos crentes. Nós cremos, porém, que eles devem ser batizados e, com o sinal da aliança, devem ser selados, assim como as crianças em Israel eram circuncidadas com base nas mesmas promessas que foram feitas a nossos filhos [12]. Cristo, de fato, derramou seu sangue para lavar, igualmente, as crianças dos fiéis e os adultos [13]. Por isso, elas devem receber o sinal e o sacramento da obra que Cristo fez para elas, como o Senhor, outrora, na lei, determinava que as crianças p.articipassem, pouco depois do seu nascimento, do sacramento do sofrimento e da morte de Cristo, através da oferta de um cordeiro [14], que era um sacramento de Jesus Cristo.
Além disto, o batismo tem, para nossos filhos, o mesmo efeito que a circuncisão tinha para o povo judeu. É por esta razão que o apóstolo Paulo chama ao batismo: "a circuncisão de Cristo" (Colossenses 2:11).
1 - Cl 2:11. 
2 - Êx 12:48; 1Pe 2:9. 
3 - Mt 3:11; 1Co 12:13. 
4 - At 22:16; Hb 9:14; 1Jo 1:7; Ap 1:5b. 
5 - Tt 3:5. 
6 - 1Pe 3:21. 
7 - Rm 6:3; 1Pe 1:2; 1Pe 2:24. 
8 - 1Co 10:1-4. 
9 - 1Co 6:11: Ef 5:26. 
10 - Rm 6:4; Gl 3:27. 
11 - Mt 28:19; Ef 4:5. 12 Gn 17: 10-12; Mt 19:14; At 2:39. 13 1Co 7:14. 14 Lv 12:6.
ARTIGO 35
A SANTA CEIA

Cremos e confessamos que nosso Salvador Jesus Cristo ordenou e instituiu o sacramento da santa ceia [1], a fim de alimentar e sustentar aqueles que Ele já fez nascer de novo e incorporou à sua família, que é a sua igreja.
Agora, aqueles que nasceram de novo têm duas vidas diferentes [2]. Uma é corporal e temporária: eles a trouxeram de seu primeiro nascimento e todos os homens a tem. A outra é espiritual e celestial: ela lhes é dada no segundo nascimentp que se realiza pela palavra do Evangelho [3], na comunhão com o corpo de Cristo. Esta vida apenas os eleitos de Deus possuem. Assim Deus ordenou para a manutenção da vida corporal e terrestre, pão comum, terrestre, que todos recebem como recebem a vida.
Porém, a fim de manter a vida espiritual e celestial, que os crentes possuem, Ele lhes enviou um "pão vivo, que desceu do céu" (João 6:51) , isto é, Jesus Cristo [4]. Ele alimenta e mantém a vida espiritual dos crentes [5] quando é comido, quer dizer: aceito espiritualmente e recebido pela fé [6].
A fim de nos figurar este pão espiritual e celestial, Cristo ordenou um pão terrestre e visível como sacramento de seu corpo e o vinho como sacramento de seu sangue [7]. Com eles nos assegura: tão certo como recebemos o sacramento e o temos em nossas mãos e o comemos e bebemos com nossa boca, para manter nossa vida, tão certo recebemos em nossa alma pela fé [8] - que é a mão e a boca da nossa alma -, o verdadeiro corpo e o verdadeiro sangue de Cristo, nosso único Salvador, para manter nossa vida espiritual.
Agora, há certeza absoluta de que Jesus Cristo não nos ordenou seus sacramentos a toa. Então, Ele realiza em nós tudo o que nos apresenta por estes santos sinais, embora de maneira além da nossa compreensão, como também a ação do Espírito Santo é oculta e incompreensível [9].
Entretanto, não nos enganamos, dizendo que, o que comemos e bebemos, é o próprio corpo natural e o próprio sangue de Cristo. Porém, a forma pela qual os tomamos não é pela boca, mas, espiritual, pela fé. Desta maneira, Jesus Cristo permanece sentado a direita de Deus, seu Pai, no céu [10] e, contudo, Ele se comunica a nós pela fé. Nesta ceia festiva e espiritual, Cristo nos faz participar de si mesmo com todas as suas riquezas e dons e deixa-nos usufruir tanto de si mesmo como dos méritos de seu sofrimento e morte [11]. Ele alimenta, fortalece e consola nossa pobre alma desolada pelo comer de seu corpo, e a reanima e renova pelo beber de seu sangue.
Depois, embora os sacramentos estejam unidos com a realidade da qual são um sinal, nem todos recebem ambos [12]. O ímpio recebe, sim, o sacramento, para sua condenação, mas não a verdade do sacramento, como Judas e Simão, o Mago: ambos receberam o sacramento, mas não a Cristo que por este é figurado [13]. Porque somente os crentes participam dEle [14].
Finalmente, recebemos na congregação do povo de Deus [15] este santo sacramento com humildade e reverência. Assim comemoramos juntos, com ações de graça, a morte de Cristo, nosso Salvador, e fazemos confissão da nossa fé e da religião cristã [16]. Por isto, ninguém deve participar da ceia antes de ter-se examinado a si mesmo, da maneira certa, para, enquanto comer e beber, não comer e beber juízo para si (lCoríntios 11:28,29). Em resumo, somos movidos, pelo uso deste santo sacramento, a um ardente amor para com Deus e nosso próximo.
Por esta razão rejeitamos como profanação dos sacramentos todos os acréscimos e abomináveis invenções que o homem introduziu neles e misturou com eles. E declaramos que se deve contentar com a ordenação que Cristo e seus apóstolos nos ensinaram e falar sobre os sacramentos conforme eles falaram.
1 - Mt 26:26-28; Mc 14:22-24; Lc 22:19,20; 1Co 11:23-26. 
2 - Jo 3:5,6. 
3 - Jo 5:25. 
4 - Jo 6:48-51. 
5 - Jo 6:63; Jo 10:10b. 
6 - Jo 6:40,47. 
7 - Jo 6:55; 1Co 10:16. 
8 - Ef 3:17. 
9 - Jo 3:8. 
10 - Mc 16:19; At 3:21. 
11 - Rm 8:32; 1Co 10:3,4. 
12 - 1Co 2:14. 
13 - Lc 22:21,22; At 8:13,21. 
14 - Jo 3:36. 
15 - At 2:42; At 20:7. 
16 - At 2:46; 1Co 11:26.

ARTIGO 36
O OFÍCIO DAS AUTORIDADES CIVIS
Cremos que nosso bom Deus, por causa da per versidade do gênero humano, constituiu reis, governos e autoridades [1]. Ele quer que o mundo seja governado por leis e códigos [2], para que a indisciplina dos homens seja contida e tudo ocorra entre eles em boa ordem [3]. Para este fim Ele forneceu às autoridades a espada para castigar os maus e proteger os bons (Romanos 13:4).
Seu ofício não é apenas cuidar da ordem pública e zelar por ela, mas também proteger o santo ministério da igreja a fim de * promover o reino de Jesus Cristo e a pregação da Palavra do Evangelho em todo lugar [4], para que Deus seja honrado e servido por todos, como Ele ordena na sua Palavra.
Depois, cada um, em qualquer posição que esteja, tem a obrigação de submeter-se às autoridades, pagar impostos, render-lhes honra e respeito, obedecer-lhes [5] em tudo o que não contraria a Palavra de Deus [6], e orar em favor delas para que Deus as guie em todos os seus caminhos, "para que vivamos vida tranqüila e mansa com toda piedade e respeito" (lTimóteo 2:2).
Neste assunto rejeitamos os anabatistas e outros revolucionários e em geral todos os que se opõem às autoridades e aos magistrados, e querem derrubar a ordem judicial [7], introduzindo a comunhão de bens, e que abalam os bons costumes que Deus estabeleceu entre as pessoas.
1 Pv 8:15; Dn 2:21; Jo 19:11; Rm 13:1.2 Êx 18:20. 3 Dt 1:16; Dt 16:19; Jz 21:25; Sl 82; Jr 21:12; Jr 22:3; 1Pe 2:13,14. 4 Sl 2; Rm 13:4a; 1Tm 2:1-4. 5 Mt 17:27; Mt 22:21; Rm 13:7; Tt 3:1; 1Pe 2:17. 6 At 4:19; At 5:29. 7 2Pe 2:10; Jd :8.
* Originalmente o texto incluía aqui as se guintes palavras: "...impedir e exterminar toda idolatria e falso culto a Deus, destruir o reino do anticristo e ...".
ARTIGO 37
O JUÍZO FINAL
Finalmente, cremos conforme a palavra de Deus que, quando chegar o momento determinado pelo Senhor [1] - o qual todas as criaturas desconhecem -, e o número dos eleitos estiver completo [2], nosso Senhor Jesus Cristo virá do céu, corporal e visívelmente [3], assim como subiu ao céu (Atos 1:11), com grande glória e majestade [4]. Ele se manifestará Juiz sobre vivos e mortos [5], enquanto porá em fogo e chamas este velho mundo para purificá-lo [6].
Naquele momento comparecerão perante este grande Juiz, pessoalmente, todas as pessoas que viveram neste mundo [7]: homens, mulheres e crianças, citados pela voz do arcanjo e pelo som da trombeta divina (1Tessalonicenses 4:16). Porque todos os mortos ressuscitarão da terra [8] e as almas serão reunidas aos seus próprios corpos em que viveram. E a respeito daqueles que ainda estiverem vivos: eles não morrerão como os outros, mas serão transformados num só momento. De corruptíveis se tornarão incorruptíveis [9].
Então, se abrirão os livros e os mortos serão julgados (Apocalipse 20:12), segundo o que tiverem feito neste mundo, seja o bem ou o mal [10] (2Coríntios 5:10). Sim, "de toda palavra frívola que proferirem os homens, dela darão conta" (Mateus 12:36), mesmo que o mundo a considere apenas brincadeira e passatempo. Assim será trazido à luz diante de todos o que os homens praticaram às escondidas, inclusive sua hipocrisia.
Portanto, pensar neste juízo e realmente horrível e pavoroso para os homens maus e ímpios [11], mas muito desejável e consolador para os justos e eleitos. A salvação destes será totalmente completada e eles receberão os frutos de seu penoso labor [12]. Sua inocência será reconhecida por todos e eles presenciarão a vingança terrível de Deus contra os ímpios, que os tiranizaram, oprimiram e atormentaram neste mundo [13]. Os ímpios serão levados a reconhecer sua culpa pelo testemunho da própria consciência. Eles se tornarão imortais, mas somente para serem atormentados no "fogo eterno [14], preparado para o diabo e seus anjos " [15] (Mateus 25:41).
Os crentes e eleitos, porém, serão coroados com glória e honra. O Filho de Deus confessará seus nomes diante de Deus, seu Pai (Mateus 10:32), e seus anjos eleitos [16] e Deus "lhes enxugará dos olhos toda lagrima" [17] (Apocalipse 21:4). Assim ficará manifesto que a causa deles, que agora por muitos juízes e autoridades está sendo condenada como herética e ímpia, é a causa do Filho de Deus. E, como recompensa gratuita, o Senhor os fará possuir a glória que jamais poderia surgir no coração de um homem [18].
Por isso, esperamos este grande dia com grande anseio para usufruirmos plenamente das promessas de Deus em Jesus Cristo, nosso Senhor.
1 Mt 24:36; Mt 25:13; 1Ts 5:1,2. 2 Hb 11. 39,40; Ap 6:11. 3 Ap 1:7. 4 Mt 24:30; Mt 25: 31. 5 Mt 25:31-46; 2Tm 4:1; 1Pe 4:5. 6 2Pe 3:10-13. 7 Dt 7:9-11; Ap 20:12,13. 8 Dn 12: 2; Jo 5:28,29. 9 1Co 15:51,52; Fp 3:20,21. 10 Hb 9:27; Ap 22:12. 11 Mt 11:22; Mt 23: 33; Rm 2:5,6; Hb 10:27; 2Pe 2:9; Jd :15; Ap 14:7a. 12 Lc 14:14; 2Ts 1:3-10; 1Jo 4:17. 13 Ap 15:4; Ap 18:20. 14 Mt 13:41,42; Mc 9:48; Lc 16:23-28; Ap 21:8. 15 Ap 20:10. 16 Ap 3:5. 17 Is 25:8; Ap 7:17. 18 Dn 12: 3; Mt 5:12; Mt 13:43; 1Co 2:9; Ap 21:9-22:5.





Grupos administrados:

Minhas páginas e participações:
Página como editor:

Página sobre missões:

Páginas de apoio:

Página de Donald Arthur Carson (D.A.Carson):

Página de Aiden Wilson Tozer:

Página principal:

Página pessoal:

sexta-feira, 18 de julho de 2014

Chamado para Apóstolo. Dr. Martyn Lloyd-Jones

Apóstolo Paulo

Chamado para Apóstolo. Dr. Martyn Lloyd-Jones


“...Servo de Jesus Cristo, chamado para apóstolo, separado para o evangelho...” (Romanos 1:1)

Neste texto vemos 3 declarações:

1) SERVO DE CRISTO -
Paulo enfatiza a pessoa de Cristo. Jesus é o centro da vida do apóstolo e por isso ele O serve. Antes ele o perseguia quando perseguia os cristãos (“Saulo, Saulo, por que me persegues?” Atos 9:4).

Mas Paulo não apenas fala de ser servo de Jesus, mas que Jesus é o Messias, O Cristo, O Ungido de Deus para realizar a obra salvífica do seu povo. Paulo sempre fala de Jesus como aquele que padeceu na cruz; era sua pregação: Cristo crucificado! Este era o propósito de Jesus ao vir ao mundo. Mas o apóstolo sempre dizia que este Jesus Salvador era o Messias prometido, o Cristo.

Por isso Paulo afirma que Jesus Cristo é o tema da sua pregação - Cristo e este crucificado. Este é um grande ensino para nós pois o que deve caracterizar um servo do Senhor é que ele proclame Cristo crucificado. Deve ser esta a nossa prova de fé. Ele é o centro da nossa vida? O centro da nossa mensagem ao mundo? Paulo era assim. Só nos primeiros 14 versículos da Epístola aos Efésios Paulo menciona a palavra Jesus 15 vezes. Acontece isso conosco? Ou preferimos contar nossas experiências achando que com isso pregamos o evangelho? Isto não é evangelho! Evangelho é Cristo. Quanto mais crescemos na graça, menos falamos de nós e mais falamos de Jesus Cristo.

Por isso Paulo se vangloriava em ser servo de Jesus . A palavra correta no original é “escravo” (servo). O que ele está afirmando é que é “escravo de Cristo”. Quando Paulo diz em I Co 6:19-20, que somos templo do Espírito Santo conclui dizendo que não somos mais de nós mesmos porque fomos “comprados por preço”. É como se ele estivesse dizendo: “Vocês não percebem que seus corpos são templo do Espírito Santo e não são de vocês mesmos? Que não têm o direito de fazer o que bem desejarem com seus corpos pois foram comprados pelo preço do sangue de Cristo? Não percebem que foram libertos da escravidão pelo precioso sangue de Cristo? Foram livres da escravidão de satanás para servirem ao Deus vivo e verdadeiro?”. Isto é o que significa ser redimido.

Nós nascemos escravos do diabo (Ef. 2:1-3) e fomos libertos por aquele que é o único que pode nos libertar por aquele que é o caminho que pode nos libertar - Cristo e seu precioso sangue. É o que Pedro diz em I Pedro 1:18-19. Somos agora livres de Satanás e pertencemos a Cristo. Ele nos comprou, agora somos cativos d'Ele. Ele é nosso Senhor. Concluímos que jamais somos livres. Livres, sim, de Satanás e do pecado, mas escravos de Cristo, a Ele servimos.

Possivelmente quando Paulo disse: “Vivo, não mais eu, mas Cristo vive em mim” (Cl 2:20), estava se referindo a esta escravidão à pessoa a quem se ama e se honra. Em II Co 2:14, Paulo usa a figura dos súditos de um grande general que depois de ter feito uma grande conquista, entra triunfante na cidade em um desfile militar com as pessoas capturadas na guerra por este general que estão em volta dele.

Paulo diz que ser escravo de Cristo o constrange a pregar e o que seria dele se não pregasse o evangelho. Tudo por devoção a Cristo, porque Ele o livrou do mercado de escravos, o conquistou para Si. Agora é um escravo voluntário. Um escravo que ama seu Senhor. Este é um grande exemplo para nós. Aliás esto aconteceu conosco. Aconteceu mesmo? Você sente-se assim? Você não mais se pertence, mas pertence ao seu Senhor?

2) “CHAMADO PARA SER APÓSTOLO”.

Temos de entender bem estas duas palavras. Isso por causa do contexto em que vivemos hoje. Há muita confusão na Igreja de hoje.

O que um apóstolo? Paulo, no sentido geral era um servo de Cristo, mas num sentido especial era um apóstolo.

Por que diz que foi “chamado” para ser apóstolo? Porque Paulo se preocupa logo no início desta Epístola em dizer que foi chamado para ser apóstolo? Bem, muitas pessoas naquela época estavam questionando Paulo como apóstolo, eram seus opositores e assim Paulo era difamado. Era considerado um falso apóstolo. Estava apenas representando. Diziam que ele nunca havia estado com Jesus. Mas Paulo diz claramente e com vigor que era tão apóstolo como os doze.

O que é um apóstolo? É um ofício muito especial e peculiar. Uma prova disto é que Jesus chamou os 12 discípulos (Mt 10) e “...deu-lhes poder sobre os espíritos imundos, para expulsarem, e para curarem toda enfermidade e todo mal”. No v.1, Mateus os chama de discípulos e no versículo 2 muda para apóstolos. Por que isso? Porque nem todo discípulo era apóstolo. Só alguns discípulos tornaram-se apóstolos.

Provamos isso ao ler Lucas 6:12-13. “...chamou a si os seus discípulos, e escolheu doze dentre eles, aos quias deu também o nome de apóstolos”. Somente doze dos discípulos foram nomeados e escolhidos.

A palavra “apóstolo” vista nos dicionários é alguém “enviado”. Às vezes este termo é usado com este significado no Novo Testamento, porém é mais que isto. O termo diz que é um enviado com uma missão a quem são dados poderes para cumpri-la. Na Bíblia, “apóstolo” é alguém escolhido e enviado a uma missão especial como representante autorizado de quem o envia.

Quais as marcas e sinais de um apóstolo?

1. Teria que ser testemunha do Senhor ressurreto.

Em Atos vemos os apóstolos reunidos no cenáculo conversando sobre quem substituiria a Judas Escariotes. No cap. 1:21-22 lemos: “É necessário pois, que, dos homens que nos acompanham todo o tempo que o Senhor Jesus andou entre nós , começando no batismo de João, até ao dia em que dentre vós foi levado às alturas, um destes se torne testemunha conosco da sua ressurreição”.

Paulo diz que viu Jesus ressurreto: “Não sou, porventura livre? Não sou apóstolo? Não vi a Jesus, Nosso Senhor?” (I Co 9:1). Era ele dizendo que vira Jesus ressurreto no caminho de Damasco e era testemunha disto.

2. O apóstolo tinha de ter um chamado especial para exercer este ofício. Ele foi chamado pelo próprio Senhor.

3. Era alguém a quem foi dada autoridade e comissão de operar milagres. Isso fica bem claro em II Co 12:12 - “Pois as credenciais do meu apostolado foram manifestados no meio de vós com toda a persistência, por sinais prodígios e poderes miraculosos”. Era como se ele dissesse: “Como vocês podem questionar meu ofício de apóstolo se as minhas credenciais foram apresentadas claramente entre vós”. Sinais, milagres e atos maravilhosos.

4. Os apóstolos tinham poder para dar e comunicar dons espirituais a outros; podiam transmitir o Espírito Santo pela imposição das mãos (Atos 8:17). Isso significava sinal de autoridade da sua comissão.

5. O apóstolo tinha autoridade para ensinar e definir a doutrina firmando as pessoas na verdade.

6. Tiveram autoridade para estabelecer a ordem nas igrejas. Nomeavam os presbíteros, decidiam questões disciplinares e questões doutrinárias ( ensino e doutrina. Falavam com autoridade do próprio Jesus: “...mas o Consolador, o Espírito Santo, a quem o Pai enviará em meu nome, esse vos ensinará todas as coisas e vos fará lembrar de tudo o que vos tenho dito”(Jo 14:26).

Tudo isso tem conseqüências importantes:

a) Falavam com autoridade vinda de Deus.

b) Eram representantes de Cristo e as pessoas os ouviam como quem falava da parte de Deus. Por isso Paulo diz aos crentes da igreja de Tessalônica: “...é que tendo vós recebido a palavra que de nós ouvistes, que é de Deus, acolhestes não como palavra de homens e, sim, como em verdade é a palavra de Deus...”(I Ts 2:13). Paulo está lembrando que eles não estavam ouvindo (lendo) palavras de homens. Deus dera autoridade para edificar não só aos crentes de Tessalônica, mas de Corinto: “...a respeito da nossa autoridade, a qual o Senhor nos conferiu para edificação...” (II Co 10:8). Ou ainda: “Portanto, escrevo estas cousas, estando ausente, para que, estando presente, não venha a usar de rigor segundo a autoridade que o Senhor me conferiu para edificação...” (II Co 13:10). Era uma autoridade excepcional que somente Deus podia dar; uma palavra inspirada, infalível.

Uma prova disso se vê quando Pedro diz: “...como igualmente o nosso amado irmão Paulo vos escreveu, segundo a sabedoria que lhe foi dada...nas quais há certas cousas difíceis de entender, que os ignorantes e instáveis deturpam, como também deturpam as demais Escrituras”... (outras Escrituras) - II Pedro 3:16. Aqui Pedro está igualando o que Paulo escreveu às demais Escrituras do VT. Pedro está dizendo que Paulo escreveu Bíblia.

As palavras escritas pelos apóstolos têm autoridade divina - Os apóstolos foram comissionados pelo Senhor Jesus Cristo e foram guiados e dirigidos pelo Espírito Santo. São palavras divinamente inspiradas. Lembremo-nos que foi Jesus que deu autoridade aos seus servos, os apóstolos, como Paulo. Se alguém disser que só crê no que Jesus disse, responda dizendo que esta afirmação é contraditória pois o próprio Jesus que deu autoridade ao Seu servo, aos apóstolos que reconheceram, como Pedro, que Paulo escrevera de forma tão inspirada como o VT.

Quando a igreja primitiva chegou a definir e determinar o Cânon do Novo Testamento, pois havia muitos escritos cristãos, o Espírito Santo levou a Igreja a decidir desta maneira: ela dizia que, se um documento que pretendesse ser um Evangelho ou Epístola, e não pudesse ser rastreado direta ou indiretamente, até as suas raízes num apóstolo, alguém com autoridade apostólica, ele não devia ser incluído. A prova era a apostolicidade, o caráter apostólico na determinação do Cânon do Novo Testamento. Por que? Porque um apóstolo é um homem dotado de autoridade única, autoridade de fazer doutrina, de fazer Bíblia. O Senhor guiou a Paulo pelo Seu Espírito Santo, o Senhor o chamou para ser apóstolo.

Por que Paulo se diz “chamado para apóstolo” e logo no início da Epístola? Sem dúvida Paulo queria deixar bem claro para os crentes de Roma que ele era verdadeiramente um apóstolo. Como seria bom que hoje, os que se dizem apóstolos mostrassem as credenciais que Paulo mostrou. Sem dúvida não teriam estas credenciais e por isso não são Apóstolos. Na carta que ele escreve à igreja da Galácia, Paulo é mais enfático ainda quando diz: “Paulo, apóstolo, não da parte de homens, nem por intermédio de homem algum, mas por Jesus Cristo e por Deus Pai, que o ressuscitou dentre os mortos...” (Gl. 1:1).

Paulo aqui está dizendo àqueles crentes que não pensem de forma errada que ele mesmo havia se declarado apóstolo como hoje se faz. Não! Os falsos mestres é que fazem isso. Ele diz claramente que é apóstolo, “não da parte de homens, nem por intermédio de homens, mas por Jesus Cristo e por Deus Pai”. Paulo foi “chamado”, escolhido pelo ato soberano de Jesus Cristo. Havia sido chamado da mesma forma que os doze e tinha a mesma autoridade. Paulo diz isso de si mesmo.

Há algo admirável aqui. O Senhor escolhe um homem para apóstolo, quando antes este mesmo homem tinha sido um dos seus maiores inimigos. Um homem com quem Jesus não estivera durante Seu período aqui no mundo, quando encarnado; alguém que não ouvira Seu ensino, não vira Seus milagres, que não O vira na cruz, que não estivera com os doze no cenáculo quando lhes apareceu após a ressurreição; era um blasfemador, um perseguidor do cristianismo. Como pode ser isto? Mas o Senhor se revela a Paulo e o chama, exatamente como chamou aos outros. Lemos em 1Co 15:7 - “Depois, foi visto por Tiago, mais tarde, por todos os apóstolos e, afinal, depois de todos, foi visto também por mim, como por um nascido fora de tempo”. Ele está dizendo como Jesus lhe aparecera e o comissionara para ser apóstolo, mesmo depois do Pentecoste, mesmo depois do Senhor fazer várias revelações a pessoas especialmente escolhidas. Paulo vai a Damasco “respirando ameaças e mortes” e o Senhor aparece e o comissiona dizendo: “Mas levanta-te e firma-te sobre teus pés, porque por isto te apareci, para te constituir ministro e testemunha, tanto das coisas em que me viste como daquelas pelas quais te aparecerei ainda, livrando-te do povo e dos gentios, para os quais eu te envio para lhes abrir os olhos e convertê-los das trevas para a luz e da potestade de Satanás para Deus, a fim de que recebam eles remissão de pecados e herança entre os que são santificados pela fé em mim” (Atos 26:16-18). Ele mesmo diz que não foi “desobediente à visão celestial” que teve. Um comissão de proclamar a verdade de forma autoritativa.

7. Não podemos esquecer desta outra marca do apostolado: A verdade lhe foi ensinada pessoalmente pelo Senhor. Em Gálatas 1:11-12 Paulo diz: “Faço-vos, porém, saber, irmãos, que o evangelho por mim anunciado não é segundo o homem; porque eu não o recebi, nem aprendi de homem algum, mas mediante revelação de Jesus Cristo”. Este evangelho não foi ensinado por outra pessoa,; se fosse ele não seria apóstolo. Ele ainda diz nesta epístola aos Gálatas que foi separado desde o ventre materno pela graça de Deus, quando revelou Jesus para que O pregasse entre os gentios e para isso não consultou a “carne e sangue”, nem subiu à Jerusalém para os que já eram apóstolos antes dele mas partiu para a Arábia e depois voltou para Damasco. Três anos depois vai à Jerusalém para avistar-se com Pedro (Gl.1:15-18). Ele vaia a Pedro, mas não para aprender com Pedro pois era igual aos demais apóstolos pois a verdade lhe fora dada pessoalmente por Cristo.

Por que isto é importante? Porque esta é uma credencial apostólica: “Porque eu recebi do Senhor o que também vos entreguei...” (Co.11:23). Recebe diretamente de Jesus. Ele se iguala aos demais apóstolos nisso: “Porque eu sou o menor dos apóstolos....mas pela graça de Deus sou o que sou...portanto, seja eu, ou sejam eles, assim pregamos e assim crestes” (I Co 15:9-11). Ele foi tão apóstolo como Pedro. Ao comissioná-lo o Senhor o chamou para ir aos gentios: “Dirijo-me a vós outros, que sois gentios! Visto, pois, que eu sou apóstolo dos gentios, glorifico o meu ministério” (Rm 11:13).

O que Paulo deseja, é que os crentes de Roma compreendam que ele é realmente apóstolo de fato e de direito. Por que esta ênfase? Porque muitos naquela época estavam se dizendo apóstolos. Em Apocalipse 2:2: “...puseste à prova os que a si mesmo se declaram apóstolos e não são, e os achastes mentirosos”. Isto ér muito prático pois estamos vivendo uma época em que muitos estão se dizendo apóstolos ou que são da sucessão apostólica. Isso não existe. A Igreja Católica não só afirma que o Papa é o vigário de Cristo, como também faz outra reivindicação: da sucessão apostólica. Mas não só a Igreja Católica, outros ramos ditos cristãos reivindicam esta sucessão apostólica e isso é um grande argumento para terem bispos, terem um episcopado. É verdade que muitos que acreditam em bispos não aceitam a sucessão apostólica. Mas os Bispos da Alta Igreja Anglicana e Católicos costumam dizer que não existe igreja sem bispos, que isto é a essência da igreja.

Esta foi uma grande questão no século XVII e trouxe até divisão. Os bispos se diziam e ainda se dizem sucessores diretos dos apóstolos, mas “apóstolo’ é só aquele que viu e deu testemunho de Cristo ressurreto. A base para este pensamento não é bíblica e sim fruto da tradição. Isso é impossível. Além do mais Paulo diz que a Igreja Cristã é edificada “...sobre o fundamento dos apóstolos é profetas...” (Ef 2:20). Com certeza não continuamos a construir qualquer fundamento ou alicerce, pois é algo do começo da igreja. Esse alicerce que foi fincado sobre os apóstolos e profetas não continua sendo edificado. Desde que o Cânon se completou, não há mais necessidade de apóstolos. Não esqueçamos de que o ensino apostólico era autoritativo. Os apóstolos falavam como homens enviados por Deus de maneira tão inspirada como os profetas do Velho Testamento.

Por isso, ao termos as Escrituras do Novo testamento — O Cânon do NT — já temos todo ensino autorizado e não precisamos mais de apóstolos. Quando o Cânon não estava completo, os apóstolos e aqueles que estavam ligados a eles tinham uma função importantíssima: instruir a igreja que não tinha Bíblia completa. Uma vez completo o Cânon os apóstolos não mais existem.

Outra coisa interessante é que Paulo em I Co 1:1 diz: “Paulo, chamado pela vontade de Deus para ser apóstolo de Jesus Cristo, e o irmão Sóstenes”. Sóstenes aqui é apenas citado como irmão. Não estaria Paulo sendo muito egoísta? Por que ele não chamou “eu e Sóstenes?”. Paulo sabia que ele era apóstolo e que Sóstenes, apesar de excelente e santo homem, não era apóstolo. Por isso, a expressão; “e o irmão Sóstenes”. A mesma coisa acontece com Timóteo, quando Paulo o trata como irmão mas diz antes: “Paulo, apóstolo de Cristo Jesus, por vontade de Deus, e o irmão Timóteo” (Cl 1:1). Paulo não diz: “Timóteo é o homem que vem após mim, ele vai ser apóstolo por sucessão apostólica e assim pelos séculos afora”. Timóteo era apenas irmão e Paulo apóstolo, mas quando vemos em Fl.1:1 - “Paulo e Timóteo, servos de Cristo Jesus, a todos os santos ...”. Quando Paulo se descreve como servo, ele e Timóteo são iguais, pois os dois são servos no mesmo nível. Mas quanto ser apóstolo, há uma diferença: Paulo o é e Timóteo não.

Toda pretensão de ser apóstolo hoje vai de encontro com o ensino do Novo Testamento acerca do sentido do termo. Quando pulamos frases como esta que mostra que Paulo foi chamado para ser apóstolo como um ofício especial que não se repete, percebemos o quanto é grave negligenciar a doutrina e caímos nos argumentos falsos dos falsos mestres.

“Separado para o evangelho”

Não significa apenas que foi colocado à parte para pregar o evangelho, mas Paulo está colocando seu chamado a um nível mais alto. Ele já havia dito que Deus o chamara para ser servo, para ser apóstolo e agora para ser “separado para o evangelho”.

O que significa ser “separado”? Significa “posta à parte”. Paulo tinha sido “posto à parte” para o evangelho. O que significa isto? Bem, Paulo está lembrando que antes ele era um perseguidor de Cristo, um fariseu de fariseu. Ora a palavra “fariseu” significa “separado” e os fariseus se colocavam à parte, não queriam nem ter contato físico com ninguém para não se contaminarem, não queriam nada com publicanos e pecadores. Era como se Paulo estivesse: “antes eu me separei a mim mesmo como fariseu, mas a grande verdade sobre mim é que fui separado pelo próprio Deus para esta grande obra que tenho o privilégio de realizar, parte da qual estou realizando agora quando escrevo esta Epístola”. Paulo está dizendo que ele teve uma falsa separação e uma verdadeira separação. Uma foi feita pelo homem e a outra foi feita por Deus.

Paulo havia sido chamado, “separado” desde o ventre materno (“Quando, porém, ao que me separou antes de eu nascer e me chamou (“separou” - corrigida) pela sua graça, aprouve revelar seu Filho em mim, para que eu o pregasse entre os gentios...” (Gl 1:15-16). É isso que ele quer dizer. Que Deus o separou “para o evangelho de Deus”. Paulo foi separado desde o ventre materno para esta obra. O mesmo aconteceu com Jeremias (“Antes que eu te formasse no ventre materno, eu te conheci, e, antes que saísses da madre, te consagrei, e te constituí profeta às nações” - Jm 1:5). O mesmo nós vemos acontecer com João Batista.

Percebemos que esta separação é um grau muito maior do que um simples chamado para ser “servo” como acontece com todos os cristãos. É verdade que ele foi chamado para ser apóstolo, mas ele diz que não parou aí, Deus o “separou para para o evangelho”. Deus pré ordenou Paulo para ser um pregador do evangelho. Aqui chegamos à grandiosa doutrina da soberania de Deus. Deus na Sua soberania o escolhe como Lhe apraz para executar um plano que Ele mesmo elaborara. Não foi nada acidental que Paulo tivesse tido uma educação grega e hebraica, que tivesse adquirido a condição de cidadão do Império Romano. Tudo foi elaborado e decretado por Deus. E Deus fez isso no tempo determinado por Ele.

Podemos concluir dizendo que a mesma coisa acontece com nossa salvação. É algo maravilhoso e ao mesmo tempo humilhante. Segundo Paulo, nossa salvação foi determinada antes da fundação do mundo (Ef.1). Antes da fundação do mundo nossos nomes estavam escrito no livro da vida do Cordeiro (Ap 13:8). Isso é algo assombroso! Assim como Deus separou Paulo para ser pregador do evangelho antes dele mesmo nascer, o mesmo é verdadeiro em relação a nós Especialmente aos pregadores ainda hoje. Será que os pregadores de hoje estão advertidos quanto a isto? Será que estão exercendo esta função para a qual foram “separados”?. Será que estão cumprindo os propósitos de Deus? Será que estão se dando conta de que Deus está com Seus olhos sobre nós? Será que estamos pregando o evangelho de Cristo? “Arrependei-vos e crede no evangelho”!!

domingo, 6 de julho de 2014

A inerrância da Escritura

1. O significado de inerrância. 

A seção anterior tratou a respeito da veracidade da Escritura. Um componente importante desse tópico é a inerrância da Escritura. Essa questão é de grande importância no mundo evangélico hoje porque em muitos círculos a veracidade da Escritura tem sido questionada ou mesmo abandonada. Com a evidência dada acima a respeito da veracidade da Escritura, estamos agora na posição de definir a inerrância bíblica: A inerrância da Escritura significa que a Escritura, nos seus manuscritos originais, não afirma nada que seja contrário ao fato. Essa definição enfoca a questão da veracidade e da falsidade na linguagem da Escritura. A definição em termos simples significa apenas que a Bíblia sempre diz a verdade e que ela sempre diz a verdade a respeito de cada coisa a que se refere. Essa definição não significa que a Bíblia nos diz cada fato que há para conhecer a respeito de um assunto, mas afirma que o que ela diz a respeito de um assunto é verdadeiro. É importante perceber no começo desta discussão que o foco desta controvérsia é sobre a questão da veracidade na linguagem. Deve-se reconhecer que a veracidade absoluta na linguagem está de acordo com alguns outros tipos de afirmações, como as que se seguem:

a. A Bíblia pode ser inerrânte e ainda falar a linguagem habitual da conversação diária. 
Isso é especialmente verdadeiro nas descrições de fatos ou eventos de caráter “científico” ou “histórico”. A Bíblia pode falar do sol que se levanta e da chuva que cai por causa perspectiva do narrador, que é exatamente o que acontece. Da perspectiva do narrador, o sol realmente se levanta e a chuva realmente cai, e essas são descrições perfeitamente verdadeiras dos fenômenos naturais que o narrador observa. Uma consideração similar aplica-se aos números quando usados para contar ou para medir. Um repórter pode dizer que 8000 homens foram mortos em determinada batalha sem, desse modo, sugerir que ele contou cada um e que não havia 7 999 ou 8001 soldados mortos. Isso é verdade também a respeito das medidas. Se eu digo: “Não moro longe da biblioteca”, ou “Moro a pouco mais de um quilômetro da biblioteca”, ou “Moro a um pouquinho menos de um quilômetro da biblioteca” ,ou “Moro a um quilômetro e meio da biblioteca”, todas essas afirmações possuem certo grau de proximidade e de exatidão. Em ambos os exemplos, e em muitos outros que poderiam ser retirados da vida diária, os limites da veracidade dependeriam do grau de precisão sugerido pelo narrador e esperado por seus ouvintes originais. Não haveria problema para nós, então, em afirmar que, ao mesmo tempo em que a Bíblia é absolutamente verdadeira em tudo o que diz, ela usa a linguagem comum para descrever os fenômenos naturais e dar aproximações ou números redondos quando eles são apropriados no contexto. 

b. A Bíblia pode ser inerrante e, todavia, incluir citações livres ou soltas. 
O método pelo qual uma pessoa cita as palavras de outra é um procedimento que em grande parte varia de cultura para cultura. Enquanto na cultura contemporânea americana e inglesa costumamos mencionar as palavras exatas de uma pessoa fazendo citações entre aspas, o grego escrito no tempo do NT não possuía aspas ou qualquer espécie de sinalização equivalente, e a citação exata de outra pessoa precisava incluir somente a apresentação correta do conteúdo do que a pessoa havia dito (mais ou menos como o nosso uso de citações indiretas); não era esperado que cada palavra fosse citada com exatidão. Assim, a inerrância é coerente com citações livres ou soltas do AT ou das palavras de Jesus, por exemplo, contanto que o conteúdo não seja falso em relação ao que originariamente foi afirmado. O escritor original não sugeriu de forma geral que estivesse usando as palavras exatas de um narrador e somente aquelas, nem os ouvintes originais esperavam a citação textual em tal narração. 

c. As construções gramaticais incomuns ou excepcionais na Bíblia não contradizem a inerrância. 
Alguma coisa da linguagem na Escritura é elegante e estilisticamente excelente. Outras passagens da Escritura contêm linguagem mais própria das pessoas comuns. As vezes isso inclui a falha em seguir as regras de expressão usualmente aceitáveis (como o uso de um verbo no plural, quando as regras gramaticais exigem um verbo no singular). Essas afirmações gramaticais estilisticamente incorretas (muitas delas são encontradas no livro de Apocalipse) não devem ser problema para nós, pois elas não afetam a veracidade das afirmações em pauta; a afirmação pode não ser gramaticalmente correta e, todavia, ser totalmente verdadeira. Por exemplo, o lenhador da área rural que não possua educação formal pode ser o homem mais confiável da região, mesmo que a sua gramática seja pobre, porque ele ganhou a reputação de nunca mentir. De modo semelhante, há algumas afirmações na Escritura (nas línguas originais) que não são corretas gramaticalmente (de acordo com os padrões vigentes da boa gramática naquele tempo), mas são ainda inerrantes porque são completamente verdadeiras. Deus usou pessoas comuns que usaram o seu vocabulário comum. A questão não é a elegância de estilo, mas a veracidade no falar. 

2. Alguns desafios comuns a inerrância. 

Nesta seção vamos examinar algumas das objeções mais importantes que são regularmente levantadas contra o conceito de inerrância. A Bíblia é a única regra repleta de autoridade para a “fé e prática”. Uma das objeções mais freqüentes à inerrância é levantada por aqueles que dizem que o propósito da Escritura é ensinar-nos em áreas que dizem respeito à “fé e prática” somente, isto é, nas áreas que dizem respeito diretamente à nossa fé religiosa ou nossa conduta ética. Essa posição permite a possibilidade de afirmações falsas na Escritura, como, por exemplo, em outras áreas como a de detalhes históricos sem maior importância ou em fatos científicos — essas áreas, é dito, não dizem respeito ao propósito da Bíblia, que é o de nos instruir sobre em que devemos crer e como devemos viver. Os defensores dessa posição muitas vezes preferem dizer que a Bíblia é infalível, mas hesitam em usar a palavra inerrante. A resposta a essa objeção pode ser afirmada do seguinte modo: A Bíblia repetidamente afirma que toda a Escritura é útil para nós e que tudo é “inspirado por Deus” (2Tm 3.16). Assim, ela é completamente pura (Sl 12.6), perfeita (Sl 119.96) e verdadeira (Sl 119. 160).A Bíblia não faz ela própria qualquer restrição aos assuntos sobre os quais fala com toda a verdade. 
O NT contém afirmações adicionais sobre a confiabilidade de todas as partes da Escritura. Em Atos 24.14, Paulo diz que ele adora a Deus, acreditando “em tudo o que concorda com a Lei e no que está escrito nos Profetas”. Em Lucas 24.25 (RA), Jesus diz que os discípulos são “néscios” porque eram “tardos de coração para crer tudo o que os profetas disseram”. Em Romanos 15.4, Paulo diz que “tudo o que foi escrito no passado” no AT “foi escrito para nos ensinar”. Esses textos não dão indicação alguma de que haja qualquer parte da Escritura que não seja digna de confiança ou na qual não se possa confiar completamente. O rápido exame do detalhes históricos do AT que são citados no NT indica que os escritores do NT estavam desejosos de confiar na veracidade de qualquer parte das narrativas históricas do AT. Nenhum detalhe é tão insignificante que não possa ser usado para a instrução dos cristãos do NT (v.,por ex., Mt 12.3,4,41; Lc 4.25,26; Jo 4.5; Co 10.11; Hb 11; Hb 12.16,17; Tg 2.25; 2Pe 2.16 etc.). Não há indicação alguma de que eles pensassem que uma categoria de afirmações da Escritura não fosse confiável (por exemplo, afirmações “históricas e científicas” como opostas às passagens de caráter doutrinário ou moral). Parece claro que a Bíblia em si mesma não dá suporte a qualquer restrição com respeito a assuntos dos quais ela fala com autoridade e verdade absoluta; de fato, muitas passagens na Escritura realmente excluem a validade desta espécie de restrição. A segunda resposta aos que limitam a veracidade necessária da Escritura a matérias de “fé e prática” é que o pensamento deles confunde o propósito principal da Escritura com o propósito total dela. Dizer que o propósito principal da Escritura é ensinar-nos em matéria de “fé e prática” é fazer um sumário útil e correto do propósito de Deus em nos dar a Bíblia. Mas, como sumário, ele inclui somente o propósito mais proeminente de Deus ao nos dar a Escritura. Não é, contudo, legítimo usar esse sumário para negar que é parte do propósito da Escritura discorrer a respeito de detalhes históricos menos importantes ou a respeito de alguns aspectos de astronomia ou geografia, e assim por diante. Um sumário não pode ser devidamente usado para negar uma das coisas que ele está sintetizando! É melhor dizer que o propósito total da Escritura é dizer tudo o que ela diz, qualquer que seja o assunto. Cada uma das palavras de Deus na Escritura foi considerada por ele como importante para nós. Assim, Deus emite severas advertências a qualquer um que retire mesmo uma só palavra do que ele nos disse (Dt 4.2; 12.32; Ap 22.18,19). Não podemos acrescentar nada às palavras de Deus ou retirar algo delas, porque todas são parte do propósito mais amplo que ele nos quis comunicar. Cada coisa afirmada na Escritura está ali porque Deus quis que estivesse. Deus não diz nada sem propósito! 

a. O termo inerrância é um termo pobre. 
As pessoas que fazem essa segunda objeção dizem que o termo inerrância é preciso demais e que no uso comum denota uma espécie de precisão científica absoluta que não queremos reivindicar para a Escritura. Além disso, os que levantam essa objeção observam que o termo inerrância não é usado na própria Bíblia. Portanto, eles dizem, provavelmente não é o termo apropriado sobre o qual devamos insistir. A resposta a essa objeção pode ser feita do seguinte modo: Primeiro, a palavra tem sido usada por estudiosos há mais de cem anos, e eles sempre têm atentado para “limitações” que fazem parte de uma narrativa na linguagem comum. Ademais, deve ser observado que muitas vezes usamos termos não bíblicos para resumir um ensino bíblico. A palavra Trindade não ocorre na Escritura, nem a palavra encarnação. Todavia, ambos os termos são muito úteis porque nos permitem sintetizar em uma palavra um conceito bíblico verdadeiro e são, portanto, úteis para capacitar-nos a discutir um ensino bíblico mais facilmente. Finalmente, hoje na igreja parece que somos incapazes de levar a discussão adiante nessa matéria sem o uso do termo. As pessoas podem objetar a termos, se quiserem, mas, gostando ou não, esse é o termo em torno do qual a discussão tem-se desenvolvido e quase certamente continuará a sê-lo nas próximas décadas. Portanto, parece apropriado manter seu uso na discussão a respeito da veracidade completa da Escritura. 
Não possuímos nenhum manuscrito inerrante. Portanto, falar a respeito de inerrância é um engano. Os que fazem essa objeção apontam para o fato de que a inerrância sempre tem sido reivindicada para o documento original ou para as cópias originais dos documentos bíblicos. Todavia, nenhuma delas sobrevive; temos somente cópias de cópias do que Moisés, Paulo ou Pedro escreveram. Qual é, então, a razão de se atribuir tanta importância à doutrina que se aplica somente aos manuscritos que ninguém possui? Em resposta a essa objeção, podemos primeiro pensar em uma analogia da história americana. A cópia original da Constituição dos Estados Unidos está guardada no edifício chamado National Archives, em Washington, DC. Se por causa de um terrível evento o edifício for destruído e a cópia original da Constituição se perder, poderíamos saber o que a Constituição dizia? Claro que sim! Nós compararíamos suas centenas de cópias e, onde todas concordassem, teríamos razão para crer que temos as palavras exatas do documento original. Processo semelhante ocorreu na determinação das palavras originais da Bíblia. Pois, em cerca de 99% das palavras da Bíblia, nós sabemos o que o manuscrito original dizia. Mesmo que em muitos versículos haja variantes textuais (isto é, palavras diferentes em diferentes cópias antigas do mesmo versículo), a decisão correta é com freqüência bastante clara (pode haver um óbvio erro de copista, por exemplo), e há realmente pouquíssimos lugares onde a variante textual seja ao mesmo tempo difícil de avaliar e relevante para a determinação do sentido do texto. Em porcentagem pequena de casos em que há incerteza significativa a respeito do que o texto original dizia, o sentido geral da frase em geral é suficientemente claro por causa do contexto. Isso não significa que o estudo das variantes textuais não seja importante, mas significa que o estudo das variantes textuais não nos deixa confusos a respeito do que os manuscritos originais disseram. Ao contrário, esse estudo nos aproxima do conteúdo dos manuscritos originais. Porque, para a maior parte dos propósitos práticos, os textos especializados presentemente publicados do hebraico do AT e do grego do NT são como se fossem os manuscritos originais. Portanto, a doutrina da inerrância afeta como pensamos não somente a respeito dos manuscritos originais, mas também a respeito dos manuscritos atuais. 
Os autores bíblicos “acomodaram” suas mensagens nos detalhes menos importantes às falsas idéias correntes em seu tempo e afirmaram ou ensinaram essas idéias de modo incidental. Os que sustentam essa posição argumentam que teria sido muito difícil para os escritores bíblicos comunicar-se com o povo de seu tempo se tivessem tentado corrigir toda a falsa informação histórica e científica aceita por seus contemporâneos (como o universo de três andares ou que nosso planeta é uma espécie de prato plano, e assim por diante). Portanto, dizem, quando os autores da Escritura estavam tentando propor um argumento mais amplo, algumas vezes incidentalmente fizeram certas afirmações falsas aceitas pelas pessoas de sua época. A essa objeção à inerrância podemos responder que Deus é o Senhor da linguagem que pode usar a linguagem humana para comunicar-se perfeitamente sem ter de afirmar quaisquer idéias falsas que possam ter sido sustentadas pelas pessoas contemporâneas aos autores da Escritura. Além disso, tal “acomodação” de Deus ao nosso entendimento errôneo implicaria que Deus agiu contrariamente ao seu caráter de um Deus que não pode mentir (Nm 23.19; Tt 1.2; Hb 6.18). Embora Deus se rebaixe a falar a língua dos seres humanos, nenhuma passagem da Escritura ensina que ele seja ‘‘condescendente’’a ponto de agir de modo contrário ao seu caráter moral. Essa objeção, assim, em sua raiz, interpreta mal a pureza e a unidade de Deus na medida em que elas afetam todas as suas palavras e os seus atos. 

b. Há alguns erros claros na Bíblia. 
Para muitos que negam a inerrância, a convicção de que há alguns erros evidentes na Escritura é o fator de maior importância que os persuade a desafiar a doutrina da inerrância. Em cada caso, contudo, a primeira resposta que deveria ser dada a essa objeção é perguntar onde os erros estão, ou em qual versículo específico ou versículos esses “erros” ocorrem. É surpreendente ver quantas vezes essa objeção é levantada por pessoas que têm pouca ou nenhuma ideia sobre onde os erros específicos estão. Todavia creem que há erros porque outros disseram que há. Em outros casos, contudo, alguns mencionam uma ou mais passagens específicas onde, segundo alegam, há uma afirmação falsa na Escritura. Em muitos exemplos, o exame cuidadoso do texto bíblico em si trará à luz uma ou mais soluções possíveis para a dificuldade alegada. Em poucas passagens, nenhuma solução para a dificuldade pode ficar imediatamente evidente da leitura do texto em nossa língua. A essa altura é útil consultar alguns comentários sobre o texto. Há uns poucos textos em que certo conhecimento do hebraico ou grego talvez seja necessário a fim de se encontrar a solução, e quem que não possui acesso de primeira mão a essas línguas terá de encontrar respostas em um comentário mais técnico ou servir-se de alguém que possua treinamento para isso. Naturalmente, o nosso entendimento da Escritura nunca é perfeito, e isso significa que pode haver casos em que não seremos capazes de encontrar solução para uma passagem difícil no presente momento. Isso é assim porque a evidência linguística, histórica ou contextual de que precisamos para entender a passagem corretamente ainda é desconhecida para nós. Essa dificuldade em pequeno número de passagens não deve incomodar-nos, desde que o padrão total de nossa investigação dessas passagens mostre que não há, de fato, nenhum dos erros alegados. 
Finalmente, a perspectiva histórica sobre essa questão é útil. Não há realmente quaisquer problemas “novos” na Escritura. A Bíblia em sua totalidade tem mais de dezenove séculos, e os pretensos “textos-problema” estavam ali o tempo todo. Todavia, no decorrer de toda a história da igreja há a firme crença na inerrância das Escrituras no sentido em que ela foi definida neste capítulo. Além disso, há centenas de anos estudiosos muito competentes da Bíblia leem e estudam esses textos-problema e ainda não encontraram dificuldade em sustentar a inerrância. Isso deveria deixar-nos confiantes em que as soluções para esses problemas estão disponíveis e em que a crença na inerrância está totalmente de acordo com a duradoura atenção dedicada ao texto da Escritura. 

3. Problemas com a negação da inerrância. 

Os problemas que aparecem com a negação da inerrância bíblica são muito significativos e, quando entendemos a magnitude desses problemas, isso nos dá o encorajamento adicional não somente para afirmar a inerrância, mas também para garantir sua importância para a igreja. Alguns dos problemas mais sérios são os listados a seguir: 

a. Se negarmos a inerrância, deparamos com um sério problema moral: Podemos imitar Deus e intencionalmente mentir nas pequenas coisas também? Efésios 5.1 nos diz que sejamos imitadores de Deus. Mas a negação de inerrância que ainda alega que as palavras da Escritura são palavras sopradas por Deus necessariamente leva à conclusão de que Deus intencionalmente falou falsamente para nós em algumas das afirmações menos centrais da Escritura. Mas, se para Deus é correto agir assim, como pode ser errado para nós? Tal linha de raciocínio, se crêssemos nela, exerceria grande pressão sobre nós para que começássemos a falar inverdades em situações onde poderiam parecer de ajuda em nossa comunicação, e assim por diante. Essa posição seria uma ladeira escorregadia com resultados negativos sempre crescentes em nossa vida. 

b. Segundo, se a inerrância é negada, começamos a pensar se realmente podemos confiar em Deus em qualquer coisa que ele venha a dizer. 
Uma vez que nos convençamos de que Deus nos falou de maneira falsa em alguns assuntos de menor importância na Escritura, percebemos que Deus é capaz de nos falar falsamente. Isso ocasionará um efeito prejudicial sério sobre a nossa capacidade de levar Deus a sério em sua palavra e confiar nele completamente ou obedecer a ele plenamente no restante da Escritura. Podemos começar a desobedecer inicialmente nas seções da Escritura que menos desejaríamos obedecer, e desconfiar inicialmente das seções nas quais estaríamos menos inclinados a confiar. Mas tal procedimento finalmente se expandirá, para grande prejuízo de nossa vida espiritual. 

c. Terceiro, se negarmos a inerrância, essencialmente faremos da mente o padrão de verdade mais alto que a própria Palavra de Deus. Usamos nossa mente para estabelecer juízo sobre algumas partes da Palavra de Deus e as pronunciamos como contendo erros. Mas isso é, de fato, dizer que conhecemos a verdade com mais certeza e mais exatidão que a própria Palavra de Deus (ou que Deus), ao menos nessas áreas. Tal procedimento, que torna nossa mente o padrão mais alto de verdade que a Palavra de Deus, é a raiz de todo o pecado intelectual. 

d. Quarto, se negarmos a inerrância, devemos também dizer que a Bíblia esta errada não somente nos detalhes menos importantes, mas igualmente em algumas de suas doutrinas. 
A negação da inerrância significa dizermos que o ensino da Bíblia a respeito da natureza da Escritura e a respeito da veracidade e confiabilidade das palavras de Deus também é falso. Esses não são pequenos detalhes, e sim preocupações doutrinárias muito importantes na Escritura. 

e. A Palavra de Deus escrita é a nossa autoridade final. É importante perceber que a forma final na qual a Escritura é cheia de autoridade é a forma escrita. Foram as palavras de Deus escritas em tábuas de pedra que Moisés depositou na arca da aliança. Mais tarde, Deus ordenou a Moisés e subsequentemente aos profetas para escreverem suas palavras em um livro. Foi a Palavra de Deus escrita que Paulo disse ser ”inspirada” (gr. graphē em 2Tm 3.16). Isso é importante porque as pessoas às vezes (de forma intencional ou não) tentam substituir as palavras escritas da Escritura por algum outro padrão final. Por exemplo, elas se referem ao “que Jesus realmente disse” e afirmam que, quando traduzimos as palavras gregas dos evangelhos para a língua aramaica que Jesus falou, podemos obter entendimento melhor das palavras de Jesus do que foi dado pelos escritores dos evangelhos. Em outros casos, há quem alegue conhecer ”o que Paulo realmente pensava” mesmo quando esse conhecimento é diferente do significado das palavras que ele escreveu. Ou falam do “que Paulo teria dito se ele tivesse sido coerente com o restante de sua teologia”. De modo semelhante, outras pessoas falam da “situação da igreja à qual Mateus está escrevendo” e tentam dar força normativa tanto para essa situação como para a solução que pensam que Mateus estava tentando produzir nessa situação. 
Em todos esses exemplos, devemos admitir que perguntar a respeito das palavras ou situações que estão por trás do texto da Escritura pode, às vezes, ser útil para nós no entendimento do que o texto significa. Não obstante, nossas reconstruções hipotéticas dessas palavras ou situações podem nunca substituir ou competir com a própria Escritura como a autoridade final, nem devemos permitir que contradigam ou levantem dúvidas sobre a exatidão de qualquer das palavras da Escritura. Devemos continuamente relembrar que temos na Bíblia as verdadeiras palavras de Deus, e não podemos tentar “melhorá-las” de algum modo, pois isso não pode ser feito. Ao contrário, devemos procurar entendê-las e, então, confiar nelas e obedecer a elas de todo o nosso coração. 
Embora as posições indesejáveis listadas acima estejam logicamente relacionadas à negação da inerrância, uma Palavra de advertência se faz necessária: nem todos que negam a inerrância adotarão também as conclusões indesejáveis mencionadas. Algumas pessoas (provavelmente de modo incoerente) negarão a inerrância, mas não caminharão para esses passos lógicos. Em debates sobre a inerrância, como em outras discussões teológicas, é importante que critiquemos as pessoas com base nas idéias que elas realmente sustentam e que distingamos claramente essas idéias das posições que pensamos que elas sustentam, para ver se estas estão de acordo com as próprias idéias afirmadas. 


Fonte: Teologia Sistemática, Editora Vida Nova, Inerrância da Escritura 
Autor: Wayne Grudem

TRANSFUSÕES DE SANGUE???

TRANSFUSÕES DE SANGUE???

Vamos analisar alguns pontos sobre isto?

1) Este versículo proíbe transfusões de sangue? 

GÊNESIS 9.4 – A carne, porém, com sua vida, isto é, com seu sangue, não comereis.

A MÁ INTERPRETAÇÃO: As Testemunhas de Jeová acreditam que esse verso proíba as transfusões de sangue. Alegam que uma transfusão sanguínea é o mesmo que comer sangue, porque é algo muito semelhante ao processo de alimentação intravenosa.

CORRIGINDO A MÁ INTERPRETAÇÃO: Enquanto é verdade que Gênesis 9.4 proíbe “comer” sangue, uma transfusão não consiste em “comer” sangue. Apesar de um médico, ao dar alimentação a um paciente de modo intravenosos, chamar essa operação de “alimentação”, simplesmente não significa que o procedimento de dar sangue de forma intravenosa se constitua em “alimentação”. O sangue não é recebido pelo organismo como “comida’. Comer é o ato literal de colocar a comida para dentro do organismo de modo normal, através da boca, e consequentemente para o sistema digestivo. É costume referir-se a injeções intravenosas como “alimentação” pois o resultado final é que, através de injeções intravenosas, o corpo recebe os nutrientes que normalmente receberia através do ato de comer. Em vista disso, Gênesis 9.4 e outras passagens relacionadas à proibição de comer sangue não podem ser usadas como suporte à proibição de transfusões de sangue. Uma transfusão simplesmente reabastece o corpo com um fluido essencial, que dá sustento à vida.

2) Esta passagem proíbe uma pessoa de sofrer uma transfusão de sangue?

A MÁ INTERPRETAÇÃO: Levítico 17.11-12 diz: “Porque a vida (alma) de carne está no sangue, pelo que vô-lo tenho dado sobre o altar, para fazer expiação pela vossa alma, porquanto é o sangue que fará expiação pela alma. Portanto, tenho dito aos filhos de Israel: Nenhuma alma dentre vós comerá sangue, nem o estrangeiro que peregrine entre vós comerá sangue”. As testemunhas de Jeová acreditam que esse é outro verso que proíbe transfusões de sangue.  

CORRIGINDO Á MÁ INTERPRETAÇÃO: A proibição aqui é primariamente dirigida ao ato de comer carne que ainda estiver pulsando com vida, devido ao sangue da vida ainda estar nela. A transfusão de sangue não envolve o ato de comer carne que ainda contenha em si o sangue que lhe confere vida. Daí, transfusões de sangue não violam Lv 17.

3) Esta passagem indica que receber uma transfusão de sangue é pecado?

ATOS 15.20 – Mas escrever-lhes que se abstenham das contaminações dos ídolos, da fornicação, do que é sufocado e do sangue.

A MÁ INTERPRETAÇÃO: As Testemunhas de Jeová dizem que esse verso prova que as transfusões de sangue são contrárias à vontade de Deus.

CORRIGINDO A MÁ INTERPRETAÇÃO: Essa passagem está falando sobre a restrição que havia no Antigo Testamento contra comer ou beber sangue (Gn 9.3-4; confira At 15.28,29). Contudo, uma transfusão de sangue não é “comer” ou “beber sangue”.
   As proibições em Gn 9.3, 4 e Levítico 17.10-12 foram primeiramente direcionadas ao ato de comer carne que ainda estivesse pulsando com a sua vida, pois o sangue da vida ainda estaria nela. Mas a transfusão de sangue não é o mesmo ato que comer carne que ainda contenha em si o sangue da vida.
   Finalmente, a proibição em Atos não foi dada como uma lei através da qual os cristãos devessem viver, pois o Novo Testamento ensina claramente que não estamos mais sob uma lei ( Rm 6.14; Gl 4.8,31 ). Antes, o conselho de Jerusalém estava admoestando os cristãos gentios a que respeitassem os seus irmãos judeus observando essas práticas, e desse modo não causando escândalo “nem aos judeus, nem aos gregos, nem à igreja de Deus” (I Co 10.32).

Fonte: Norman Geisler
Angelo Dos Santos

UniaoDosModeradoresReformados

Apresentamos a vocês, a União dos Moderadores Reformados (U.M.R.).

A união, formada por páginas do facebook e blogs, foi criada com o propósito de unir forças na produção de conteúdos que edifiquem os servos de Deus, esclareçam sobre as Doutrinas da Graça e combatam a propagação de heresias perniciosas. As páginas que tiverem o selo abaixo são páginas que seguem a teologia reformada e estão comprometidas com o crescimento do reino de Deus e a pureza do evangelho.

As páginas participantes são:

 

sexta-feira, 4 de julho de 2014


Neste maravilhoso Sermão, Sr. Calvino faz uma belíssima e luminosa exposição em Gálatas 6: 14-18: “Mas longe esteja de mim gloriar-me, a não ser na cruz de nosso Senhor Jesus Cristo, pela qual o mundo está crucificado para mim e eu para o mundo. Porque em Cristo Jesus nem a circuncisão, nem a incircuncisão tem virtude alguma, mas sim o ser uma nova criatura. E a todos quantos andarem conforme esta regra, paz e misericórdia sobre eles e sobre o Israel de Deus. Desde agora ninguém me inquiete; porque trago no meu corpo as marcas do Senhor Jesus. A graça de nosso Senhor Jesus Cristo seja, irmãos, com o vosso espírito! Amém”.

Em tempos em que comumente imagina-se que é possível carregar o nome de Cristão, e ainda assim estar enredado ao mundo e ao que é valorizado por este; e que a suficiência da Palavra de Deus é cada vez mais contestada, senão pelo discurso, mas sim pela vida de tantos professos, este sermão está repleto de ensinos tão valiosos, que se iluminados pelo Santo Espírito, podem ser úteis para despertar-nos de um sono mortal, para que nos convertamos ao Senhor nosso Deus, e O sirvamos de modo que Lhe agrada, por meio de Cristo Jesus nosso Senhor. Que morramos para o mundo, e vivamos para Ti, Senhor. Faça assim, meu Deus, por amor de Cristo. Amém.

Segue um pequeno trecho, irmãos:

“[...] Estejamos crucificados para o mundo e o mundo para nós, gloriando-nos somente em Jesus Cristo crucificado. Agora isso é mais fácil de dizer do que fazer, e mesmo assim cada um de nós, onde quer que estejamos, devemos nos esforçar para fazê-lo; uma vez que ouvimos esta doutrina, devemos colocá-la em prática. Porque, se nós queremos ser estimados e considerados Cristãos diante de Deus e Seus anjos, temos que estar de acordo com o que Paulo nos diz aqui; de fato, se nós não fôssemos de disposição contrária, encontraríamos muitas oportunidades para agir assim, como eu já disse. Pois, todos aqueles que simplesmente olham para dentro de si mesmos e consideram o que eles realmente são, e em que condição eles estão enquanto ainda separados de Jesus Cristo, estarão atemorizados com a percepção da ira de Deus, que eles merecem. Eles sentirão que estão arruinados por seu estado maldito, e que seria melhor se a Terra os engolisse uma centena de vezes, ao invés de viver sob essa maldição por um único dia, como inimigos de Deus, que não podem escapar de Sua mão. Vamos, portanto, aprender a examinar a nós mesmos. Aqueles que desejam adornar-se de acordo com este mundo, especialmente as mulheres, olharão para um espelho com grande curiosidade e preocupação. Ainda assim, a nossa miséria e imundície não estarão refletidas ali, de modo verdadeiramente a nos humilhar diante de Deus, ou fazer-nos considerar em que nos gloriamos. Aquele que reconhece a sua vergonha e ignomínia, certamente, procura remediá-las, se é que o Espírito de Deus está operando dentro dele, e ele não está (como eu já disse) intoxicado por Satanás. Vamos, portanto, aprender a examinar a nós mesmos com sinceridade, sem lisonja, e quando reconhecermos nossa pobreza e miséria, venhamos ao Senhor Jesus Cristo. Uma vez que, por meio da cruz, toda arrogância, autoestima e jactância é abatida, estejamos verdadeiramente crucificados para o mundo e que ele não signifique nada para nós.”

“E a todos quantos andarem conforme esta regra, paz e misericórdia sobre eles e sobre o Israel de Deus.”

Amém.

-----------------------
Faça o download deste E-book:https://www.dropbox.com/s/rujuan7venwra2f/Gloriando-se%20Somente%20Na%20Cruz%20de%20Nosso%20Senhor%20Jesus%20Cristo%20-%20João%20Calvino.pdf
Leia este E-book online: http://issuu.com/oestandartedecristo/docs/gloriando-se_somente_na_cruz_de_nos/0
Acesse nossa conta no Dropbox e baixe mais e-books semelhantes a este:
https://www.dropbox.com/sh/ha9bavgb598aazi/ALSKeIjpBN
Fonte: www.ReformedSermonArchives.com
Tradução: www.OEstandarteDeCristo.com

segunda-feira, 3 de fevereiro de 2014

A TRANSFIGURAÇÃO
Leia Lucas 9.28-36
O evento descrito nestes versículos, habitualmente chamado de “a transfiguração”, é um dos mais notáveis na história do ministério terreno de nosso Senhor. É uma passagem que sempre devemos ler com especial gratidão. Remove uma parte do véu que permanece sobre as coisas referentes ao mundo por vir e esclarece algumas das verdades mais profundas do cristianismo.
Primeiramente, esta passagem nos mostra algo da glória que Cristo terá em sua segunda vinda. Somos informados que “a aparência do seu rosto se transfigurou e suas vestes resplandeceram de brancura”; e os discípulos que estavam com Ele “viram a sua glória”.
Não devemos ter dúvidas de que esta maravilhosa visão aconteceu com o propósito de encorajar e fortalecer os discípulos de nosso Senhor. Eles tinham acabado de ouvir a respeito da crucificação e morte de seu Senhor, do negar a si mesmos e dos sofrimentos aos quais teriam de sujeitar-se, se desejassem ser salvos. Agora foram animados por meio de uma breve contemplação “da glória que os seguiria” (1Pe 1.11) e da recompensa que todos os fiéis servos de Cristo um dia receberiam. O Senhor lhes fizera ver o dia de sua própria fraqueza; agora estavam contemplando, por alguns minutos, uma amostra de sua glória futura.
Devemos nos fortalecer com o pensamento de que para todos os verdadeiros crentes encontram-se entesouradas coisas boas, que compensarão as aflições do tempo presente. Agora é o tempo de tomar a cruz e compartilhar da humilhação de nosso Senhor. A coroa, o reino e glória ainda estão por vir. No presente, Cristo e seu povo, assim como Davi, encontram-se na caverna de Adulão, desprezados e considerados insignificantes pelo mundo. Parece não haver beleza e formosura nEle e em sua obra. Mas vem a hora, e será em breve, quando Cristo exercerá seu grande poder, reinará e colocará os inimigos debaixo de seus pés. Então, a glória que, durante alguns minutos, foi vista apenas por três discípulos no monte da Transfiguração será contemplada por todo o mundo e não será mais ocultada por toda a eternidade.
Em segundo, esta passagem nos mostra a segurança de todos os verdadeiros crentes que partiram deste mundo. Quando nosso Senhor apareceu em glória, Moisés e Elias foram vistos em pé ao seu lado, conversando com Ele. Moisés morrera havia mais de quinze séculos. Elias fora levado ao céu em um redemoinho há mais do que novecentos anos antes deste acontecimento. No entanto, estes dois homens crentes foram vistos novamente, vivos e, não somente vivos, em glória.
Devemos nos consolar no bendito pensamento de que a ressurreição e a vida futura são realidades. Tudo não acaba quando morremos. Existe outro mundo além desta vida. Mas, acima de tudo, devemos nos fortalecer com o pensamento de que até que o dia amanheça e aconteça a ressurreição, o povo de Deus está seguro na companhia de Cristo. Muitas coisas a respeito da atual condição deles são profundamente misteriosas para nós. Em que lugar específico está a habitação deles? O que eles sabem a respeito das coisas que acontecem na terra? Estas são perguntas que não podemos responder. Mas para nós deve ser o bastante saber que Jesus está cuidando deles e os trará juntamente consigo no último dia. Aos seus discípulos Ele mostrou Elias e Moisés, no monte da Transfiguração, e nos mostrará, em sua segunda vinda, todos os que já morreram em Cristo. Nossos irmãos em Cristo estão sendo bem preservados; estão salvos e apenas nos antecederam.
Em terceiro, esta passagem nos mostra que os santos do Antigo Testamento que estão na glória se interessavam intensamente na morte expiatória de Cristo. Quando Moisés e Elias apareceram em glória ao lado de Cristo, no monte da Transfiguração, conversaram com Ele. E qual era o assunto da conversa? Não precisamos fazer suposições e imaginar coisas a respeito disto. “Falavam da sua partida, que ele estava para cumprir em Jerusalém.” Conheciam o significado daquela morte. Sabiam quantas coisas dependiam da morte de Cristo. Portanto, “falavam” a seu respeito.
É um grave erro supor que os crentes do Antigo Testamento nada sabiam no que se refere ao sacrifício que Cristo deveria oferecer pelos pecados dos homens. Sem dúvida, a luz que possuíam era menos nítida do que a nossa. Viam à distância e sem clareza coisas que vemos como se estivessem bem próximas aos nossos olhos. Porém não existe a menor evidência de que os crentes do Antigo Testamento olhavam para qualquer outra satisfação dos seus pecados, exceto aquela que Deus prometera realizar, ao enviar seu Messias. Desde Abel em diante todos os crentes do Antigo Testamento parecem ter descansado na promessa de um sacrifício e de um sangue de onipotente eficácia que ainda se manifestaria. Desde o começo do mundo, sempre existiu tão-somente um fundamento de esperança e paz para os pecadores — a morte de um poderoso Mediador entre Deus e os homens. Este fundamento é a verdade central de todo o cristianismo. Foi o assunto a respeito do qual Moisés e Elias estavam conversando, quando apareceram em glória. Falavam sobre a morte de Cristo.
Observemos que a morte de Cristo é o alicerce de toda a nossa confiança. Nada mais nos outorgará conforto na hora da morte e no Dia do Juízo. Nossas próprias obras são imperfeitas e defeituosas. Nossos pecados são mais numerosos do que os cabelos de nossa cabeça (SI 40.12). A morte por nossos pecados e a ressurreição de Cristo em favor de nossa justificação têm de ser a nossa única garantia, se desejamos ser salvos. Feliz é aquela pessoa que aprendeu a cessar suas obras e a se gloriar unicamente na cruz de Cristo! Se os crentes na glória veem na morte de Cristo tanta beleza, que sentem necessidade de conversar sobre ela, quanto mais deveriam fazê-lo os pecadores na terra.
Por último, esta passagem nos mostra a imensa distância que existe entre Cristo e todos os outros ensinadores que Deus outorgou à humanidade. Lucas nos conta que Pedro, “não sabendo… o que dizia”, propôs fazerem “três tendas”: uma seria para Jesus, outra, para Moisés, e outra, para Elias; como se os três merecessem a mesma honra. Mas esta proposta foi imediatamente censurada de maneira notável: “Veio uma voz, dizendo: Este é o meu Filho, o meu eleito; a ele ouvi”. Aquela era a voz de Deus, o Pai, reprovando e instruindo. Aquela voz proclamou aos ouvidos de Pedro que, embora Moisés e Elias fossem grandes, ali estava Alguém que era maior do que eles. Moisés e Elias eram apenas súditos, Jesus era o Filho do Rei. Eles eram apenas pequenas estrelas; Jesus era o Sol. Eram apenas testemunhas; Jesus era a própria verdade.
Estas solenes palavras do Pai devem sempre ecoar em nossos ouvidos e tornarem-se o conceito fundamental de nosso cristianismo. Honremos os ministros do evangelho por amor ao Senhor deles. Sigamos os seus ensinos até ao ponto em que eles seguem a Cristo. Entretanto, nosso principal objetivo deve ser ouvir a voz de Cristo e O seguir por onde quer que Ele vá. Outros podem ouvir a voz da igreja e se contentarem em dizer: “Escuto este ou aquele pastor”. Jamais nos sintamos satisfeitos, a menos que o Espírito Santo testifique em nosso coração que ouvimos a voz do próprio Cristo e somos discípulos dEle.
 
Fonte: J. C. Ryle, Meditações no Evangelho de Lucas (Editora Fiel), p. 151-153.